Uma resposta pessoal às difamações infundadas dos branqueadores de terrorismo do Channel 4, do Snopes e de La Presse (3/3), por Eva Bartlett
Jornalista sensacionalista canadiana
Seguindo os passos do Snopes e do Channel 4, uma escritora dos meios de comunicação corporativos, produziu também uma medíocre tentativa de desacreditar-me. Estou me a referir a este patético artigo de difamação porque Agnès Gruda defendeu os terroristas que destruíram a Líbia, e silenciou informação honesta sobre o Iraque.
Em Janeiro de 2017 em Montreal (Canadá), participei num debate sobre a Síria. Durante o debate a várias vozes, falei durante meia hora e destaquei a necessidade de se questionar a veracidade das reportagens dos meios de comunicação e dos vídeos produzidos pelos White Helmets afiliados à al-Qaeda, assim como a outra fontes pouco fiáveis financiadas pelo ocidente e com presença exclusiva em áreas ocupadas por terroristas.
Após o período de perguntas, os jornalistas canadianos abordaram me pedindo entrevistas, com as câmaras a filmar. Uma das jornalistas, Alexandra Szacka da Radio Canada, havia andado a mandar-me mensagens durante as duas últimas semanas, expressando o que ela afirmava ser um interesse em ouvir o meu ponto de vista sobre a Síria. Uma olhadela ao seu Twitter bastou para perceber os seus verdadeiros interesses e lealdades: promover a narrativa ocidental sobre Síria.
No entanto, devido ao pedido vindo de uma troca de mensagens a esse respeito, decidi conceder-lhe uma entrevista. Antes de concordar em dar a entrevista a Szacka e à irmã Gruda (da La Presse), relembrei-lhe que na hora anterior havia dado numerosos exemplos de invenções, mentiras e encobrimentos. Prometeram não fazer o mesmo. Gruda não cumpriu.
Dado que uma grande parte do conteúdo do artigo de Gruda é, para não variar, quase idêntico a anteriores difamações, eu irei abordar aqui apenas pontos ainda não analisados. Também nada surpreendente é o facto de Gruda não ter abordado nenhum dos numerosos pontos que eu expus durante essa conferência de Janeiro.
Quanto à conferência de Dezembro de 2016 na ONU, Gruda, na sua tentativa de manchar o evento, escreveu que "de facto, realizou-se dentro dos escritórios da delegação síria da ONU".
Mentira. A conferência teve lugar numa sala oficial de imprensa na sede das Nações Unidas, num edíficio completamente distinto (separado por dois blocos) do edifício onde se encontra a missão síria na ONU.
No entanto, ela disse a verdade quando afirmou nunca ter posto os pés no lado "rebelde"... "Não me agrada a ideia de ser decapitada". Até o veterano jornalista Patrick Cockburn disse:
"Eles só lá não estão pela muito boa razão de que o ISIS prende e decapita estrangeiros, enquanto que a Jabhat al-Nusra (até há pouco tempo o ramo sírio da al-Qaeda) é um pouquinho menos sanguinária e no geral rapta gente para as trocar por dinheiro. ... todas as provas indicam que só é possível trabalhar no lado leste de Aleppo se for sob licensa de grupos como a al-Qaeda."
De qualquer modo, quando este Gruda na Síria...?
Com este tipo de comentários do género "nunca meti os pés" no lado dos terroristas, os propagandistas de guerra como Gruda negam o muito real sofrimento de sírios das áreas protegidas pelo governo e que são alvos de morteiros, roquetes, carros-bomba, atentados suicidas e muito mais. É errado insinuar que visitar muitas e vastas zonas protegidas pelo governo na Síria não chega para uma pessoa ter uma ideia precisa sobre a vontade do povo sírio e sobre as suas experiências.
Visitando áreas habitacionais como Damasco, Lataquia, Tartus e Homs, uma pessoa encontra sírios provenientes de todas as partes do país, crentes de todas as religiões (veja exemplos das minhas extensas viagens no verão de 2016), alguns dos pelo menos 7 milhões de refugiados internos.
Só em Lataquia, há mais de 1 milhão de refugiados internos, incluindo muitos que vieram de áreas da região de Aleppo anteriormente ocupadas por militantes e terroristas. É possível ouvir os seus testemunhos visitando campos de refugiados, ou encontrando estes deslocados em zonas comerciais. Muitos destes refugiados internos deixaram tudo para trás, fugindo do terror "rebeldes" patrocinado pelo ocidente, para as zonas protegidas pelo governo.
Quanto às minhas 4 visitas a Aleppo, em 2016, as áreas e rotas que percorremos implicavam uma pessoa expor-se com frequência ao potencial fogo ou bombardeamentos de franco-atiradores terroristas "rebeldes".
Se Gruda tivesse estado presente na visita de 2 de Novembro a zonas extremamente perigosas, nalguns casos a menos de 100 e a menos de 50 metros de franco-atiradores da al-Qaeda, teria escutado os pomposos jornalistas corporativos (que mais viria a distorcer a verdade sobre a sua visita) queixando-se de que não se sentiam em conforto visitando aquelas áreas. Áreas nas quais estávamos assistindo em primeira mão aos efeitos dos atentados terroristas de bombas sobre civis, e nas quais conversámos com destemidos sírios que se recusaram partir, expondo assim as suas vidas a franco-atiradores terroristas.
Gruda escreveu que o meu discurso dependia em grande medida desta específica viagem com (sobretudo) jornalistas corporativos (eu estava interessada em ver até que ponto alterariam os factos nas suas reportagens) quando eu falava de Aleppo. De facto, eu falei da minha própria visita em Julho e que foi completamente independente, da posterior visita independente em Agosto e da minha outra visita independente em Novembro. E regressei à cidade mais ou menos uma semana depois de ali ter estado com a delegação de jornalistas.
Em contrapartida, Yves Engler, jornalista e escritora canadiana, questiona-se sobre Gruda e o seu empregador:
Será que Gruda se descreve a si mesma como uma empregada da multimilionária família Desmarais que se encontra fortemente involvida na política canadiana e na política de outros países? Como descreve Gruda os jornalistas que têm escrito para a al-Jazeera, propriedade de um monarca do Qatar que tem apoiado a oposição armada contra Assad? E o que dizer da BBC, a CBC e outros meios de comunicação propriedade de governos?
Ou, será que ela se refere às ligações de jornalistas quando estes trabalham de forma independente para a Radio Canada International, uma "arma de propaganda do governo canadiano"? Inicialmente focada nos países do bloco de leste, a RCI iniciou as suas emissões internacionais em 1945 como parte da "guerra psicológica contra o comunismo", segundo o ex-ministro dos negócios estrangeiros Lester Pearson. Logo desde o início, o Ministério dos Negócios Estrangeiros havia recebido uma cópia com os guiões utilizados pelos comentadores, os quais tinham como tema o criticismo às políticas internacionais canadianas. Durante os anos 90, o financiamento da RCI provinha directamente do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Focar a atenção de uma audiência canadiana sobre o "sistema de propaganda" da Rússia sem mencionar a que há no seu país, só prova que é uma jornalista ignorante ou que faz parte dessa mesma propaganda.
Eu aposto na segunda opção.
Gruda e o seu historial de apoio ao terrorismo
Embora falhando na categoria "ética", pelo menos Gruda é coerente: também aplaudiu a destruição da Líbia, e a anterior destruição do Iraque, idealizando os militantes na Líbia como "rebeldes", pousando inclusive com um deles enquanto segurava uma arma.
Agnès a Jiadista, no seu artigo, fez barulho por causa de me ter visto com uma bracelete com bandeiras da Síria.
Mas aposto que Gruda pousando em Brega (Líbia) com uma arma de fogo junto a um terrorista "rebelde" é algo completamente professional.
De forma ainda mais reveladora, Jooneed Khan, uma jornalista especialista em assuntos internacionais que trabalhou durante 40 anos para o La Presse, falou-me da censura de Gruda contra a sua honestidade informativa.
"Passei 3 meses do ano de 2003 no Iraque, durante e depois dos bombardeamentos e da ocupação. Estive em Bagdade em Abril de 2013 como repórter de La Presse. No dia seguinte ao derrube da estátua de Saddam na Praça Firdaus, escrevi um artigo de 1400 palavras no qual dizia que os iraquianos não davam as boas-vindas aos soldados norte-americanos como se esses fossem "libertadores", que se erguiam postos de controlo por toda a cidade, e que a tensão crescia. Ela e outros mais, massacraram o meu texto, reduzindo-o a apenas 400 palavras, fazendo-o dizer o contrário daquilo que anteriormente dizia, e publicado com a minha assinatura. Em 40 anos de carreira, este foi o pior caso de censura que sofri por parte dos meus patrões.
A tendência sectária de Gruda
Caso quisesse Gruda falar com sírios de Aleppo, eu ofereci-me para a por em contacto com médicos acreditados que trabalham em Alpepo, assim como com sunitas desta cidade. No entanto, Gruda parece preferir abordar a sua "análise jornalística" a partir de um perspectiva sectária e apenas desejava falar com cristãos que participaram no evento de Janeiro em Montreal, apesar de nesse evento terem estado também presentes sunitas sírios.
Bossalinie Armanazi, que assistiu à minha conferência, enviou-me posteriormente uma mensagem para me dizer que, ainda que Gruda tenha o incitado (a ele, um sunita) a conceder-lhe uma entrevista, de um momento para outro Gruda disse-lhe que afinal não teria tempo o entrevistar. Armanazi escreveu-me
"Ela tinha uma estória pré-concebida para contar, e precisava do elenco certo que encaixasse nessa estória. Pelos vistos, fui desqualificado porque a minha crença religiosa e as minhas opiniões políticas não encaixavam na estória que ela queria contar.
Eu faço parte dos muçulmanos sunitas que não apoiam a chamada "revolução" e que apoiam as posições do estado sírio em relação à forma como lidar e resolver este conflito. Eu, tal como muitos outros, não vi nenhuma mudança positiva trazida pelos chamados rebeldes, que mais não são que grupos de bárbaros radicalizados provenientes do mundo inteiro, aos quais foi dado apoio político, logístico, financeiro e militar para lutarem em nome de outro grupo de estados/reinos que não ofereceram mais nada além de destruição.
De facto, os organizadores da conferência afirmaram que encorajaram, quer Agnès Gruda, quer a sua irmã Alexandra Szacka, a entrevistar os muitos sunitas presentes nesse dia. Não estavam interessadas em fazê-lo.
O que Gruda, Channel 4, Snopes e outros autores de difamações têm feito, é criar do nada artigos que negam todos os pontos válidos que tenho apresentado, numa tentativa de me desacreditar a mim e a outros mais que se deslocaram à Síria e que partilharam as vozes e as realidades de sírios.
Quando algum destes sírios comete um erro, ou mente (e sim, fazem-no), qual é a desculpa que dão? Um simples recuo de passem que poucos notarão, de qualquer das maneiras. A sério, recordemos que a BBC declarou que uma fotografia tirada no Iraque retratava Houla, na Síria. Quando o fotógrafo autor dessa imagem chamou à atenção sobre o sucedido, a BBC voltou atrás e argumentou ter avisado que a foto não podia ser verificada de forma independente. Robert Stuart
Recordemos também que a BBC chegou a estar a filmar numa zona controlada por extremistas, incluíndo al-Qaeda e ISIS, e que em Dezembro de 2013 normalizou o grupo terrorista ao apelidá-lo de grupo "rebelde sírio". Robert Stuart desmascarou as mentiras da BBC no artigo “Fabrication in BBC Panorama ‘Saving Syria’s Children'”. Estes não são casos isolados, senão exemplos de sistemática propaganda de guerra.
Quando fui inundada com mais de 1000 mensagens/emails em Dezembro de 2016, pelo menos consegui ver e comentar o correio electrónico de um escritor da Buzzfeed residente em Toronto. O seu ataque difamatório foi um perfeito exemplo daquilo com que fui atingida.
Mais virão, seguindo obedientemente o memorando da CIA e outras tácticas de difamação. Mas, depois desta refutação, terei coisas mais importantes para fazer.
Desconstruindo os apologistas dos White Helmets
Em relação ao tema tão seguido por estes vários autores (White Helmets, os socorristas da al-Qaeda), gostava de fazer referência agora a uma série de excelentes artigos que desacreditam a recente estória do The Guardian. [artigos em inglês]
-Ridiculous Guardian Smear Piece Results In Epic Satire, Dec 19, 2017, Brandon Turbeville, Activist Post
-What The Guardian Is Afraid Of When Attacking Honest Syria Reporters?, Dec 20, 2017, Adam Garrie, Oriental Review
-The Guardian’s Attempt to Save the White Helmets, Dec 20, 2017, John Wight, Sputnik
-Understanding The Guardian’s Latest ‘Russia-White Helmets’ Conspiracy Theory, Dec 20, 2017, 21st Century Wire
-UK Column Deconstructs Olivia Solon’s ‘Russia-White Helmets Conspiracy’ Guardian Article, Dec 21, 2017, 21st Century Wire
O consagrado jornalista John Pilger descreveu os White Helmets como "uma completa construção propagandista".
A 30 de Novembro de 2016, Gareth Porter escreveu sobre os White Helmets, focando-se num incidente em particular que deitou por terra a credibilidade do grupo:
"(...) O papel altamente político desempenhado pelos White Helmets em relação à cobertura noticiosa estrangeira ficou sem dúvida demonstrado após o ataque a um comboio de camiões da Cruz Vermelha Síria numa zona rebelde, em Urum al-Kubra, oeste de Aleppo, no dia 19 de Setembro. O assalto teve lugar imediatamente depois de um cessar fogo acordado entre Rússia, EUA e o governo sírio ter sido destruído por um mortífero ataque aéreo dos EUA contra as forças armadas sírias que lutavam contra o ISIS nos arredores da cidade de Der-ez-zor, no dia 17 de Setembro.
(...) Nos dias que se seguiram ao ataque, a cobertura dos meios de comunicação baseou-se, em grande parte, nas declarações dos White Helmets. O director da organização em Aleppo, Ammar Al-Selmo, disponibilizou-se para partilhar um versão pessoal no terreno. Como se veio a saber, a versão de Selmo estava repleta de falsidades; ainda assim, muitos jornalistas abordaram o relato sem nenhum tipo de cepticismo, e continuam fazendo conta com ele como fonte de informação sobre o conflito em curso nos arredores de Aleppo.
Porter prosseguiu, detalhando as contraditórias afirmações de Selmo, assim como as declarações contraditórias de outros membros dos White Helmets, como as de Hussein Badawi, chefe dos White Helmets em Urum al-Kubra, cujas próprias palavras contradizem as afirmações de Selmo
Mais recentemente Porter, numa entrevista concedida à RT, afirmou:
"Os White Helmets têm sido idealizados pelos meios de comunicação e tratados como simplemente heróis da guerra síria. Não tem sido permitido criticar os White Helmets nos meios de comunicação, na medida em que outros tipos de coisas por eles realizadas são menos atractivas. Foi-lhe incumbida a tarefa de serem, basicamente, o braço de propaganda dessas autoridades (al-Qaeda). (...) Este tema é de domínio público. Ninguém nega que esta organização recebe financiamento de dezenas de milhares de dólares dos EUA e do Reino Unido,
Num artigo seu de Novembro de 2016, Porter chamou a atenção para:
"A confiança acrítica nas alegações dos White Helmets, sem nenhum esforço de investigar a credibilidade destes, é mais um revelador exemplo da negligência jornalística de meios de comunicação já com um longo historial de desvios nas suas coberturas de conflitos, sempre em prol de narrativas intervencionistas."
O The Guardian, o Channel 4, o Snopes, e Agnès Gruda são, de facto, culpados de negligência jornalística e da mais hedionda propaganda de guerra.
Eva Bartlett, 20.01.2018
Leia aqui a 1ª parte: Uma resposta pessoal às difamações infundadas dos branqueadores de terrorismo do Channel 4, do Snopes e de La Presse (1/3)
Leia aqui a 2ª parte: Uma resposta pessoal às difamações infundadas dos branqueadores de terrorismo do Channel 4, do Snopes e de La Presse (2/3)
traduzido para o português por Luís Garcia
versão original em inglês: A PERSONAL REPLY TO THE FACT-CHALLENGED SMEARS OF TERRORIST-WHITEWASHING CHANNEL 4, SNOPES AND LA PRESSE