Só a ciência pode salvar o mundo
Theodore Zeldin, académico da Universidade de Oxford, criticou recentemente o facto de a meditação estar a levar as pessoas a desperdiçarem tempo precioso que poderiam utilizar para pensar.
A meditação é uma ferramenta absolutamente nula no que concerne à resolução de problemas. O tempo dispensado em meditação não serve para mais do que distrair as pessoas. Sendo que a distração é a palavra de ordem de um tempo no qual as pessoas preferem choques elétricos a isolarem-se para pensar.
Não será a meditação, baseada numa filosofia niilista, de negação de uma vida irremediavelmente composta de sofrimento e horror, a resolver o que quer que seja. Até compreendo que para pessoas que vivem na mais absoluta miséria, e principalmente em tempos antigos, a meditação e a religião pudessem ser as suas duas únicas fontes de alívio.
Hoje em dia, não poderiam representar mais do que duas ferramentas que, por via do ascetismo e da aceitação passiva das condições em que cada um se encontra, havendo uma especial apologia do estado de pobreza, operam a favor do comodismo e da permissividade para com o sistema instituído.
As pessoas não precisam de histórias da carochinha, de amigos imaginários omnipotentes nem de promessas de paraísos no além. Precisam, sim, de ultrapassar determinadas barreiras culturais, como sendo o sistema monetário, o nacionalismo, um sistema educativo elaborado com base no modelo iluminista do século XIX no qual ainda impera a distinção entre pessoa académica e não académica, a competição, a noção de propriedade, a noção de castigo, e principalmente todo um sistema de escassez insustentável, não científico e sem fundamento real, sem o qual nem sequer poderia ser suportada uma hierarquização social com base no poder e riqueza ostentados através dos bens materiais. Ideias criadas pelos teóricos de direita que, de uma forma não científica, atribuem à “natureza humana” a malícia associada à competitividade, à ambição ou à ganância.
As pessoas não precisam de métodos paliativos, nem de tratamentos sintomáticos. Precisam, isso sim, que seja tratada a doença do capitalismo. As pessoas precisam de acesso incondicional a comida, água potável, casa, cuidados de saúde, ar limpo, educação, informação e cultura relevantes e úteis, um bom sistema de transportes e, acima de tudo, de um planeta com recursos e condições para sustentar vida. E, para isso, temos a ciência e a tecnologia, com a capacidade para basear toda a produção energética necessária em energias renováveis, para gerir os recursos materiais do planeta de uma forma sustentada e de acesso universal, com respeito pelo ambiente e pelos outros animais.
O que precisamos é de estimulação do sentido crítico, da curiosidade, de educação científica para debelar dogmas obscurantistas que teimam em permear a cultura hegemónica, de não ter medo da tecnologia quando não instrumentalizada com fins perversos e de percebermos que todos produzimos mais e melhor num sistema cooperativo.
Ricardo Lopes