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Vivendo em Doğubeyazıt - II, por Luís Garcia

17.04.17 | Luís Garcia
 

 

DOS BALCÃS AO CÁUCASO – EPISÓDIO 20 

Vivendo em Doğubeyazıt - II.jpg

 

bw  Luís Garcia VIAGENS 

Estou bem, aonde não estou, porque eu só quero ir, aonde eu não vou, porque eu só estou bem, aonde não estou, porque eu só quero ir, aonde eu não vou, porque eu só estou bem... aonde não estou. (Estou Além, António Variações)

 

27.06.2014

Na segunda manhã em Doğubeyazıt voltámos a tomar o pequeno-almoço no hotel Ararat, de graça claro está, oferecido desta vez pelo filho do dono do estabelecimento. De barriga cheia fomos dar uma volta pela cidade com Mehmet Arık que conhece toda a gente nesta cidade de 80.000 habitantes em que, segundo ele, metade da população é da sua família. Exagera, sim, mas não fica longe da verdade! Ahaha! É quase claustrofóbico, “a raposa”, alcunha pela qual Mehmet é conhecido na cidade, cumprimenta ou é cumprimentado por alguém a cada 10 segundos. Que desafio tentar atravessar uma rua do início ao fim na sua companhia! Quis nos apresentar ao presidente da câmara da cidade e inclusive levou-nos à entrada do gabinete mas, com tanta gente à espera para tratar de assuntos importantes (imaginámos nós), pedimos ao raposa para deixar a visita para mais tarde.

 

 

 

Pelas ruas de Doğubeyazıt vêem-se muitas vítimas do conflito internacional infligido à Síria, sobretudo mulheres e crianças desse país pedindo esmola, sujos, vestidos com farrapos, com caras de desespero e olhares vazios. Também se encontram parte daqueles que provocam esta miséria: mercenários afegãos que entram na Turquia pela fronteira aqui ao lado e que passam uns dias na cidade antes de rumar a Istambul, onde recebem dinheiro e ordem de marcha para a base militar turca na qual serão treinados para provocar o terror na Síria disfarçados de “rebeldes” e “freedom fighters”. Os turcos, povo bom mas muito controlado pela propaganda nacional militarista e pela deificação de Ata Türk, parecem não fazer a mínima ideia que o seu país, a mando dos EUA, é o principal campo de treinos do “terrorismo islâmico” que tem transformado a Síria num inferno. Pelo contrário, os curdos da Turquia sabem-no bem e o assunto é tema recorrente nas conversas de café.

 

De volta à agência de Mehmet fomos encontrar mais um japonês de Osaka, portanto o segundo em 2 dias proveniente dessa cidade. Não era viajante, daqueles que Mehmet ajuda, mas sim turista com dinheiro, a quem “a raposa” conseguiu vender um pack de escalada ao monte Ararat!

 

Quanto a viajantes, Mehmet esperava ajudar e albergar 2 casais franceses hoje, mas não se conseguia entender com eles por telefone. Passou-me o telemóvel e acabei por ser eu a dar as indicações e marcar o encontro com eles junto à agência. Enquanto esperava pelos 4 aventureiros, entreti-me a escrever estes no seu escritório…  (blog de 2 dos franceses: chafortwo.fr)

 

A meio da tarde, Mehmet preparou-nos uma pratada de peixe, seguida de melancia, e uma barrigada de riso com as mentiras e partidas que Mehmet infligiu ao japonês seu cliente. Os japoneses tem fama de ser muito ingénuos e de não perceberem o humor ocidental. Este foi o exemplo perfeito, acreditando inclusive que Mehmet seria um importante Pacha, apenas por ter visto uma foto de Mehmet mascarado! Ah, sim, que barrigada de riso, e o raio do rapaz, nem connosco a desmentir as trapalhadas de Mehmet, deixava de acreditar nelas!

 

Depois da petiscada e do riso, decidimos dar uma volta pela cidade, eu e Claire. Como era de esperar, bebemos chás um pouco por todo lado, oferecidos pelos locais, por entre conversas de política e história, encontros com crianças curiosas e até numa loja onde fomos comprar gelados. Também tivemos a sorte de receber frutas e legumes num mercado de rua no qual fizemos amizade com um grupo de homens que a partir daí passámos a encontrar diariamente no centro da cidade, à noite, para beber os chás (à borla, sim) e trocar umas ideias em turco rudimentar.

 

 

 

A noite também foi interessante. Começámos por ajudar Armağan Arık, filho da raposa e nosso amigo, a instalar o windows num PC. Para nos agradecer, convidou-nos a sair com ele e levou-nos até à Pasajı, uma espécie de shopping ao estilo local. Sem se conseguir controlar, Armağan mimou-nos com vários presentes, umas canetas da Índia, pulseiras e um saco de bombons. Só não foi mais porque não deixámos! Ah, o louco! De volta a casa, ou melhor, à agência turística de Mehmet, entretemo-nos com Armağan e um amigo numa aula informal de língua turca muito divertida.

 

Para acabar bem o dia, Claire e eu, com fome, saímos à rua para “dar o golpe”. Como Mehmet não estava connosco ninguém havia preparado jantar, de forma que tivemos de ir desencantar “matéria orgânica” algures nesta cidade em que os preços da comida de restaurante são muito elevados devido à constante passagem de viajantes rumo ao monte Ararat. Decididos a não gastar muito dinheiro, para manter a nossa média diária em Doğubeyazıt, pegámos em apenas 7 liras (2,40€), entrámos num restaurante e perguntámos o que poderíamos comprar com aquele dinheiro. Primeiro nada (de pratos servidos no restaurante) afirmou o empregado, antes de se lembrar que tinha comida que sobrara do dia, guardada em caixas de plástico para poderem lavar as panelas. Pelas 7 liras queria nos vender uma parte de uma dessas caixas, mas Claire insistiu e o senhor acabou por dar uma inteira. Dentro tinha uma monte de carne de galinha guisada com legumes e muito picante. Delicioso festim! E era tanta a comida que durou para 2 dias! Hehe!

 

Álbuns de fotografia

Luís Garcia, 17.04.2017, Ribamar, Portugal

 

Se quiser ler mais estórias desta viajem clique em:

Dos Balcãs ao Cáucaso

 

 

 
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