WHITE HELMETS: Channel 4, BBC, The Guardian – Arquitectos da guerra 'humanitária' - PARTE 1/4, por Vanessa Beeley
"Dado que cada vez menos companhias controlam os nossos media, por que razão os documentários são mais importante do que nunca". Foi este o título de um artigo do Huffington Post escrito em 2014 por Morgan Spurlock, um realizador de documentários, produtor e guionista. Spurlock informa-nos que "filmes são coisas incríveis. São coisas mágicas. Janelas para mundos que não venhamos talvez nunca a ver, ligados a nós em níveis emocionais tão profundos que ficaremos para sempre afectados por eles e por suas mensagens. Filmes podem não só entreter mas também mudar a percepção pública de formas que nunca pensámos serem possíveis".
Como previsto, uma grande quantidade de documentários inundou o mercado mediático. A grande maioria tem transmitido uma perspectiva muito unilateral do conflito na Síria e, quase sempre, apoiado a narrativa de mudança de regimes da coligação norte-americana, a qual tem feito perdurar o seu projecto de desestabilização da região pelos últimos sete anos.Serão estes documentários mais precisos do que os media corporativos que são supostos substituir?
Por exemplo, no dia 5 de Abril de 2017 a National Geographic lançou um teaser do seu filme Hell on Earth: The Fall Of Syria And The Rise of ISIS [Inferno na terra - A queda da Síria e a ascensão do ISIS], realizado por Sebastian Junger e produzido por Nick Quested. Este teaser foi prematuramente posto em exibição de forma a coincidir com o alegado e controvérsio ataque químico de Khan Shaykhun na Síria (ocorrido no dia 4 de Abril). No entanto, tal como Paul Larudee revelou, o teaser do filme apresentava uma fraudulenta deturpação da guerra na Síria:
“A cena [de abertura] mostra um míssil destruindo um prédio residencial com uma estrondosa explosão. Sobrepostas sobre as imagens encontram-se as palavras ALEPPO, SÍRIA... (...) A fonte original das imagens remontam a 2014 e são de uma operação israelita que tirou as vidas a mais de 2200 palestinianos nesse ano".
"Mudar a percepção pública" é, sem dúvida, uma das funções dos modernos criadores de documentários, os quais, frequentemente, obtêm financiamento dos mesmos fundos de investimento mediático da Time Warner, da AOL ou da Walt Disney, de forma a poderem produzir filmes cambiadores de percepção que sejam comoventes e emocionantes para um público ocidental cujas opiniões em matéria de política externa são, sem dúvida, altamente influenciadas por estes ostensivamente "factuais" documentários.
Publicidade do Last Men in Aleppo.
Durante os 7 anos deste projecto para a Síria criado, financiado e armado pela coligação norte-americana, muito poucas organizações foram tão celebradas por políticos, por meios de comunicação e por Hollywood como têm sido os White Helmets, uma organização financiada por estados-membros da NATO.
O Óscar do ano passado entregue a um documentário da Netflix sobre os White Helmets é seguido, em 2018, pela nomeação de Last Men in Aleppo, o mais recente, resplandecente e emocional vídeo de promoção onde aparecem os supostos "socorristas" fazendo aquilo que melhor sabem fazer: trepar escombros, torcer por terroristas e contemplar no céu imaginários helicópteros.
A função destes filmes é a de assegurar que os White Helmets afiliados à al-Qaeda surjam dos escombros cheirando a rosas, nas zonas da Síria ocupadas por grupos terroristas e extremistas controlados pela Frente al-Nusra (al-Qaeda na Síria).
Tirado do site da Syria Campaign, mais uma das suas "conquistas" na sua campanha a longo prazo para "mudar a história da Síria"
Syria Campaign é, na realidade, a agência de relações públicas dos White Helmets. financiado por Ayman Asfari, um magnata sírio radicado no Reino Unido que, acidentalmente, financiou também o governo conservador de Theresa May e que está sobre investigação do Serious Fraud Office britânico, depois de já ter sido punido em Itália por inside trading. Sem margens para dúvida, Auman Asfari pode ser descrito como parte interessada no resultado do conflito sírio, com ambições políticas abertamente declaradas para quando for assegurada a "mudança de regime" apoiada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido. Entretanto, os seus planos têm sido frustrados por uma çaica resistência síria com o apoio de seus aliados regionais e geopolíticos.
De acordo com uma das muitas ofertas de emprego que proprõe, o Syria Campaign tem concentrado os seus esforços propagandistas na organização dos White Helmets (sublinhado nosso):
- Criou filmes premiados que foram vistos por dezenas de milhões de pessoas e exibidos na Casa Branca.
- Criaram no mundo inteiro milhares de estórias mediáticas sobre a Síria.
- Obtiveram dezenas de milhares de dólares em doações graças à suas direccionadas campanhas
- Colocaram no topo da agenda política pontos-chave acerca do conflito
- Recolheram milhões de dólares para apoio directo aos heróicos socorristas sírios
- Construiram uma comunidade de mais de 500.000 pessoas no mundo inteiro que tomam iniciativas de solidariedade para com os heróis sírios.
Quem defende de forma condicional os White Helmets?
1. The Guardian
“A bravura dos White Helmets na Síria é algo indiscutível” (Charlie Phillips, Realizador de documentários para o The Guardian)
Olivia Solon, uma inexperiente jornalista do The Guardian residente em San Francisco, foi escolhida para escrever um artigo de ataque a todos aqueles que têm ido à Síria para expor o papel dos White Helmets enquanto organização associada à al-Qaeda em zonas ocupadas por terroristas, as quais têm vindo a diminuir na Síria à medida que o Exército Árabe Sírio e seus aliados avançam rumo a uma total e final vitória militar contra o caro e falhado projecto neocolonialista dos EUA, do Reino Unido, da União Europeia, da Turquia e das Monarquias do Golfo.
A flagrante falta de conhecimento de Solon e o facto de depender de declarações daqueles que fazem parte da estrutura dos White Helemts, demonstraram bem até que ponto o The Guardian faz jus à sua alcunha de Cérbero da política de Submundo do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido para Médio-Oriente.
Monbiot gushed over Solon's article as if it was some groundbreaking investigative journalism. It was no more than words from those who support the White Helmets & regime change. Whilst throwing mud at anyone who dared counter their view. Either Monbiot has issues or is a fraud.
— Chevron Road (@ChevronRoad) January 8, 2018
(Rab G.P.Eadie: Então, ele agora admite fazer parte da máquina de propaganda estatal? ... o seu pungente ataque contra @VanessaBeeley e @EvaKBartlett sobre o tema da Síria foi simplesmente surpreendente)
(Chevron Road: Monbiot gabou o artigo de Solon como se se tratasse de um inovador jornalismo de investigação. Mas mais não foi que a repetição das palavras empregues por aqueles que apoiam os White Helmets e as mudanças de regime. Enquanto atira lama à cara de quem ousar contradizer a sua perspectiva. Monbiot, ou têm problemas graves, ou é uma fraude.)
Sempre que o The Guardian deveria ser atacado por um público exasperado, em consequência da flagrante inaltação que fazem dos White Helmets, o que acontece é a eliminação de comentários ou mesmo a remoção da caixa de comentários. Os White Helmets, hoje em dia, são "intocáveis". Os media corporativos actuam como seus guardiões, defendendo esta farsa de possíveis críticas. O The Guardian é um dos principais promotores do neocon conceito de "guerra humanitária", e que melhor organização para dirigir este conceito senão uma ONG "humanitária" controlada pelos EUA e o Reino Unido [ou seja, os White Helmets]?
Infografia criada pelo Professor Tim Anderson ,do Hands Off Syria.
2. A BBC
A BBC tem sido outro guerreiro do proteccionismo dado aos White Helmets que raramente, ou mesmo nunca, se desvia das suas respostas pré-programadas quando é pressionada a dar explicações sobre a sua tendenciosa posição neste assunto. A BBC, sobre o tema White Helmets, nunca analisou o outro lado da moeda, por ser menos atractivo, nem tampouco prestou atenção às acusações contra a organização White Helmets disferidas pelo povo sírio libertado da ocupação da Frente al-Nusra / White Helmets em Aleppo Oriental.
Talvez quando Guta tiver finalmente sido libertada, e os White Helmets (que vivem lado a lado com as facções terroristas que ocupam os subúrbios orientais de Damasco) tenham partido em autocarros verdes, uma outra fenda se venha a abrir na carapaça dos White Helmets. E a BBC, será que o noticiará?
Recentemente a BBC Panorama passou uma "revolucionária" reportagem sobre o possível financionamento de terrorismo na Síria por parte do ministério dos negócios estrangeiros britânico, através do ‘Free Syrian Police’. Mas mentiram por omissão. E não conseguiram explicar o porquê da ‘Free Syrian Police’ ter as suas sedes mesmo ao lado das do White Helmets, onde quer que estejam presentes, assim como não conseguiram explicar por que razão aqueles sistematicamente são vizinhos ou inclusive partilham edifícios com a Frente al-Nusra e com centros militares. O 21st Century Wire previu com precisão o que a BBC omitiria na sua reportagem, e os White Helmets estavam no topo da lista dos não mencionáveis.
Artigo do 21st Century Wire: White Helmets & ‘Local Councils’ – Is the UK FCO Financing Terrorism in Syria with Taxpayer Funds?
3. Channel 4 (Reino Unido)
(Uma mensagem dos White Helmets da Síria para os bombeiros britânicos)
O Channel 4 mostrou mensagens dos White Helmets de apoio aos bombeiros da tragédia da Torre Grenfell, apesar do facto dos White Helmets terem sido dias antes filmados caminhando por cima de cadáveres desmembrados de prisioneiros de guerra do Exército Árabe Sírio.
Agora chegamos ao líder dos promotores dos White Helmets e das suas narrativas vindas de enclaves ocupados por terroristas em várias partes da Síria, particularmente em Aleppo Oriental. O Channel 4 especializou-se na tarefa de torcer por esta simulação de ONG humanitária, mostrando-os, imagine-se, ao lado de terroristas descritos como "rebeldes" no seu infame artigo "Aleppo, Up Close with the Rebels", o qual entretanto foi removido do seu site depois de muitos espectadores os terem alertado para o facto de terem estado a filmar o grupo terrorista Nour Al Din Zenki (conhecido por ter decapitado Abdullah Issa, de 12 anos de idade) e por terem branqueado os perversos ataques atentados suicidas deste grupo contra zonas civis de Aleppo Ocidental.
CONTINUA
Vanessa Beeley, 01.02.2018
Leia a 2ª parte aqui
Leia a 3ª parte aqui
Leia a 4ª parte aqui
traduzido para o português por Luís Garcia
versão original em inglês: WHITE HELMETS: Channel 4, BBC, The Guardian – Architects of ‘Humanitarian’ War