WHITE HELMETS: Channel 4, BBC, The Guardian – Arquitectos da guerra 'humanitária' - PARTE 4/4, por Vanessa Beeley
À beira do precipício
Um artigo do Sundance Film Festival descrevia 3 entradas sobre o tópico 'Síria' como "Três documentários sobre a devastação da Síria", mas como é óbvio não é feita nenhuma referência à devastação da Síria por grupos terroristas alimentados pelos EUA e Reino Unido, e que infestaram esta soberana nação graças ao financiamento, armamento, equipamento e apoio de 74 estados membros da ONU como os Estados do Golfo e Israel. Last Men in Aleppo alcançou o seu objectivo principal:
“Last Men in Aleppo acompanhou os White Helmets durante os últimos meses de bombardeados que acabaram com a existência dessa cidade, enquanto estes cumpriam a sua heróica tarefa de monitorizar os ceús em busca de bombardeiros russos e sírios, correndo rumo a edíficios acabados de colapsar usando camiões improvisados, e escavando os escombros de forma a retiraram os poucos sobreviventes e os muitos mortos. À noite pensam preocupados sobre a necessidade de retirar as suas famílias da Síria e sobre os seus familiares que já se encontram refugiados na Turquia e na Europa Ocidental. São algumas das pessoas mais incríveis que você jamais verá num ecrã de cinema.
Last Men in Aleppo omitiu por completo os crimes da Frente al-Nusra contra o povo sírio em Aleppo Oriental e no resto da Síria, optando por pura e simplesmente recusar-se a reconhecer a existência desta organização. Todas aquelas famílias esfomeadas, privadas de ajuda médica, torturadas, abusadas, violadas, presas e usadas como escudos humanos pela 5ª Brigada dessa organização terrorista que ocupou Aleppo Oriental foram removidas da consciência colectiva Ocidental. O público pode ir ao cinema, comer pipocas e maravilhar-se com o "heróico trabalho de resgate" dos White Helmets sem nunca chegar a dar-se conta da sua fidelidade a organizações terroristas que controlaram estas dizimadas zonas civis com um ideológico punho de ferro.
Last Men in Aleppo ofuscou também a existência do verdadeiro Syria Civil Defence que luta não apenas contra as consequências da guerra existente no seu país, mas também contra o terrorismo que a ataca, as sanções e as incapacitantes falhas de água, de electricidade e de equipamento. Boa parte do seu equipamento foi roubado por facções extremistas, facções das quais surgiram, posteriormente, aqueles que hoje dão pelo nome de White Helmets. Os genuínos Last Men in Aleppo [últimos homens em Aleppo] são os membros da Defesa Civil da SÍRIA [Syria Civil Defence], criada em 1963 na Síria (e não na Turquia), e que andam agora reconstruindo os seus centros depois de terroristas terem disparado mais de 10 morteiros por dia sobre as suas instalações, matando e mutilando membros do grupo.
Quando visitei estes verdadeiros socorristas a Janeiro de 2018, membros da organização contaram-me que snipers da Frente al-Nusra os atacavam no centro de Layramoun, no meio de áreas que estiveram ocupadas por terroristas durante quase cinco anos. Estes verdadeiros heróis nunca abandonaram o povo sírio e não são homenageados pelo Last Men in Aleppo. Last Men in Aleppo apenas faz homenagem a assassinos e bandidos.
Uma das ambulâncias da VERDADEIRA Defesa Civil da Síria em Layramoun, Aleppo Oriental, atingida a tiro e atacada por terroristas em Bani Zaid e em áreas circundantes. Janeiro de 2018 (fotografia de Vanessa Beeley)
Os VERDADEIROS 'últimos homens em Aleppo' são os deficientes mentais e outros deficientes que foram abusados e armados por facções terroristas em Aleppo Oriental, que sofreram lavagem cerebral para se tornarem terroristas-suicidas. Quem o afirma é o Dr. Bassem Hayak, director do Hospital Psiquiátrico de Ibn Khaldoun, que neste momento mais não pode fazer que reparar e restaurar as suas instalações, depois de uma série de ocupações terroristas e do assassíno do seu quadro de funcionários e pacientes.
Visitei este hospital durante a minha recente visita a Aleppo, entre Dezembro de 2017 e Janeiro de 2018. Por onde andavam os White Helmets quando estes civis sírios foram castigados e torturados em consequência da sua vulnerabilidade?
Um dos edifícios do Hospital Psiquiátrico de Ibn Khaldoun em Aleppo, Janeiro de 2018. (fotografia de Vanessa Beeley)
'Os últimos homens em Aleppo' não foram os White Helmets, esses partiram com a Frente al-Nusra nos autocarros verdes providenciados pelo governo sírio no seu esforço de evacuar todos os terroristas armados e respectivas famílias, a Dezembro de 2016. Os VERDADEIROS 'últimos homens em Aleppo' foram civis emagrecidos, traumatizados e desmoralizados pelo sofrimento que foram obrigados a aguentar durante 4 anos e meio. Um sofrimento agravado pelos White Helmets, e do qual os White Helmets tiraram proveito. Crianças que foram forçadas a assistir à crucificação em praça pública dos seus próprios familiares não vêem os White Helmets como seus salvadores, visto que estes trabalharam em parceria com os terroristas que cometeram estes hediondos crimes.
Os VERDADEIROS 'últimos homens em Aleppo' são esses civis que agora regressam aos lugares da sua anterior pacífica existência, entretanto destruida pelos bombardeamentos. Os White Helmets são os incendiários que pegaram fogo a essas vidas e que agora querem ser vistos como bombeiros, visão esta reforçada pelos media corporativos Ocidentais.
Os VERDADEIROS 'últimos homens (e mulheres) em Aleppo' são numerosos, mas não pertencem aos White Helmets.
Os prémios e nomeações de Óscares podem dar um enquandramento de respeitabilidade a esses terroristas e carrascos por entre a elite governante, mas nunca apagarão os seus crimes aos olhos do povo sírio e, hoje em dia, a história não é escrita pelos mais poderosos, hoje ela é escrita por aqueles cujas vozes já não podem ser silenciadas.
A propaganda dos White Helmets seduziu seres humanos com genuína reacção humanitária que foi explorada por esta "peça central" da propaganda manipuladora de percepções. A estória contada pelos media dos White Helmets e por agência de relações públicas elevaram esta organização apoiante da al-Qaeda ao estatuto de celebridade de culto. O mundo inteiro apaixonou-se com aquilo que mais o deveria ter chocado, enquanto o povo sírio descobre as suas vozes asfixiadas por um Hollywoodesco glamour e por uma transformacional máquina de comunicação em massa.
Um novo mundo foi criado, no qual é possível à 'Defesa Civil' da al-Qaeda ser honrada no palco da Carnegie Hall, um novo mundo no qual os arquitectos da guerra são enunciados enquanto Embaixadores da Paz. Este mundo novo não seria possível sem o trabalho da BBC, do Channel 4 e do The Guardian, os quais são o núcleo central da rede de propaganda que tem manipulado a aterradora verdade sobre a guerra suja infligida à Síria.
On behalf of the board of directors of @PianosForPeace, I am very excited to honor @RaedAlSaleh3 and the heroes of #TheWhiteHelmets with the 2018 Ambassador for Peace Award @CarnegieHall this Sat Feb 3 in #NewYork. Join our #SyrianSymphony for #Peace 👉https://t.co/HQ94IIX9ug pic.twitter.com/FKu1xdJGcz
— Malek Jandali (@MalekJandali) January 30, 2018
Durante o seu impressionante discurso de aceitação do Prémio Nobel de 2005, Harold Pinter leu um poema seu, intitulado "Morte":
Onde foi encontrado o cadáver?
Quem encontrou o cadáver?
Estava morto o cadáver quando encontrado?
Como foi encontrado o cadáver?
Quem era o cadáver?
Quem era o pai ou a filha ou o irmão
Ou o tio ou a irmã ou a mãe ou o filho
Do morto e abandonado corpo?
Estava o corpo morto quando abandonado?
Estava o cadáver abandonado?
Abandonado por quem o cadáver?
Estava o cadáver nu ou com roupa de viagem?
O que vos fez declarar morto esse cadáver?
Esse cadáver, declararam vós a sua morte?
Quão bem conheciam vós o cadáver?
Como sabiam vós que o corpo se encontrava morto?
Lavaram o cadáver?
Fecharam-lhe ambos os olhos?
Enterram o cadáver?
Deixaram-no abandonado?
Beijaram o cadáver?
Quando olhamos no espelho acreditamos ser exacta a imagem que nos faz frente. Movamos um milímetro e a imagem mudará. Na realidade estamos vendo uma infinita variedade de reflexos. Por vezes um escritor vê-se obrigado a esmagar o espelho, pois é no outro lado do espelho que se encontra a verdade olhando-nos fixamente nos olhos.
Vanessa Beeley, 01.02.2018
Leia a 1ª parte aqui
Leia a 2ª parte aqui
Leia a 3ª parte aqui
traduzido para o português por Luís Garcia
versão original em inglês: WHITE HELMETS: Channel 4, BBC, The Guardian – Architects of ‘Humanitarian’ War