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Um acto desesperado para salvar o Império Ocidental - A guerra económica dos EUA com a China, por André Vltchek

28.11.18 | Luís Garcia

Um acto desesperado para salvar o Império Ocidental

 

Andre Vltchek Política ECONOMIA 

 

A maioria daqueles que tiveram a oportunidade de testemunhar mega-projectos internacionalistas chineses, entendem bem que o Ocidente está prestes a entrar em colapso; nunca será capaz de competir com o tremendo entusiasmo e espírito progressista do país mais populoso do planeta que, além disso, apoia-se em princípios socialistas (com características chinesas).

 

Escrevendo este ensaio no interior profundo do Laos, acabei de ver, literalmente, um exército inteiro de engenheiros e trabalhadores chineses em acção, construindo enormes pontes e túneis, conectando um dos países mais pobres da Ásia à China e ao Sudeste Asiático, erguendo hospitais e escolas, pequenas fábricas para a população rural, aeroportos e centrais hidroeléctricas ou, em resumo, colocando a grande maioria do povo do Laos fora da pobreza, proporcionando-lhes meios de subsistência e infraestrutura.

 

A China faz exactamente isto pelo mundo inteiro, desde as minúsculas nações insulares do Pacífico Sul até aos países africanos, saqueados durante séculos pelo colonialismo e pelo imperialismo ocidentais. Ajuda as nações latino-americanas que estão em necessidade e, enquanto faz tudo isto, também está rapidamente se tornando numa nação de classe média, ecológica e culturalmente responsável; uma nação que erradicará toda a miséria extrema muito em breve, provavelmente até 2020.

 

O Ocidente está petrificado!

 

Tudo isto poderá bem ser a antecâmara do fim da ordem global ocidental, e poderá vir a acontecer muito antes do que o esperado.

 

E portanto, o Ocidente antagoniza e provoca a China, de todas as maneiras possíveis e imagináveis, desde o aumento de presença militar dos EUA na região Ásia Pacífico, até ao encorajamento de vários países do Sudeste Asiático, além do Japão, a irritar política e até militarmente a RPC. A propaganda anti-chinesa no Ocidente e nos seus estados clientes vem, ultimamente, atingindo um crescendo cacofónico. A China é literalmente atacada por todos os lados, como descrevi recentemente nos meus ensaios, atacada por ser "demasiado comunista" e atacada "por não ser comunista o suficiente".

 

O Ocidente, ao que parece, é contra todas as práticas económicas da China, seja o planeamento central, os "meios capitalistas para fins socialistas" ou o desejo inabalável da nova liderança chinesa de melhorar o padrão de vida do seu povo, em vez de enriquecer corporações multinacionais à custa dos cidadãos comuns da RPC.

 

Parece ser uma guerra comercial mas, na verdade, não é: tal como o "Ocidente contra a Rússia", o "Ocidente contra a China" é uma guerra ideológica.

 

A China, juntamente com a Rússia, está efectivamente descolonizando partes do mundo que costumavam estar à mercê e à disposição do Ocidente e de suas empresas (bem como das empresas desses estados clientes do Ocidente, como nos casos do Japão e da Coreia do Sul).

 

No entanto, já há nome para o fenómeno. Sim,  a "descolonização" está claramente ocorrendo, visto que muitos países pobres e anteriormente vulneráveis, do mundo inteiro, estão agora buscando a protecção de Pequim e de Moscovo.

 

E, para "adicionar insulto à injúria", paralelamente à descolonização, há também a "desdolarização", que está inspirando mais e mais nações, particularmente aquelas que são vítimas dos embargos ocidentais e vítimas das injustas e muitas vezes assassinas sanções. A Venezuela é o mais recente exemplo disso mesmo.

 

A moeda "alternativa" mais confiável e estável, que está sendo adoptada por dezenas de países para a realização de transacções internacionais, é o Yuan chinês (RMB).

*

A prosperidade do mundo inteiro, chamem-lhe "prosperidade global" se preferirem, claramente, não é o que o Ocidente anseia alcançar. No que diz respeito a Washington e Londres, o mundo "periférico" existe, sobretudo, para fornecer matérias-primas (como a Indonésia), mão-de-obra barata (como o México) e garantir que haja uma população obediente doutrinada e que não enxergue absolutamente nada sobre tudo o que há de errado nesta presente ordem mundial.

 

No seu recente ensaio para a revista canadiana Global Research intitulado “IMF – WB – WTO – Scaremongering Threats on De-Globalization and Tariffs – The Return to Sovereign Nations”, um distinto economista suíço e meu colega, Peter Koenig, que costumava trabalhar para o Banco Mundial, escreveu:

Como principais representantes dos três principais vilões do comércio e finanças internacionais, o FMI, o Banco Mundial (BM) e a Organização Mundial do Comércio (OMC) reuniram-se na exuberante ilha turística de Bali, na Indonésia, alertando o mundo para as consequências terríveis de  investimentos internacionais estarem sendo reduzidos e para o declínio do crescimento económico como resultado das crescentes guerras comerciais iniciadas e instigadas pelo governo de Trump. Criticaram também o proteccionismo que poderia levar ao declínio da prosperidade de certos países. O FMI reduz a sua previsão de crescimento económico global para o ano em curso e para 2019.

Tudo isto é puro alarmismo baseado em vazio. De facto, o crescimento económico do passado, que aqueles alegam ter sido fruto de aumentos em comércio e investimentos estrangeiros, apenas beneficiou uma pequena minoria e levou a uma divisão cada vez maior entre ricos e pobres, quer em países em desenvolvimento quer em países industrializados. É interessante constatar que ninguém fala nunca sobre a distribuição interna do crescimento do PIB… ”

 

Peter Koenig argumenta ainda que a globalização e o "livre comércio" estão longe de ser desejáveis para a maioria dos países do nosso planeta. E está apontando a China como exemplo:

“E, para não variar, mais uma vez, ficou provado que os países que precisam e querem se recuperar de problemas económicos dão se bem melhor concentrando-se e promovendo as suas próprias capacidades sócio-económicas internas, com o mínimo de interferência externa possível. Um dos casos mais relevantes é a China. Depois que a China emergiu, em 1 de Outubro de 1949, de séculos de colonização e opressão ocidentais, com a criação da República Popular da China (RPC) do presidente Mao, Mao e o Partido Comunista Chinês tiveram primeiro que por «em ordem uma casa» arruinada, um país arruinado por doença, falta de educação, sofrendo desesperadamente de fome, sem esperança, tudo isto fruto da descarada exploração dos colonizadores ocidentais. Para o fazer, a China permaneceu praticamente fechada ao mundo exterior até meados da década de 1980. Só então, quando superou a doença e a fome desenfreadas, e construiu um sistema educacional em todo o país, e se tornou um exportador líquido de grãos e outros produtos agrícolas, a China, totalmente auto-suficiente, abriu gradualmente as suas fronteiras aos investimentos e comércio internacionais. E vejam onde está a China hoje. Apenas 30 anos depois, a China não só se tornou na economia número um do mundo, como também na super-potência mundial que já não pode ser superada pelo imperialismo ocidental.”

 

Ser auto-suficiente pode ser óptimo para as pessoas de todos os países do nosso planeta, mas é definitivamente visto como um "crime" aos olhos do Ocidente.

 

Agora, a China não é apenas independente, ousa também apresentar ao mundo inteiro um sistema totalmente novo, no qual as empresas privadas são subservientes aos interesses do Estado e do povo. Isto é exactamente o contrário daquilo que está acontecendo no Ocidente (e seus "estados clientes"), onde governos têm de facto dívidas a apagar a empresas privadas, e onde as pessoas existem principalmente para gerar grandes lucros corporativos.

 

Além disso, a população da China é educada, entusiasta, patriótica e incrivelmente produtiva.

 

Como resultado, a China compete com o Ocidente e está ganhando facilmente a competição. E fá-lo sem saquear o mundo, sem derrubar governos estrangeiros e sem condenar pessoas à fome.

 

Tudo isto é visto pelos Estados Unidos como sendo "concorrência desleal". E a China está sendo punida com sanções, ameaças e provocações. Chame isto de "guerra comercial", se quiser, mas na verdade não é.

 

E porquê concorrência desleal? Porque a China recusa-se a "juntar-se" e a jogar pelas velhas regras imperialistas ditadas pelo Ocidente, prontamente aceites por países como o Japão e a Coreia do Sul. A China não quer governar [o mundo]*. E é isto que assusta o Ocidente.

*

De certa forma, tanto o presidente Trump quanto a actual liderança chinesa, querem tornar os seus países "novamente grandiosos" ["great again", famosas palavras de Trump]*. No entanto, estes dois países têm uma percepção diferente de grandeza.

 

Para os Estados Unidos, ser "grandioso" é controlar o mundo, uma vez mais, como aconteceu logo após a Segunda Guerra Mundial.

 

Para a China, ser grande é proporcionar uma alta qualidade de vida aos seus cidadãos e aos cidadãos da maior parte do mundo. Significa, também, ter uma grande cultura, coisa que a China acostumou-se a ter durante milénios, antes da "era da humilhação", e que foi reconstruida e melhorada a partir de 1949 em diante.

*

Um importante filósofo americano, John Cobb Jr., num livro que estamos escrevendo juntos, recentemente ressaltou que:

“Desde a Segunda Guerra Mundial, o que os Estados Unidos fizeram foi amplamente copiado. Por isso, este país teve uma grande oportunidade para liderar o mundo. Na maior parte do tempo, levou-o na direcção errada. Os Estados Unidos e o mundo inteiro, incluindo a China, estão pagando e continuarão a pagar um preço elevado por isso. Mas, os dias de liderança norte-americana estão a chegar ao fim. Eu ainda gostaria de ver os EUA se empenhar em grandes reformas, mas é tarde demais para que isso mude o mundo. Podemos nos dar por contentes com o facto do século norte-americano estar dando lugar ao século chinês ”.

 

Muitos assim o fazem, mas outros não. O fim da liderança americana, ou chame-lhe de "século norte-americano" ["American Century" em Inglês]*, pode assustar muita gente em vários países ocidentais, particularmente na Europa. Mas é, simultaneamente, uma nova esperança para todas as outras partes do mundo.

 

Para a China, não ceder à pressão dos EUA, é uma afirmação de firmeza quanto à sua independência. A nação mais populosa do mundo está pronta para defender os seus interesses, o seu povo e os seus valores.

 

E a China está longe de estar sozinha. Da Rússia ao Irão, da Venezuela à África do Sul, mais e mais nações irão apoiar a China e, ao fazê-lo, estarão defendendo a sua própria independência e a sua própria liberdade.

 

André Vltchek, 22 de Novembro de 2018

 

* - Os textos entre parêntesis rectos foram adicionados pelo tradutor, de forma a tornar mais clara a leitura.

 

Por Lula, de Andre Vltchek

André Vltchek é um filósofo, romancista, cineasta e jornalista de investigação. Cobriu e cobre guerras e conflitos em dezenas de países. Três dos seus últimos livros são  Revolutionary Optimism, Western Nihilism, o revolucionário romance Aurora e um trabalho best-seller de análise política: “Exposing Lies Of The Empire”. Em português, Vltchek vem de publicar o livro Por Lula. Veja os seus outros livros aqui. Assista ao Rwanda Gambit, o seu documentário inovador sobre o Ruanda e a República Democrática do Congo, assim como ao seu filme/diálogo com Noam Chomsky On Western Terrorism. Pode contactar André Vltchek através do seu site ou da sua conta no Twitter.

 

traduzido para o português por Luís Garcia

versão original em inglês: A desperate move to save Western Empire - US trade war with China

 

 

 

 

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