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Pensamentos Nómadas

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Viva Trump! (1/3), por Luís Garcia

13.11.16 | Luís Garcia
 

 

Viva Trump 1!

 

Luís GarciaPOLITICASOCIEDADE 

Tantos “ismos”

Só para chatear, quero começar por mandar umas piadas aos bem-pensantes, aos progressistas, aos new agers e a toda essa gente super à frente que, em total ignorância delirante, acha que Obama foi a cool president. Temem um Trump homofóbico ? E onde andaram vocês todos estes anos durante os quais os rebeldes sírios não-sírios criados pelo governo de Obama e Hillary Clinton se divertiam a assassinar cidadãos sírios homossexuais atirando-os do cimo de prédios? Receiam um Trump misógino? Então e o que têm a dizer das jaulas com mulheres sírias usadas como escudos humanos pelos falsos rebeldes sírios terroristas criados por ordens directas de Hillary Clinton? Ou, o que dizer dos mercados de noivas mulheres e crianças (sírias) vendidas como gado pelos falsos rebeldes (patrocinados por Obama e Clinton) a ricalhaços da nobreza saudita (amigos e patrocinadores de Clinton) no leste da Turquia? E que dizem das estreitas relações entre a família Clinton e o mais bárbaro, homofóbico e misógino regime à face da terra, o Reino da Arábia Saudita? É que esses bárbaros terroristas são doadores da Fundação Clinton e foram patrocinadores da campanha de Clinton. E, como se soube há dias graças à Wikileaks e seus emails gamados a Hillary Clinton, Hillary comprovadamente sabia que O Governo Saudita (e não uns sauditas quaisquer) financiavam a organização terrorista ISIS, perpetradora dos mais horríveis crimes contra homossexuais, mulheres e restante humanidade!

 

E, quanto aos preocupados com o racismo de Trump... por favor, brincamos? Trump racista? Não é Trump o racista, é a sociedade norte-americana que é profundamente racista e chauvinista! O pior que poderão dizer de Trump é que, como todo o bom político, disse na sua campanha muita coisa não por pensar assim ou concordar necessariamente com o que disse, mas sim por saber que essas palavras e esses discursos recolheriam os votos de determinadas camadas da sociedade norte-americana. Eu assisti a comícios de Trump nos quais a plateia adormecia (literalmente) com os seus discursos sensatos, vendo-se Trump obrigado a gritar enormidades fora de contexto do género “Who will pay the wall?”, para que essa plateia despertasse e gritasse “The Mexicans!”.  E não, não estou a desculpar Trump por todos os horrores que disse, estou a afirmar que Trump recolhe pragmaticamente votos de massas ignorantes preconceituosas empobrecidas que temem o futuro. E por que razão pessoas nestas circunstâncias viram racistas? Ora, simples, dêem uma olhada na história dos EUA e constatem que o establishment bipartidário leva mais de 200 anos usando ostensiva e deliberadamente a instituição Racismo como instrumento de governação, instrumento de destruição de lutas sociais e proletárias, instrumento de apaziguamento de massas descontentes, desempregadas ou esfomeadas... em resumo, leva mais de 200 anos usando a sua invenção Racismo como instrumento de manutenção do status quo na sua maravilhosa república baseada em desigualdade social e económica e na exploração do ser humano pelo ser humano. Portanto, norte-americanos e pseudo-norte-americanos, leiam mais história norte-americana e critiquem menos Trump por se atrever a ser norte-americano!

 

Sistema eleitoral

Parece que o povo bem-pensante, moderno e progressista super bem (mal) informado através de medias bem pensantes, modernos e progressistas, imagine-se, acordou para a vida e descobriu por fim que o sistema eleitoral da maior democracia do mundo é pouco ou nada democrático. Ora que chatice! Não é o tema deste artigo, pesquise quem estiver interessado no assunto, mas é necessário dizer que o sistema eleitoral norte-americano foi, como é óbvio, criado pela plutocracia milionária dos founding fathers a pensar na necessidade (deles) de reservar o controlo do poder político às elites milionárias e minimizar as hipóteses do poder político poder ser alcançado por alguém fora dos seus círculos.

 

Ora, não vou dizer que o Trump é um pé descalço sem-abrigo, é mais que sabido que é bilionário. Falemos do seus votantes e não da sua riqueza pessoal. O sistema de eleição indirecta com recurso a delegados foi pensado, como digo acima, para proteger o establishment, tem funcionado muito bem e o povo norte-americano por norma não se mostra muito preocupado com as suas ostensivas deficiências. Lembremo-nos, por exemplo, que quando George W. Bush ganhou as eleições de 2000 com mais delegados mas com menos votos populares que o seu opositor Al Gore, o povo dos EUA no geral não viu problema nenhum nisso. E Bush filho não foi sequer o primeiro mas sim o terceiro candidato na história das eleições norte-americanas a obter a presidência com menos votos populares que o concorrente!  Agora que o mesmo aconteceu pela quarta-vez, com Trump, o povo bem-pensante e progressista revolta-se partindo tudo. E dá vontade de rir, sim, dá, vendo essa gente nas ruas protestando com cartazes e cânticos com os quais defendem que o sistema eleitoral é injusto devido a Trump ter vencido com menos votos e que portanto não aceitam os resultados "ilegítimos" ou "ilegais". Que moca! E exigem até impeachment! Ora bolas! A mim, tal reacção, provoca-me nojo e repulsa, pois esta gente demonstra não a sua insatisfação com o arcaico e deficiente sistema eleitoral, não! Esta gente demonstra pertencer a uma geração (ou duas) de mimadinhos sonsos muito mal-habituados que não aceitam perder (Clinton ganhou o voto dos 18 aos 39 anos, Trump ganhou dos 40 anos para cima) e que fazem birra se o mundo não os trata como seres excepcionalmente únicos e especiais (que não são), à moda que lhe faziam seus pais quando eram crianças e adolescentes. Temos pena caros egocêntricos narcisistas. Ou não. Esta gente queixa-se de Trump ter recebido menos 500.000 votos populares que Hillary e que portanto a legítima vencedora é Hillary! Não, não é, pelo menos enquanto mantiverem este sistema. Em 2000 Bush também teve 500.000 votos a menos que Al Gore, teria sido o momento oportuno para os amantes da democracia exigirem um referendo com o qual haveriam tido a oportunidade de eleger um sistema eleitoral mais directo e mais justo, evitando que o voto popular maioritário viesse a ser de novo derrotado pela sistema colegial! Mas não, nada foi feito e, portanto, em 2016 Trump ganhou não pela injustiça do sistema eleitoral, mas sim pela inacção das massas eleitorais embrutecidas. Ah, tanto a aprender com o povo venezuelano cujo primeiro passo para a criação de um verdadeiro estado social foi o de referendar uma nova constituição!

 

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Mas voltemos, por uma última vez, ao sistema eleitoral. Sempre deu e dá muito jeito ao establishment poder regular o sentido dos resultados eleitorais investindo na manipulação da opinião pública dos 2 ou 3 estados mais populosos, logo com mais delegados, logo de elevado peso sobre a escolha final. Dá muito jeito saber que se a sua escolha ganhar em 3 estados cujos delegados somados totalizam um 1/3 dos delegados necessários para a vitória nas eleições, calma e comodamente poderão participar na manipulação dessas eleições. Quando digo manipular digo gastar astronómicas quantias de dinheiro em campanhas nesses estados. Ou, quem sabe, hehe, contar mal contados os votos do povo como ocorreu na Florida em 2000. Etc. E assim tem-se um sistema eleitoral injusto aparentemente imbatível que tem funcionado na perfeição ao longo da história. Parabéns!

 

Pena é que esse sistema e sua lógica de silenciamento de vozes descontentes (graças ao facto de que quem ganha mesmo apenas por maioria simples fica com todos os delegados de um determinado estado) não é infalível e possa acabar por virar-se contra quem o establishment escolheu como candidato preferido. Explico-me: o establishment leva pelo menos 100 anos ensinando as suas massas fiéis a serem ignorantes, racistas e preconceituosas. Ora uma dia aconteceu que, devido à avareza extrema do establishment, essas massas embrutecidas, na maior partes dos estados dos EUA, se tornaram demasiado pobres e desesperadas em consequência das decisões de desinvestimento, de desindustrialização e de deslocalização para países mais pobres realizadas pelos seus mestres do establishment. E nesse dia, a maior parte dos estados escolheram Trump.

 

Califórnia55 delegados – Clinton (61%, 1.500.000 votos a mais que Trump)

Texas39 delegados – Trump (43%, 800.000 votos a mais que Clinton)

Nova Iorque29 delegados – Clinton (58%, 1.500.000 votos a mais que Trump)

Florida29 delegados – Trump (48%, 120.000 votos a mais que Clinton)

 

Nem que a candidata do establishment tivesse tido 99,9% dos votos dos estados chave ricos (e portanto uns bons milhões de votos a mais que Trump na contagem do voto popular total), Trump ganharia sempre de forma estrondosa, como o fez, obtendo o apoio de 60% dos estados.  A máquina de Clinton contava fortemente com o tampão Califórnia-Nova-Iorque-Florida para assegurar de uma assentada 113 delegados. Como esperado Clinton ganhou com grande diferenças na Califórnia e Nova Iorque, e perdeu de forma inesperada na Florida. Mas, façam as contas, mesmo que Clinton tivesse ficado com os delegados da Florida, Trump seria na mesma presidente. Clinton, no entanto, obteve a maioria do voto popular (ver imagem mais acima) graças aos 3 milhões de votos que teve a mais que Trump só nesses 2 estados ricos progressistas bem-pensantes homófilos-filóginos-amigos-da-natureza politicamente correctos super cool. Seria justo que, com a contagem do voto popular total, Clinton ganhasse a presidência de um país do tamanho de um continente, com 50 estados, estados esses maioritariamente no caminho do empobrecimento e desindustrialização, estados que na sua maioria elegeram Trump (veja-se o mapa mais acima), porque os 2 estados riquinhos bem-pensantes escolheram de forma esmagadora Clinton? Deveria se respeitar o voto popular total que deu mais 500.000 a Clinton que a Trump, ou respeitar o voto por estados na sua maioria descontentes com a desigualdade económica criada e decidida pelas elites dos estados ricos minoritários? Boa questão, de difícil resposta, digo eu...

 

 

contínua...

 

Luís Garcia, 13 de Novembro de 2016, Chengdu, China

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