E que tal se os "verificadores de factos" e seus apologistas examinassem as razões pelas quais os White Helmets reciclaram uma imagem que alegam mostrar vítimas de "ataques aéreos russos" depois de já terem utlizado a mesma imagem numa data anterior ao início dos bombardeamentos russos contra o ISIS na Síria.
A cartada "verificadores de factos" do Channel 4
No artigo do The Guardian em questão, o autor começa por fazer referência a uma peça de difamação da Channel 4 sobre mim que não tinha nada a ver com o tópico referido (o de saber se o grupo teria ou não ligações com a al-Qaeda), e que tinha sido publicada um ano antes com o único objectivo de pegar palavras minhas fora de contexto para me desacreditar. Este tipo de argumentos non sequitur são comummente utilizados por aqueles que não conseguem corroborar as suas afirmações com factos e que preferem, portanto, enganar e fugir ao assunto.
Tivesse o The Guardian tido honestas intenções no artigo sobre o White Helmets, e talvez tivessem acacado por efectivamente investigar os inúmeros membros dos White Helmets com ligações à al-Qaeda e outros grupos extremistas. Aqui está (apenas) um exemplo demostrando a lealdade de mais de 60 membros dos White Helmets à al-Qaeda e outras organizações terroristas.
Quanto à calúnia do Channel 4, aquela a que o artigo do The Guardian també faz referência, também ela apareceu depois da minha intervenção na conferência de Dezembro de 2016 (de mais de 50 minutos, com um período para perguntas), com outras três pessoas, entre elas um advogado e o director do US Peace Council, numa sala de imprensa da ONU.
Nessa conferência falámos de muitas questões importantes, entre elas: a ilegalidade desta guerra contra a Síria; a necessidade de levantar as devastadoras sanções contra Síria; a declaração de unidade entre mais de 200 organizações norte-americanas e internacionais em solidariedade com a luta do governo sírio contra a intervenção estrangeira; o movimento de reconciliação sírio; e, os atrozes actos cometidos contra civis sírios por terroristas do Exército de Libertação Sírio, do Nour al-Deen al-Zenki, do ISIS e de outras organizações.
Falei durante 13 minutos, assinalando que as minhas viagens à sido foram auto-financiadas, e que viajei muito, interagindo pessoalmente com sírios, e visto um amplo apoio deles ao exército e ao governo.
Ressaltei o facto de mais de 1,5 milhões de habitantes de Aleppo terem sofrido assédio e ataques de grupos terroristas, que mataram quase 11000 civis no fim de 2016, e assinalei que eu estava presente quando, a 3 de Novembro de 2016, se produziram ataques terroristas contra Aleppo que causaram 18 mortos e mais de 200 feridos. Mencionei ainda que estive presente durante os ataques de morteiro de 4 de Novembro por parte de facções extremistas num dos corredores humanitários.
Outros ponto por mim tratados foram:
- As palavras de sírios que em Outubro de 2016 escaparam do domínio de terroristas na zona oriental de Aleppo, assinalando que os "moderados" os privaram de alimentos e lhes impuseram uma ideologia extremista.
- A unidade que vi em Aleppo, entre muçulmanos sunitas e cristãos, que rejeitam o sectarismo externo externo e a narrativa dos media corporativos de que os sunitas da Síria estão contra Bashar al-Assad. E o apoio dos civis ao seu exército.
- O hospital de al-Quds, que não foi "destrído", nem reduzido a "escombros", como dizem os Médicos sem Fronteiras (MSF) e como é repetido na maioria dos meios de comunicação corporativos. É certo que utilizei as palavras erradas ao ter declarado que o hospital de al-Quds não tinha sido atacado: não posso provar que nunca tenha sido atacado de forma ligeira ou de outro modo. As palavras certas deveriam ter sido "não destruído" e, entretanto, este Junho confirmei que o hospital de al-Quds permanece de pé, tão intacto como quando o mencionei na conferência de Dezembro de 2016.
Porém, como afirmei em Dezembro, o hospital-maternidade de Dabeet em Aleppo foi internamente destruído por um ataque terrorista, perante o silêncio da maioria dos meios de comunicação. Desloquei-me ao local e falei com o director, quem me confirmou que 3 mulheres morreram no ataque no qual uns "libertadores" dispararam um míssil que caiu num carro estacionado junto ao hospital, fazendo-o explodir. O director assinalou também que, uma semana mais tarde, morteiros lançados por terroristas atingiram o telhado do hospital, destruindo-o e ferindo alguns operários de construção.
Durante a conferência mencionei também o Hospital de Kindi, que foi destruído pela al-Nusra com ataques à bomba usando camiões, um acontecimento muito significativo, dado que se tratava do maior hospital para o tratamento de cancro na região do Médio-Oriente. [De forma acidental, encontrei-me com o antigo director do Hospital de Kindi a Novembro de 2016, o qual me falou do silêncio internacional perante a destruição do seu hospital. Enquanto conversávamos, um morteiro disparado por terroristas atacou nas imediações do hospital universitário no qual nos encontrávamos.]
Apresentei as palavras do director da Associação Médica de Aleppo, o qual me confessou que, em contraste com as afirmações dos media corporativos sobre "os últimos médicos" e "os últimos pediatras", haviam mais de 4100 médicos registados e no activo em Aleppo, incluindo mais de 800 especialistas, dos quais 180 eram pediatras.
Cricitismo selectivo, branqueamento de crimes
Dessa extensa conferência de Dezembro de 2016, o único ponto que a Channel 4 escolheu foi uma observação que fiz durante o período de perguntas que se seguiu, sobre a questão da exploração de crianças e a propaganda belicista (ou, de uma forma mais específica, se uma menina teria sido ou não utilizada repetidamente)
Quero salientar que, ainda que não possa provar de forma definitiva que sequer uma das meninas que mencionei (ou aquelas que o artigo do Channel 4 supôs que me referi) tenha sido utilizada em encenações filmadas, é totalmente viável que eles/elas e outras crianças tenham sido utilizadas, questão sobre a qual definitivamente valeria a pena realizar uma séria investigação, sobretudo pelo facto das fontes serem financiadas pelo ocidente e estarem afiliadas a grupos terroristas.
Por exemplo, sobre o tema das encenações mediáticas, escrevi, em Junho de 2017, que: (a ênfase é minha):
"Em Dezembro de 2016, produtores de cinema no Egipto foram presos enquanto encenavam um vídeo de Aleppo utilizando 2 crianças: a menina devia parecer ferida, e o menino deveria vilipendiar a Rússia e a Síria."
O meu artigo detalha o uso indevido de uma cena de um videoclip músical libanês noticiado como se fosse de Aleppo. E também a confirmação da BBC de que o vídeo (de Novembro de 2014) sobre uma 'heróica criança síria' provinha sem dúvida da Síria, "provavelmente da linha frente do regime", embora tivesse sido filmada em Malta por realizadores noruegueses."
A Junho de 2017, escrevi também sobre um famoso menino, o "menino da ambulância", utilizado inclusive pela Channel 4 News e pelo The Guardian. Quando em Junho desse ano fui a Aleppo e conheci o menino e o seu pai, este último confirmou-me que a estória dos media corporativos era falsa, e que os meios de comunicação se aproveitaram do seu filho. Na verdade, Mohammad Daqneesh apoia o exército sírio, e ficou enojado com a exploração do seu filhos pelos meios de comunicação e por terroristas.
Além do mais há aquele vídeo dos White Helmets no qual os "socorristas" parecem simular o resgate de crianças, empregando práticas que os matariam, como sublinhou o professor Marcello Ferrada de Noli, director dos Médicos Suecos pelos Direitos Humanos (SWEDHR). O seu artigo de Março de 2017 destaca as opiniões de médicos suecos e outros especialistas que afirmam que:
"os procedimentos para salvar vidas que se podem ver na gravação são errados e aparentemente falsos. De facto, põem em risco as suas vidas.Isto inclui técnicas de reanimação simuladas, aplicadas a crianças aparentemente já sem vida.
Citando um especialista em pediatria:
"Depois de examinar o conteúdo do vídeo, descobri que as medidas infligidas naquelas crianças, algumas dela já mortas, são bizarras, não são procedimentos médicos e não servem para salvar vidas. Mais, são contraproducentes no que diz respeito ao propósito de salvar as vidas daquelas crianças".
E um médico de família e de clínica-geral sueco afirmou:
"Se não estivesse já morto, esta injecção tê-lo-ia morto!"
O seu relatório destaca:
"Os novos achados (...) demonstram que o principal procedimento apresentado como "salvador da vida" da criança que aparece no segundo vídeo é falso. Ou seja, não foi injectada nenhuma substância (por exemplo, adrenalina) no menino enquanto o médico introduziu uma seringa numa simulada manobra de injecção intra-cardíaca.
Recordemos a estória dos bebés de incubadora, contada aos soluços pela falsa enfermeira e filha do embaixador do Kuwait nos EUA (aprovada e propagada pela Amnistia Internacional), que precedeu e desempenhou um papel na influência da opinião pública antes da guerra de 1991 dos EUA e Reino Unido contra o Iraque. Quanto ao vídeo dos White Helmets em questão, de Noli sublinhou que este foi:
"apresentado no Conselho de Segurança da ONU a 16 de Abril de 2015. Depois desta reunião, a embaixadora norte-americana Samantha Power declarou: "Não vi ninguém na sala sem lágrimas. Se havia algum olho seco na sala, eu não o vi".
Subsequentemente, e apenas 4 dias depois, a 20 de abril de 2015, a CNN emitiu um noticiário reproduzindo excertos destes mesmo vídeos, difundidos com o propósito de promover a campanha dos "médicos sírios" por uma zona de exclusão aérea.
Este horripilante exemplo de crianças picadas com seringas, e os incidentes de montagens cinematográficas usadas na propaganda bélica acima mencionada, são razões mais do que suficientes para justificar investigações sérias sobre os vídeos produzidos pelos White Helmets (e sobre os dos "media da oposição" financiados pelo ocidente na Síria, incluindo o Aleppo Media Centre [AMC])
A equipa do Channel 4 conspurcando factos
Em relação à "verificação de factos" do Channel 4", Patrick Worrall equivoca-se logo na segunda frase quando diz que:
"Ela escreve um blog para a Russia Today, um media russo financiado pelo governo".
Infelizmente, a equipa da Channel 4 não realizou a mais elementar investigação para ver exactamente onde se encontrava o meu suposto "blog" na RT. Se o Channel 4 tivesse clicado na hiperligação, teria encontrado uma secção de artigos de opinião denominada "Op Edge", na qual actualmente contribuem 19 autores, muitos dos quais também contribuem para inúmeras outras publicações. Muitos jornais têm secções de opinião, incluindo o The Guardian, que descreve as suas entradas como "artigos de opinião" e não como "entradas de blogs".
O Channel 4 descreveu também a conferência da ONU como "tendo sido organizada pela missão síria na ONU". De Facto, fui eu que iniciei o contacto com a missão síria para pedir que fizera o que havia anteriormente sido feito pelo US Peace Council em Agosto de 2016: apresentar parte do que vi e ouvi na Síria. A missão síria conseguiu arranjar habitação conforme o meu pedido. Das palavras de Worral depreende-se que eu apenas tinha sido convidada para falar, enquanto que na realidade eu pedi para falar, visto que os media corporativos não dão, a gente como eu, plataformas justas onde se exprimir.
Numa tentativa de legitimar a narrativa dos White Helmets resgatando bebés e pessoas dos escombros, o Channel 4 escreveu que eu havia noticiado um caso no qual alguém havia sido enterrado vivo em 2009 em Gaza (escrito umas semanas depois do acidente) e que saiu dos escombros com "apenas uma ferida na sua sobrancelha esquerda".
No entanto, o meu artigo de 2009 descreve claramente um homem com sangue espesso escorrendo pela cara, o qual (como me explico em pessoa) não podia caminhar por sua própria conta e que, segundo ele, desmaiou e acordou já no hospital. Em contraste, a menina em questão (a 2ª no artigo do Channel 4), supostamente soterrada, pelos vistos não tem sangue à mostra na casa e, apesar de ter sido puxada pelo seu rabo de cavalo depois de ter estado enterrada debaixo de escombros, está bem alerta e consciente. Não é uma comparação assim tão adequada Channel 4! De facto, a questão que se coloca é a de quão ferida estaria ela.
Sobre a 2ª menina, o Channel 4 escreveu:
"Alguém teria de ter tido enterrado uma criança aos gritos, até ao peito, com escombros, e cuidadosamente preparar uma grande quantidade de ruínas ao seu redor e por cima dela..."
Exactamente. É divertido constatar como os White Helmets fizeram exactamente isso no seu vídeo para o “mannequin challenge”, extraindo dos escombros um homem aparentemente incapaz de caminhar... mais tarde, apareceram fotografias mostrando o actor de com os seus "socorristas".
Além do mais, o vídeo apresentado pelo Channel 4 sobre a menina de rabo de cavalo não mostra de modo algum "uma grande quantidade de pesadas ruínas ao seu redor e por cima dela". Pelo contrário, mostra uma menina enterrada nos escombros até à cintura, enquanto que os "socorristas" limpam os escombros aqui e ali e, por fim, aparece a menina já libertada (o vídeo estranhamente corta o momento em que é libertada, por que raio?), e logo o socorrista correndo rumo à ambulância (ali à espera) e para além desta.
Desafio o Channel 4 a encontrar um verdadeiro médico ou socorrista que consiga puxar pelo rabo de cavalo uma menina supostamente enterrada em escombros, sabendo que qualquer dano à coluna vertebral pode ser fatal ou deixar a vítima paralisada.
CONTÍNUA