USA TERROR - Congo 1961, por Luís Garcia
Patrice Émery Lumumba nasceu a 2 de Julho de 1925 e morreu a 17 de Janeiro de 1961 assassinado. Em 1959 havia sido preso por supostamente incitar distúrbios anti-coloniais. Apesar de preso, o seu partido (MNC, Movimento Nacional Congolês) ganhou de forma estrondosa as eleições locais no Congo e na Bélgica começava a Conferência de Bruxelas onde se iria negociar a futura independência do Congo. Após pressões várias Lumumba acabou mesmo por ser libertado e autorizado a participar na Conferência de Bruxelas. Em Maio de 1960 organizaram-se as primeiras eleições democráticas no país que passaria a ser oficialmente independente a 30 de Junho de 1960. O MNC ganhou as eleições, Lumumba tornou-se no primeiro primeiro-ministro e Joseph Kasa-Vubu o primeiro presidente democraticamente eleitos do Congo.
Descontentes por ver riquezas naturais africanas cair nas mãos de africanos (ah, esses bandidos!) os EUA e os seus aliados entram em acção. Com a desculpa de ir "proteger os interesses belgas na região" a Bélgica enviou 10000 soldados para a região congolesa de Katanga onde se situava a empresa mineira belga Union minière du Haut Katanga. À Bélgica, pais membro da NATO, foi oferecido apoio dos aliados, nomeadamente pela Alemanha que lhes deu acesso a bases militares e aos EUA que lhe forneceram treino e equipamento militar que tornaram possível o envio de aviões, o transporte de 10000 tropas em tempo recorde e o bombardeamento do estuário do rio Congo com navios de guerra.
Na realidade essas tropas belgas vinham para apoiar as "ambições" secessionistas da região de Katanga liderada por Moise Tshombe, um pião ocidental cuja principal tarefa foi perpetuar o controlo das riquezas minerais congolesas por parte do capitalismo ocidental branco. O recém eleito presidente Lumumba reagiu pedindo às Nações Unidas que o ajudassem a parar a agressão estrangeira no Congo. Como é óbvio a ONU, essa agência submissa da política externa norte-americana, assobiou oficialmente para o lado. Compreendendo por fim que interesses jogavam contra si e contra o seu país, Lumumba tomou a arriscada decisão de em plena Guerra Fria pedir ajuda à URSS. Só então a ONU reagiu e enviou os seus primeiros capacetes azuis, não para parar agressão da NATO ao Congo, mas para maquievelicamente instalar uma zona tampão em Katanga entre as parte beligerantes, primeiro passo para uma hipotética independência de Katanga (ao estilo do que fizeram com o Kosovo roubado à Sérvia, igualmente rico em recursos minerais). De notar que a NATO fazia parte das forças tampão "de paz" e das forças de invasão em Katanga, muito conveniente.
Entretanto em Léopoldville desencadeia-se um golpe de estado orquestrado pela CIA e executado com a ajuda desta. Mobutu Sese Seko (que ficou para história como um dos mais bárbaros ditadores africanos) chega ao poder através deste golpe. Nas semanas seguintes Lumumba e outros membros do governo democraticamente eleito tentam várias vezes se reorganizarem num governo paralelo na clandestinidade. Fracassaram, a 17 de Janeiro de 1961 Patrice Lumumba e outros dois políticos, Maurice Mpolo e Joseph Okito, são capturados e levados até à região de Katanga onde são executados pelas forças militares locais. Os EUA, a Bélgica e os seus aliados ocidentais tinham salvo as "suas" riquezas minerais africanas e inauguravam uma nova era de terror e miséria no Congo de Mobutu.
Em Fevereiro de 2002 o governo belga pediu oficialmente desculpa ao povo congolês e admitiu "responsabilidade moral" e uma "irrefutável parte de responsabilidade nos eventos que levaram à morte de Lumumba". Em 2010, numa carta enviada à London Review of Books, Davie Lea afirma que Daphen Park (antigo espião da inglesa MI6) lhe confessou ter sido ele o organizador do assassinato de Lumumba. A 21 de Junho de 2007 foram desclassificados documentos secretos da CIA que indicam ter sido esta agência a organizadora do assassinato. O mais certo é ter sido um trabalho em conjunto de ingleses, norte-americanos e belgas, faz todo o sentido.
Link para o documento desclassificado da CIA: Lumumba Assassination
Luís Garcia, Ribamar, Portugal , 01.05.2013