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Pensamentos Nómadas

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Últimos dias em Doğubeyazıt, por Luís Garcia

26.04.17 | Luís Garcia
 

 

DOS BALCÃS AO CÁUCASO – EPISÓDIO 24  

Últimos dias em Doğubeyazıt

  

bw  Luís Garcia  VIAGENS   

 

Estou bem, aonde não estou, porque eu só quero ir, aonde eu não vou, porque eu só estou bem, aonde não estou, porque eu só quero ir, aonde eu não vou, porque eu só estou bem... aonde não estou. (Estou Além, António Variações)

 

02/05.06.2014

Era suposto partirmos no dia 3 de Julho para Trabzon, cidade na costa turca do Mar Negro, mas a partida súbita em trabalho (para o Irão) do nosso anfitrião Mehmet trocou-nos as voltas. Com a ajuda e contactos de Mehmet, teríamos a certeza de obter o visto para o Irão (em Trabzon) no próprio dia. Sem ele, algo poderia correr mal, de forma que ficámos em vão à sua espera mais uns dias.


Foram dias calmos, com poucas saídas e muito tempo a escrever no escritório de Mehmet. Ainda assim, em cada um dos 4 dias aconteceram situações divertidas e/ou absurdas sempre que saímos à rua e até mesmo sem sair. Fica aqui um resumo dessas últimas peripécias em Doğubeyazıt.

 

Dia 2 de Julho

A manhã foi passada exclusivamente a lavar e limpar o apartamento/agência de Mehmet onde muitos viajantes, amigos e conhecidos de Mehmet vêm dormir, comer, beber chá, usar internet ou tomar banho. Tudo bem, são muito bem vindos, o problema é que ninguém se dá ao trabalho de manter a casa limpa. Chegou a um ponto em que as paredes da cozinha e casa de banho passaram de brancas a castanhas escuras, viscosas e colantes. Com tempo livre para gastar e de novo com água na cisterna, fizemos a casa voltar a brilhar e cheirar bem!


À tarde saímos para imprimir umas fotos. Na Turquia chá nunca falta, de forma que tivemos que aceitar beber um chá enquanto se imprimiam as folhas na papelaria. Depois pedimos emprestada uma tesoura para recortar as fotos e enquanto o fizemos bebemos ainda um café a cada, também de graça. Também deu para rir, quando um dos muitos curdos dentro da livraria apontou para a bandeira curda na nossa mala e perguntou-nos se era a bandeira do Brasil!?! Ah, coitado, não conseguiu escapar ao gozo do resto dos curdos presentes! 


De volta a casa para montar o quadro (para oferecer a Mehmet) com as fotografias imprimidas, fomos encontrar Mahmud à nossa espera na sala principal. Coincidência, estávamos a planear telefonar-lhe para saber se podia nos emprestar o jipe e ei-lo à nossa espera. Mas não, o seu irmão levou o jipe para ir a outra cidade, não teríamos jipe desta vez. Azar.


À noite fomos passear com o nosso amigo Armağan, que nos comprou doces pelo caminho, até à zona do costume onde nos enchíamos de chás todas as noites. Desta vez houve um extra, aprender a jogar tavla, o jogo de tabuleiro mais jogado na Turquia. A caminho da casa da família de Armağan encontrámos um amigo seu: mais doces e figos secos! Na casa da família de Armağan, com a sua eufórica mãe (Fatma) e a sua querida irmã (Derya), passámos um belo serão a rir, conversar e comer! Que sensação de estar em casa entre família! 

 

Dia 3 de Julho

O dia mais calmo da viagem. Manhã a dormir, tarde a escrever, noite convívio com a nossa família adoptiva em sua casa: Armagan, a sua mãe Fatma e a sua irmã Derya. Quanto ao Pai, Mehmet Arik, continuava no Irão por mais uns dias ganhando a vida como sabe (organização de excursões turísticas).

 

Dia 4 de Julho

Depois de almoço, aborrecidos de estar em casa, pedimos 2 bicicletas emprestadas aos suecos (que ainda continuavam a dormir no quarto de visitas da agência) e fomos desbravar terreno em direcção ao monte Ararat, sem plano nem rota programada, apenas com a omnipresente vontade de explorar lugares desconhecidos e encontrar outras gentes…


Assim que saímos de Doğubeyazıt, deixámos a estrada principal e seguimos a direito com as bicicletas, atravessando campos de variadas cores e formas, como um dinâmico caleidoscópio que nos obrigava a sair constantemente da bicicleta para tirar “só mais uma foto”… e passou-se bem um dia assim, sobretudo quando se tem o monte Ararat pela frente e se está numa planície rodeada a 360º por uma imponente cadeia de montanhosa.

 

 

Umas horas depois de sair de casa, e após ter vistos rebanhos, encontrado gente, descansado em cima de fardos de palha, e por aí fora, estávamos por fim a uns metros da aldeia que avistáramos ao longe, no sopé do Ararat. Estar tão perto e tão longe, uns 15 ou 20 metros de pântano entre nós e a aldeia de Demir Tepe obrigou-nos a sair das bicicletas sem saber o que fazer. Felizmente encontrámos uns camponeses perto e fomos pedir ajuda. Uma jovem muito simpática que se preparava para voltar para casa chamou-nos e aconselhou-nos a seguir os seus passos calculados por entre o pântano. Para não estragar as botas, prendemo-las às bicicletas e atravessámos o pântano descalços. Do outro lado do pântano fomos encontrar a casa desta sorridente jovem e a sua acolhedora família que nos deu água para lavar as pernas e nos encheu as garrafas com água gelada que bem precisávamos! Como de costume, a mãe apareceu com chá e lá ficámos quase até ao por-do-sol na “treta” com gente curiosa como nós, com muita vontade de ouvir e perguntar, de descobrir as diferenças e semelhanças que separaram o seu “mundo” do “mundo” deste dois maluquinhos que atravessam pântanos de bicicleta… ah, que tarde linda passada em frente ao monte Ararat.

 

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Ao pôr-do-sol fomos finalmente dar uma volta de bicicleta pela aldeia de Demir Tepe, para depois nos metermos à estrada em ritmo acelerado receosos de ter de andar de bicicleta à noite numa zona sem iluminação e com tanto “piloto de formula 1”! Mas não, não chegámos a por as rodas das bicicletas no asfalto da estrada principal. Quando nos faltava apenas 200 metros de terra batida (e ainda 5km para Doğubeyazıt) uma carrinha parou e dela saiu um senhor com vontade de ajudar. Meteu as bicicletas dentro da carrinha e prometeu nos levar a Doğubeyazıt. 1 km à frente parou numa fábrica de cimento que nos garantiu ser sua e convidou-nos para jantar na cantina onde comem os seus empregados! Ah, que banquete, sobretudo pela qualidade da comida! Findo o jantar, voltámos à carrinha e o gentil senhor foi nos deixar em frente à porta da agência de Mehmet, ou seja, à porta de casa…. que luxo!
À noite, fomos ao sítio do costume para conversas e chás… 

 

Dia 5 de Julho

O grande momento da manhã foi descobrir que havia um camião dos bombeiros estacionado num parque perto da agência a distribuir gratuitamente água. Como já não havia uma gota de água na nossa cisterna, nem sequer nos garrafões, andámos para trás e para a frente com garrafões de 20 e de 5 litros, com a ajuda de 2 miúdos que vieram para ganhar uns trocos extra. Quando já não nos podíamos mexer, fomos chamar os suecos (os tais que residem há semanas na agência para nos ajudar!

 

Durante o resto do dia passei um bocado no escritório, saindo com Claire para ir jogar à bola junto a uma vintena de miúdos curdos endiabrados, na praça imunda e fétida por detrás do edifício da agência. À noite, para a despedida, voltámos ao sítio do costume para mais chás e conversas. Ah, é verdade, Claire voltou a receber umas prendas “meio maradas” do pessoal dos chás… mundo louco, hehe!

 

Álbuns de fotografia

 

Luís Garcia, 26.04.2017, Ribamar, Portugal

 

Se quiser ler mais estórias desta viajem clique em:

Dos Balcãs ao Cáucaso

 

 

 
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