Uma História de Violência – O Mito dos Rebeldes Curdos Moderados, por Sarah Abed
Parte 3/3
Por Mint Press News. 9 de Agosto de 2017
Na primeira das 3 partes da análise que Sarah Abed, analista independente, escreveu para o Mint Press News, foi exposta a moderna aliança curdo-israelita que estes têm tentado manter secreta de modo a evitar a atenção do público sobre o seu derradeiro plano, assim como o uso de facções curdas por parte dos EUA para desestabilizar o Médio Oriente. Os curdos se comprometeram com tais relações em parte por causa das divisões internas e da desunião, o que também dificultou o cumprimento do seu objectivo de estabelecer um Curdistão completamente autónomo sobre os quatro países que actualmente ocupam.
Examinámos também as tentativas do governo sírio para manter o país unido, abordando e implementando mudanças constitucionais que beneficiam os curdos - tentativas que ainda não conseguiram convencer os separatistas curdos a abandonar o seu objectivo de balcanizar e confiscar ilegalmente partes da Síria à custa daqueles que lá residem.
Leia a parte 1 aqui
Na parte 2 este tema foi examinado em maior profundidade, na esperança de aumentar a consciencialização sobre esta pouco conhecida mas importante parte do quebra-cabeça sírio. Abed analisou a ligação curda ao apartheid israelita e a razão pela qual este último tem vindo a ter um tão grande interesse pelos curdos, assim como o estranho fenómeno dos veteranos militares ocidentais que viajam até à Síria para lutar ao lado dos curdos.
A ligação curda ao ISIS foi também abordada, uma vez que vários curdos optaram por lutar ao lado do segundo. As alianças curdas com grupos terroristas armados na Síria - em particular com o ISIS - são sinais muito reveladores sobre até que extremos poderão ir os curdos para que a sua manifestação ideológica de um Curdistão independente e autónomo veja a luz do dia.
Leia a parte 2 aqui
Nesta terceira parte da série de artigos de Sarah Abed para o MPN, onde é analisado o papel curdo de apoio ao plano de desestabilização do Médio Oriente dos EUA e de Israel, a autora cobre o tema das violações de direitos humanos, presentes e passadas, perpetradas por curdos contra árabes e contra minorias cristãs, assim como expõe os equívocos quanto aos motivos pelos quais os curdos permanecem sem um estado próprio.
É importante salientar que esta análise em três partes não deve ser visto como uma ampla generalização do grupo étnico curdo. Os pontos aqui abordados referem-se especificamente às suas facções corruptas. De facto, o Ocidente aproveitou-se de divisões internas curdas e manipulou algumas das suas facções curdas de forma a usá-las como instrumentos servindo os seus objectivos imperialistas de dividir e enfraquecer o Próximo e Médio Médio. O povo curdo é diversificado e, nos últimos anos, aspectos da sua cultura e dos seus costumes tem sido objecto de debate nos meios de comunicação convencionais. Ainda assim, o comportamento de algumas das suas facções mais corrompidas precisa de ser analisado.
Curdos e Assírios: passado e presente tumultuosos
Muito do que os curdos reivindicam como sua própria e exclusiva cultura, de facto, foi tomado emprestado de culturas mais antigas como a dos assírios e dos arménios. Na verdade, muito, se não todo, do território no leste da Turquia que os curdos alegam como sendo seu foi em tempo território arménio. Não é de surpreender, portanto, que os curdos tenham colaborado com no genocídio turco de assírios e no genocídio turco de arménios em 1915.
Um grupo de homens desenterrando os restos de vítimas do genocídio arménio, actual Deir-ez-Zor, Síria, 1938. (Foto: Instituto do Museu do Genocídio Arménio)
Também conhecido como "Shato du Seyfo", ou o "Ano da Espada", este genocídio teve como alvo principal os cristãos do Império Otomano e teve lugar durante a Primeira Guerra Mundial, principalmente em 1915. Em consequência, a população assíria sofreu uma redução de 75%.
Nas planícies de Nínive do norte do Iraque, os curdos habitam cidades como "Dohuk" (anteriormente conhecida pelo nome assírio de Nohadra). Mas essas cidades apenas são "suas" na medida em que os curdos estabeleceram uma relativa presença por essas paragens.
Aplicando o critério de identidade cultural e milhares de anos de autenticidade histórica, estas terras são e têm sido pertença exclusiva de Assírios. Sucintamente, os curdos "receberam" estas terras no início dos anos 70 como forma de de os convencer a abandonar a ideia de vir a possuir os territórios ricos em petróleo dentro e em torno da cidade iraquiana de Quircuque. Para o fazer, foi preciso realojar uma grande quantidade de curdos para Dohuk ocupando, à força, terras de Assírios entretanto expulsos com muitas mais reinvindicações legais e históricas sobre o local.
Esta é uma táctica frequentemente utilizada por curdos nas suas tentativas de validar o seu "sagrado" estabelecimento de um estado curdo - algo que nunca existiu em nenhum ponto da história conhecida. Ao definir o "Curdistão" como qualquer lugar onde os curdos já moraram nalgum momento da história, somos levados a crer que os curdos seguem a máxima "a posse é nove décimos da lei" - o que pode funcionar bem na determinação de responsabilidade criminal, mas que não funciona tão bem na determinação da pátria de alguém.
No início dos anos 70, os curdos de Níneve começaram a cair numa lógica que se tornaria familiar - a de serem peões dos interesses dos EUA. Neste caso, os curdos traíram o seu país anfitrião quando os EUA - através do seu fantoche, o xá do Irão - começaram a armar e encorajá-los a levantarem-se contra o governo.
O governo iraquiano reagiu com repressão, o que resultou em muitos curdos terem sido forçados a sair das terras que recentemente haviam adquirido. O Iraque e o Irão chegaram a uma resolução diplomática conjunta e os curdos ficaram a arder, cenário que tornar-se-ia recorrente ao longo do tempo. Um fenômeno similar ocorreu nos anos 80 e 90, quando, durante a primeira Guerra do Golfo, foi estabelecida uma zona de exclusão aérea que concedeu aos curdos um tangível nível de apoio e protecção internacional.
Os guerrilheiros curdos do Partido Democrata do Curdistão, guardando a entrada de Irbil, no Iraque, no dia 1 de setembro de 1996, depois de terem conquistado a principal cidade curda ao rival União Patriótica do Curdistão rival do Curdistão a 31 de agosto de 1996. As forças do presidente iraquiano Saddam Hussein invadiram Irbil para desalojar um grupo curdo, a União Patriótica do Curdistão, e permitir que o seu rival, o KDP, tomasse o lugar As brigas internas há muito tempo que atormentam os estimados 20 milhões de curdos que vivem na região montanhosa onde convergem as fronteiras da Síria, Turquia, Iraque Irão, Arménia e Azerbaijão. (AP / Anatolia)
"Apesar da opressão sofrida pelos curdos nas mãos dos turcos, aqueles não aprenderam a ser tolerantes. Na região autónoma curda do norte do Iraque, o Governo Regional do Curdistão (KRG) comportam-se da mesma forma que o governo turco se comportou durante 90 anos contra curdos e assírios. Relatos de sistemáticos abusos contra assírios dentro da região autónoma curda, no Iraque, têm constantemente aumentado de número. Existe perseguição organizada com o consentimento das autoridades curdas. O objectivo, obviamente, é semelhante ao dos turcos: assimilar ou expulsar assírios autóctones que vêm habitando esta parte do país há de 7000 anos.", escreveu Augin Haninke no seu artigo The Kurds: Victims and Oppressors para a agência de notícias Assyrian International News.
A ver: O assassínio de um líder assírio pelas forças curdas:
O Governo Regional do Curdistão (KRG) do norte do Iraque afirma ter uma dívida de 25 mil milhões de dólares, a pesar do facto de ter negociado o seu próprio óleo e de ter recebido uma significativa quantidade de ajuda externa. Uma pessoa é levada a se questionar sobre o nível de corrupção existente dentro da administração curda para que esta se encontre na situação financeira que afirma estar. E o resultado é vermos pequenas organizações de caridade deixadas sozinhas nas tarefas de facilitar e distribuir ajuda a assírios e iazidis, quando era suposto serem protegidos pelo governo curdo do KRG.
Utilizando uma versão revisada da frase "Mesopotâmia: o berço da civilização", este sinal está localizado perto do patrimônio arqueológico assírio de Khinis, na província de Dohuk. Este tipo de lugares geralmente não são protegidos e muitas vezes são vandalizados. (Cortesia de aina.org)
Em 2011, imãs em Dohuk encorajaram curdos sunitas a destruir igrejas e negócios cristãos. Em resposta, as lojas foram atacadas e clubes foram sitiados por multidões de centenas de pessoas. Hotéis e restaurantes foram também atacados com pequenas armas de fogo.
Nos últimos anos, os curdos têm continuado a agir de forma maliciosa contra as minorias cristãs, incluindo assírios e até mesmo iazidis. Os abusos cometidos por aqueles foram muito além do revisionismo histórico - como se pode ver no exemplo da imagem abaixo. Este tipo de abusos ocorreram também quando curdos se refugiaram no norte da Síria no início do século XIX e procederam à expulsão de árabes e arménios em inúmeras localidades.
Horrores dos tempos modernos - Curdos permitem ao ISIS assassinar assírios
Em Julho de 2014, quando o ISIS iniciou as suas incursões em território iraquiano, o Partido Democrático do Curdistão (KDP) começou a desarmar de forma sistemática assírios e vários outros grupos étnicos, de forma a poderem usar estas armas nas suas próprias batalhas.
Uma ordem de desarmamento que foi posta em circulação pelo KRG em cidades assírias das planícies de Níneve. (Cortesia de ankawa.com)
Estas ordens foram distribuídas ameaçando com punição severa quem não as cumprisse. Garantias foram dadas de que os Peshmerga viriam a proporcionar algum grau de protecção.
No entanto, enquanto o ISIS progrediu, os Peshmerga recolheram as armas e fugiram, seguindo o exemplo do exército iraquiano.
Em resultado, assírios e iazidis foram abandonados sem meios de resistir ou defenderem-se do ISIS. Houve inclusive relatos circulando informando que membros dos próprios Peshmerga abateram iazidis que tentaram impedir a fuga daqueles na posse de todo o armamento.
Haydar Shesho, um comandante iazidi que conseguiu obter armas do governo iraquiano, acabou preso pelas autoridades do KDP por ter organizado uma milícia "ilegal".
Este cenário repetiu-se um pouco por todo o lado no país, enquanto cerca de 150.000 eram forçados a fugir das planícias de Níneve, sua terra ancestral.
Estes eventos só podem ser vistos como um deliberado complõ da liderança curda para permitir que forças estrangeiras executem uma violenta limpeza étnica em áreas de residentes não-curdos para depois, como a ajuda dos EUA, capturar e "libertar as suas terras".
A ver: assírios exigindo o fim da ocupação curda das suas terras:
Muitos testemunhos vieram à superfície, como as declarações no parlamento britânico do ex-prisioneiro iazidi Salwa Khalaf Rasho, durante as quais afirmou que os Peshmerga, ansiosos por fugir primeiro que os civis iazidi, recusaram pedidos para que ficassem e protegessem as populações iazidi ou que, pelo menos, deixassem-nos com as suas armas. Até chegaram a garantir aos iazidis que estes deveriam voltar para as suas casas, nas quais estariam sobre a protecção dos Peshmerga!
Em última instância, membros dos Peshmerga dispararam sobre iazidis perante protestos destes crescendo em intensidade - o que resultou na morte de vários iazidis - a fim de abrir caminho onde passar os seus veículos sem dificuldade. Yazda, uma organização que luta pelo reconhecimento do Genocídio Iazidi, escreveu no seu último relatório de Janeiro de 2016 que: "Se [os Iazidis] tivessem sido defendidos por um dia só, poderiam ter sido evacuados em segurança e os massacres e a epidemia de escravidão poderia ter sido evitada".
O texto abaixo é um excerto do testemunho de Rasho no parlamento britânico no qual ela apelou por ajuda depois de ter escapado a oito meses de escravidão e violação às mãos do ISIS, assim como a várias tentativas de suicídio.
"O meu nome é Salwa Khalaf Rasho. Nasci em 1998 e andava no nono ano de escola. Eu tinha uma vida simples e modesta com a minha família até o dia em que ISIS atacou Shengal a 3 de agosto de 2014. Eu gostava muito da minha cidade, Shengal. Cresci sob o princípio da coexistência entre todas as sociedades dentro da comunidade, independentemente da sua religião ou seita, porque os valores da minha religião não permitem odiar os outros ou discriminá-los.
Daí que Shengal era bem conhecida por ser a cidade da tolerância e da diversidade étnica. O que ali se passou foi chocante e inesperado. porque nós víamos o ISIS como nossos irmãos. Como isto, eu refiro-me às tribos árabes das aldeias de Shengal. De um momento para o outro, eles transformaram-se em monstros e lobos. Eles colaboraram com o ISIS quando este começou a escravizar as mulheres e as crianças e a matar os homens.
Havia cerca de 9.000 Peshmerga na minha cidade armados com vários tipos de armas. Eles nos disseram que 'Iremos proteger Shengal e o ISIS apenas entrará em Shengal por cima dos nossos cadáveres. Defenderemos Shengal até à última bala.'
Infelizmente, eles fugiram sem nenhuma resistência e sem avisar os civis de forma a possibilitar-nos escapar das mãos dos monstros do ISIS. Eles deixaram-nos nós, mulheres e crianças, à nossa sorte. Eu e mais pessoas que estavam comigo tentámos fugir pelas montanhas, como os outros."
Uma história de abusos de direitos humanos
À luz destes horrores, deveria ser fácil de compreender por que razão os curdos têm um constatável interesse em reclamar a história de árabes, assírios ou arménios como sendo a sua. Quando por vezes falham neste projecto, com frequência optam por simplesmente destruir toda e qualquer evidência histórica de relevo. Nesta matéria, o seu comportamento é semelhante ao ISIS.
Cada vez que curdos fracassaram num ataque contra a Turquia, acabam por migrar para território sírio e tentam aí reclamar terra como sendo sua. Por exemplo, tentaram reclamar como sua a cidade síria de Ayn al Arab. renomeando-a de "Kobani". Este nome deriva da palavra "companhia", uma referência à companhia alemã que construiu o caminho de ferro que liga Konya a Bagdade. Os curdos também reclamam al-Qamishili. outra cidade síria, como sendo a sua ilegal capital e renomearam-na de "Qamishlo".
É importante relembrar que os curdos nem sequer são maioritários nos territórios que reclamam no nordeste da Síria. Por exemplo, na governadoria de al-Hasakah, representam cerca de 30 a 40% da população total. Estes números diminuíram deste que deflagrou o actual conflito sírio, visto que muitos curdos fugiram para países europeus.
A maior parte fugiu para a Alemanha, onde vivem cerca de 1,2 milhões de curdos, um pouco menos do número de curdos que vivem na Síria. No entanto, estes não parecem estar interessados em alcançar autonomia na Alemanha. Apenas pretendem fazê-lo nos países do Médio Oriente que lhe ofereceram refúgio durante todos estes anos. Estes são os países ao quais os curdos querem espetar uma faca nas costas em vez de agradecerem a hospitalidade deles recebida.
As inúmeras alegações refutáveis da Amnistia Internacional (AI) contra o governo sírio e o exército árabe sírio não podem ser levadas a sério na ausência de relatórios que as corroborem. Em alguns casos, no entanto, a AI consegue relatar de forma honesta, como quando publicou um relatório em 2015 acusando o YPG (a milícia da população curda da Síria) de uma série de abusos de direitos humanos.
"Estes abusos incluem deslocamento forçado de populações, demolição de casas, e captura e destruição de propriedade", escreveu o grupo. "Em alguns casos, aldeias inteiras foram demolidas, aparentemente em retaliação pelo suposto apoio dado pelos seus habitantes árabes ou turcomanos ao ISIS ou a outros grupos armados não estatais". A Amnistia Internacional também documentou o uso de crianças-soldados, de acordo com Lama Fakih, um assessor do grupo especializado em análise de crises..
Os curdos afirmam que seu o "Curdistão" é "multicultural e multi-religioso", o que é falso quando se têm em conta que essas culturas adicionais consistem em grupos de pessoas que sobrevivem agora entre uma maioria curda em terras que os curdos lhes ocuparam à força. Essas pessoas irão vir a ser confrontadas com a perspectiva de votar em referendos sobre a independência curda absolutamente absurdos uma vez que, mesmo que todos venham a votar "não", os seus votos serão sempre minoritários face ao "sim" da maioria curda e, como resultado, ficarão sempre sujeitos das decisões e vontades de um governo curdo.
Por que razão não têm estado?
O acordo de Sykes-Picot, oficialmente conhecido como o Acordo da Ásia Menor, foi um acordo secreto obtido em 1916 pelo Reino Unido e a França e com o qual o Império Russo da altura concordou. Este estabeleceu as fronteiras para países como a Síria, o Iraque e a Jordânia, e no qual os curdos tiveram pouca ou nenhuma influência. O objectivo principal do acordo para os franceses e britânicos era reforçar a sua própria influência e poder na região. Os curdos argumentam que na altura lhes foi prometido algum território mas que à última da hora foram retirados do acordo.
A história curda no século XX foi marcada por uma crescente sentimento de nacionalidade curda focada no objectivo de estabelecer um Curdistão independente de acordo com o Tratado de Sèvres de 1920. Países como a Arménia, o Iraque e a Síria conseguiram obter o seu próprio estado mas a eventual independência Curdistão veio chocar contra a realidade de um recém-fundado estado chamado Turquia, criado por Mustafa Kemal Ataturk. O estado do Curdistão nunca chegou a existir.
As únicas zonas do Médio-Oriente onde os curdos conseguiram estabelecer algum nível de aparente autonomia legal são o Governo Regional Curdo (KRG) no Iraque - onde as minorias se encontram protegidas ao abrigo de novas leis - e Israel.
Como resultado da disparidade entre as áreas habitadas por curdos e as fronteiras políticas e administrativas da região, um acordo geral entre curdos em relação às suas fronteiras nunca chegou a ver a luz do dia. No entanto, o Tratado de Sèvres não chegou nunca a ser implementado e foi entretanto substituído pelo Tratado de Lausanne. A actual fronteira entre o Iraque e a Turquia foi estabelecida a Julho de 1926. Enquanto que o artigo 63 do Tratado de Sèvres explicitamente concedia salvaguardas e completa protecção às minoria assírio-caldeias, este ponto foi complementarmente omitido no Tratado de Lausanne.
Vale a pena salientar que os curdos iraquianos ocupam terras nas quais estão situados vários dos campos do país ricos em petróleo. A província síria de Hasakah - que os curdos reivindicam ilegalmente como sendo seu território e que inclui a sua auto-proclamada capital, al-Qamishli - também contém alguns dos campos petrolíferos mais valiosos da Síria. Portanto, não é coincidência que os EUA estejam apostando o seu dinheiro nos curdos.
Tratamento de minorias antiético e violento, particularmente Cristãos
De acordo com a Aina.org, num artigo escrito em 2014, "no ano passado Ahmed Turk, um político curdo da Turquia, declarou que os curdos também têm a sua cota parte de "culpa no genocídio" e pediu desculpas aos arménios. "Os nossos pais e avós foram usados contra os assírios e os iazidis, bem como contra os arménios. Eles perseguiram essas pessoas; as suas mãos estão manchadas de sangue. Nós, na qual de seus descendentes, pedimos desculpas", afirmou Turk.
Os curdos têm uma história de séculos de perseguição a grupos minoritários, tendo cometido genocídios contra essas minorias numa alarmante frequência. Os relatos históricos de actos de genocídio cometidos pelos curdos entre 1261 e 1999 estão documentados no trabalho Genocides Against the Assyrian Nation.
Em 1261, no que foi referido como "a vinda dos curdos", milhares de assírios fugiram das aldeias das planícies de Níneve de Bartillah, Bakhdida (Qaraqosh), Badna, Basihra e Karmlis, avançando para a cidadela de Arbil de forma a escapar da substancial emigração curda. O rei Salih Isma'il havia ordenado que um grande número de curdos se mudassem das montanhas da Turquia para as planícies de Nínive. As aldeias assírias nas planícies foram saqueadas e os milhares de assírios que não conseguiram escapar para Arbil foram massacrados pelos recém-chegados curdos. Um mosteiro para freiras em Bakhdida foi invadido e seus habitantes foram brutalmente massacrados .
Tribos curdas na Turquia, na Síria e no Irão realizaram incursões regulares e até assaltos paramilitares contra os seus vizinhos cristãos durante a Primeira Guerra Mundial. Os curdos, actuando de acordo com uma (por si imaginada) longa tradição de um direito curdo de pilhar aldeias cristãs, foram os responsáveis de imensas atrocidades cometidas contra cristãos assírios. Por exemplo, um chefe curdo assassinou o patriarca da Igreja de Aast durante um jantar de negociação em 1918, assassinato que teve como consequência o avanço do massacre de populações cristãs na altura.
Cumplicidade curda no genocídio arménio
O genocídio arménio foi realizado durante e depois da Primeira Guerra Mundial e implementado em duas fases: a matança generalizada da população masculina fisicamente apta e a sujeição de prisioneiros de guerra a trabalhos forçados, seguida da deportação de mulheres, crianças, idosos e enfermos nas marchas da morte rumo ao deserto sírio. Impulsionados por escoltas militares, os deportados dessas marchas da morte eram privados de comida e água e submetidos a periódicos assaltos, violações e massacres.
Outros grupos étnicos autóctones cristãos, como os assírios e os gregos otomanos, foram igualmente alvo de extermínio pelo governo otomano no Genocídio Assírio e no Genocídio Grego e, segundo alguns historiadores, o tratamento aplicado a estes povos é em tudo comparável com a política genocida que visou o povo arménio. A maioria das comunidades da diáspora arménia espalhadas pelo mundo fora surgiu como resultado directo do genocídio infligido pela Turquia.
Nas províncias orientais, os arménios estavam sujeitos aos caprichos de seus vizinhos turcos e curdos, que os sobre-taxavam com regularidade, os assaltava e raptavam, os obrigavam a converterem-se ao islamismo ou, simplesmente, os exploravam de uma ou de outra forma, sem qualquer interferência das autoridades centrais ou locais .
Instigados pelos seus governantes otomanos, chefes tribais curdos violaram, assassinaram e pilharam, nas províncias a leste, arménios e outros povos não-muçulmanos com os quais durante séculos haviam coexistido de forma pacífica. Henry Morgenthau, que serviu como embaixador dos EUA em Constantinopla no auge do derramamento de sangue, descreveu assim, nas suas arrepiantes memórias de 1918 (Ambassador Morgenthau’s Story), a cumplicidade curda:
"Os curdos saíam a correr de suas casas nas montanhas. Correndo ao encontro de jovens mulheres, levantavam seus véus e levavam as mais bonitas com eles para as colinas. Roubavam essas meninas a seu belo prazer e, impiedosamente, roubavam todo o resto da multidão ... Enquanto realizam crimes tais, os curdos livremente massacravam quem lhes apetecesse, enquanto os gritos das mulheres e dos velhos aumentavam ainda mais nível o de horror geral."
Discriminação contra os curdos Feyli do Iraque
É importante reiterar que existem muitos curdos a quem algumas das caracterizações apresentadas nesta análise não podem e não devem ser aplicadas. Existem curdos que se integraram às suas sociedades culturais atuais e que rejeitam os ideais separatistas curdos. As suas preocupações são principalmente de natureza política e específicas em relação às nações em que residem.
Não estão interessados em estabelecer um país curdo unindo partes dos quatro países onde vivem, através de um processo de balcanização, roubo de terras, genocídio ou qualquer outra violação de direitos humanos que tenha sido abordada aqui. Na verdade, estes curdos têm sido vítimas de discriminação por parte da restante comunidade curda como resultado de sua falta de vontade de apoiar o estabelecimento de um estado curdo.
Os curdos Feyli no norte do Iraque são um perfeito exemplo disso mesmo. Muitos deles manifestaram a sua oposição contra o referendo sobre a independência anunciado pelo Governo Regional do Curdistão (KRG) a 7 de junho de 2017, pois temiam que isso levaria a uma escalada da crise em curso na região.
O primeiro-ministro iraquiano Haider al-Abadi apresentou a posição oficial do governo iraquiano, no dia 18 de junho, afirmando que: "O referendo regional curdo sobre a sua secessão é ilegal e o governo federal não o apoiará, o financiará ou participará nele". Os Estados Unidos e os vizinhos iraquianos, incluindo a Turquia, o Irão e a Síria, também opõem-se à divisão territorial do país.
Fouad Ali Akbar, um curdo Feyli membro do conselho provincial de Bagdade, disse ao Al-Monitor: "Eles são curdos xiitas ... nem xiitas nem curdos têm sido justo para com os Feylis. A maioria dos Feylis são moderados e culturalmente diversos, o que impediu que gobtivessem a confiança de curdos e xiitas que, por razões étnicas e sectárias, não queriam que aqueles tivessem uma identidade estável com direitos normais como outros cidadãos iraquianos ".
O ativista de Feyli de nome Hassan Abdali afirmou um dia: "Nós, os curdos Feyli, consideramo.nos iraquianos originais. Temos raízes históricas e sociais profundas no Iraque. Defendemos o país e o seu povo em todos os movimentos de libertação iraquianos, na revolta iraquiana contra os britânicos, e participámos nos movimentos curdos e revoluções xiitas e também na luta contra o ISIS. E enfrentámos a perseguição vinda de movimentos nacionalistas árabes e curdos".
Ali Akbar declarou também ao Al-Monitor que: "A maioria dos Feylis está expressando as suas preocupações sobre o potencial deslocamento, matança, confiscamento de fundos e saqueios sistemáticos que podem vir aenfrentar em caso de declaração de uma independência do Curdistão, como resultado das ameaças que eles recebem sempre que uma disputa entre o governo central e o KRG entra em erupção ".
Sarwa Abdel Wahid, chefe de um bloco parlamentar do KRG ligado ao Gorran (um partido político curdo iraquiano), disse numa conferência de imprensa conjunta com representantes dos Feyli, incluindo legisladores, que: "O referendo a ser realizado em setembro no Curdistão é um referendo partidário que não representa a ambição de todos os curdos, já que não conseguiu passar pelas instituições nacionais legítimas ".
Racismo curdo contra árabes - especialmente sírios
O jornalista de investigação finlandês Bruno Jantti descreveu a sua experiência trabalhando com curdos do Iraque enquanto investigava o ISIS:
"Enquanto trabalhava no Curdistão Iraquiano, fiquei chocado com a prevalência de atitudes regressivas como o racismo e o sexismo. Voltei recentemente do Curdistão iraquiano, onde passei algumas semanas investigando o ISIS. Trabalhando principalmente nas proximidades de Sulaymaniyah e Dohuk, não pude deixar de notar muitas características societais e culturais que me surpreenderam.
Considerando o que está acontecendo ali ao lado na Síria, o nível de racismo anti-sírio deixou-me atrapalhado. Encontrei esse preconceito quase diariamente. Em Sulaymaniyah, um taxista saiu-se com: "Estes sírios estão arruinando o nosso país". Depois, um outro motorista de táxi bastante chateado com crianças sírias lavando janelas de carros e vendendo os seus produtos, afirmou: "Estes são miúdos sujos". Era bastante comum que pessoas internamente deslocadas descendentes de árabes iraquianos ou sírios fugidos para o Curdistão iraquiano fossem citados em conversas usando este tipo de linguagem.
E não eram apenas os taxistas. No prédio do governo de Sulaymaniyah, uma funcionária considerou apropriado nos preparar para as entrevistas em campos de refugiados na área. Ela me disse, textualmente, que os refugiados sírios "se queixam de tudo". Noutra cidade, um chefe de polícia ficou atónito e desapontado com o facto dos meus colegas e eu termos solicitado uma autorização para trabalhar num campo habitado por refugiados sírios. O chefe da polícia afirmou: "Mas estes são refugiados sírios!" Não havia falta de desprezo na sua voz.
Fiquei plenamente consciente de que o nacionalismo curdo anda de mãos dadas com posições altamente questionáveis sobre árabes, persas e turcos. No Curdistão iraquiano, fiquei inclusive surpreso com a frequência de ocorrência de algumas destas atitudes "
Um bem implementado mito
Os curdos ganharam popularidade graças à bem sucedida operação de marketing com a qual convenceram as audiências ocidentais a vê-los enquanto revolucionários, feministas, marxistas "lutadores pela liberdade" que têm um ardente desejo de criar a sua própria versão de utopia onde a paz reinará para todos - uma imagem que Stephen Gowans criticou recentemente no seu artigo “The Myth of the Kurdish YPG’s Moral Excellence.”
O que de facto estão tentando criar é um ilegal estado autónomo a cavalo de estados soberanos já existentes. A liberdade que tentam alcançar é para ser concretizada através do massacre de nativos de países que pretendem balcanizar e dividir em linhas sectárias. Os curdos instalaram-se em áreas entretanto esvaziadas das suas populações autóctones, utilizando para o efeito medo e violentas tácticas apoiadas pelos seus patrocinadores mas que violam princípios de direitos humanos globalmente aceites. Concordar com a sua causa implica concordar com acções genocida que, na sua essência, expulsam povos das suas casas e terras em conveniente sintonia com as perspectivas imperialistas de nações ocidentais.
Até recentemente, curdos com ambições imperialistas eram vistos com bons olhos. Mas as suas obscuras intenções têm agora vindo a ser expostas e reveladas. A sua aliança passada e presente com Israel e os EUA é indicador claro de tais intenções. Este ponto não pode ser deixado de parte ou minimizado, visto que é a base escondido na qual construiram a sua missão. O projecto da Grande Israel está a todo o gás e precisa de ser parado antes que alcance um novo significativo nível.
Apoiar as exigências curdas de autonomia e estabelecer uma federação à custa de outros [países] da região é ilegal, profundamente ilógico e é uma violação dos direitos humanos por todas as razões aqui expostas. E é importante relembrar que um dos líderes principais do ISIS era curdo. Se os curdos verdadeiramente querem viver em paz e coexistir com outros, então precisam de acabar com o excessivo revisionismo histórico do qual participam de forma insistente; os curdos têm de renunciar às alianças que ameaçam a estabilidade dos países nos quais actualmente residem; e têm de trabalhar juntos e unirem-se aos seus irmãos que partilham as mesmas zonas geográficas. Só então os curdos terão outros verdadeiros amigos que não as montanhas.
As opiniões expressas neste artigo são as da própria autora e não reflectem necessariamente a política editorial do Mint Press News.
traduzido para o português por Luís Garcia
versão original em inglês: A History Of Violence – The Myth Of The Moderate Kurdish Rebel