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Pensamentos Nómadas

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Será que aí vem um golpe militar ou uma invasão para a Venezuela?, por Kevin Zeese e Margaret Flowers

11.03.19 | Luís Garcia

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Margaret Flowers  Kevin Zeese Política Sociedade

 

AVISO: A versão original em inglês deste artigo é antiga e data de 13 de Fevereiro de 2018. A ideia desta tradução, agora, é a de demonstrar que Margaret Flowers, Kevin Zeese e muitos outras pessoas atentas há muito previam e analisavam a tentativa de golpe e invasão da Venezuela que as ovelhizadas massas tugas andam engolindo da forma mais infantil e patética! 

 

Discursando na sua alma mater, a Universidade do Texas, no dia 1 de Fevereiro, o Secretário de Estado Tillerson sugeriu um potencial golpe militar na VenezuelaTillerson visitou depois países aliados na América Latina, clamando por uma mudança de regime e por mais sanções económicas contra a Venezuela. Tillerson está considerando proibir o processamento e venda de petróleo venezuelano nos Estados Unidos e está desencorajando outros países de comprar petróleo venezuelano. Além disso, os EUA estão preparando o terreno para uma guerra contra a Venezuela.

 

Numa série de tuites, o senador republicano da Flórida, Marco Rubio, onde vivem muitos oligarcas venezuelanos, apelou a um golpe militar na Venezuela.

 

 

 

Que absurdo não é, remover um presidente eleito com um golpe militar, de forma a restaurar a democracia? E há quem leve isto a sério? Esta frase feita de Rubio e Tillerson parece ser a absurda posição pública da política dos EUA.

 

Os Estados Unidos têm vindo a buscar uma mudança de regime na Venezuela desde que Hugo Chávez foi eleito em 1998. Trump juntou-se aos presidentes Obama e Bush, que o antecederam, nos esforços contínuos para derrubar o governo [venezuelano] e colocar no seu lugar um oligarca amigo dos EUA.

 

O  mais perto que estiveram foi em 2002 quando um golpe militar removeu Chávez. O comandante-em-chefe das forças armadas venezuelanas anunciou que Chávez tinha renunciado e Pedro Carmona, da Câmara de Comércio da Venezuela, tornou-se presidente interino. Carmona dissolveu a Assembleia Nacional e o Supremo Tribunal e declarou a constituição nula. O povo cercou o Palácio Presidencial e ocupou as estações de televisão; Carmona renunciou e fugiu para a Colômbia. Em 47 horas, civis e militares restauraram a presidência de Chávez. O golpe foi um ponto de viragem que fortaleceu a Revolução Bolivariana (demonstrando que o povo podia derrotar um golpe) e mostrou as verdadeiras faces dos EUA e dos oligarcas [venezuelanos].

 

Tácticas Norte-Americanas de Mudança de Regime Falharam na Venezuela

Os EUA e os oligarcas [venezuelanos] continuam com os seus esforços para reverter a Revolução Bolivariana. Os EUA têm uma longo historial de mudanças de regime em todo o mundo e tem tentado todas as suas ferramentas de mudança de regime na Venezuela. Até agora, falharam.

 

Guerra Económica

Destruir a economia venezuelana tem sido uma contínua campanha dos EUA e dos oligarcas. Faz lembrar o golpe de estado norte-americano no Chile que pôs termo à presidência de Salvador Allende. Para criar as condições certas para o golpe chileno, o presidente Nixon ordenou que a CIA "fizesse a economia gritar".

 

Henry Kissinger concebeu o golpe, sabendo que um milhar de milhões de dólares em investimentos estava em jogo. Ele temia também que o "insidioso efeito de dominó" do exemplo chileno levasse a que outros países rompessem com os Estados Unidos e com o capitalismo. O secretário principal de Kissinger no Conselho de Segurança Nacional, Viron Vaky, opôs-se ao golpe afirmando: "O que propomos é claramente uma violação dos nossos próprios princípios e ideais políticos .... Se estes princípios têm algum significado, só deveremos nos afastar deles apenas e quando a nossa própria sobrevivência... estiver em jogo.”

 

Estas objecções são igualmente aplicáveis em relação aos recentes golpes norte-americanos, incluindo na Venezuela e nas Honduras, na Ucrânia e noBrasil, entre outros. Allende morreu durante o golpe e escreveu estas suas últimas palavras ao povo do Chile, em especial aos trabalhadores: "Viva o povo! Viva os trabalhadores!". Allende foi substituído por Augusto Pinochet, um brutal e violento ditador.

 

Durante décadas, os EUA têm travado uma guerra económica, "fazendo a economia gritar" na Venezuela. Os venezuelanos mais ricos têm conduzido actos desabotagem económica apoiados pelos EUA com sanções e outras tácticas. Estas incluem armazenar alimentos, suprimentos e outras necessidades em armazéns ou na Colômbia, enquanto os mercados venezuelanos ficam vazios. A escassez é usada para alimentar protestos, como "A Marcha das Panelas Vazias", uma fotocópia das marchas no Chile antes do golpe de 11 de Setembro de 1973. A guerra económica tem vindo a sofrer um crescendo desde os governos de Obama e Trump, com Tillerson agora pedindo sanções económicas ao petróleo.

 

O presidente Maduro reconhece haver dificuldades económicas, mas também disse que as sanções abrem a oportunidade para uma nova era de independência e "dá início à fase de pós-dominação dos Estados Unidos, com a Venezuela novamente no centro desta luta pela dignidade e pela liberdade". A segunda pessoa no comando do Partido Socialista, Diosdado Cabello, afirmou que "[Se eles] aplicam sanções, nós aplicaremos eleições”.

 

Protestos da Oposição

Outra ferramenta comum de mudança de regime dos EUA é a de apoiar protestos de oposição. O governo de Trump recomeçou com as operações de mudança de regime na Venezuela e os protestos anti-Maduro, que começaram sob Obama, e que se tornaram agora ainda mais violentos. Os protestos da oposição incluem barricadas, atiradores furtivos e assassinatos, bem como ferimentos generalizados. Quando a polícia prendeu aqueles que usavam violência, os EUA alegaram que a Venezuela se opunha à liberdade de expressão e aos protestos.

 

A oposição tentou usar a repressão contra a violência como forma de implementar a táctica norte-americana de dividir os militares. Os meios de comunicação norte-americanos e ocidentais ignoraram a violência da oposição e culparam o governo venezuelano. A violência tornou-se tão extrema que parecia que a oposição estava a empurrar a Venezuela para uma guerra civil como a da Síria. Em vez disso, a violência da oposição acabou mal para quem a criou.

 

Os protestos violentos fazem parte do repertório de mudanças de regime dos EUA. Tal foi demonstrado no golpe de estado dos EUA na Ucrânia, onde os EUA gastaram cerca de 5 milhões de dólares para organizar a oposição ao governo, que incluindo também os EUA e a UE financiando manifestantes violentos. Esta táctica foi usada nos primeiros golpes de estado dos EUA, como o golpe de estado de 1953 contra o primeiro-ministro Mossadeq do Irão. Os EUA admitiram ter organizado esse golpe que pôs fim à breve experiência iraniana com democracia. Tal como no caso da Venezuela, uma das principais razões para o golpe no Irão foi o controlo sobre o petróleo do país.

 

Financiando a Oposição

Tem havido um investimento massivo dos EUA na criação de oposição ao governo venezuelano. Dezenas de milhões de dólares foram abertamente gastos através da USAID, o NED e outras agências norte-americanas relacionadas com mudanças de regime. Não se sabe quanto é que a CIA gastou do seu secreto orçamento, mas a CIA também esteve envolvida na Venezuela. O actual director da CIA, Mike Pompeo, disse que está "esperançoso que possa haver uma transição na Venezuela.”

 

Os Estados Unidos formaram também líderes de movimentos da oposição como Leopoldo López, que foi educado em escolas privadas nos EUA, incluindo o Kenyon College associado à CIA. López formou-se na Harvard Kennedy School of Government e fez repetidas visitas à agência de mudanças de regime, o National Republican Institute.

 

Eleições

Enquanto os EUA apelidam a Venezuela de ditadura, esta é, de facto, uma forte democracia com um excelente sistema de votação. Observadores eleitorais monitorizam todas as eleições.

 

Em 2016, a crise económica levou a oposição a ganhar a maioria na Assembleia Nacional. Um dos seus primeiros actos foi aprovar uma lei de amnistia. A lei descreve 17 anos de crimes, incluindo crimes violentos e terrorismo cometidos pela oposição. Foi uma admissão dos crimes desde o golpe de 2002 até 2016. A lei demonstrou haver violenta traição contra a Venezuela. Um mês depois, o Supremo Tribunal da Venezuela decidiu que a lei de amnistia era inconstitucional. Os média dos EUA, os defensores de mudança de regime e grupos anti-Venezuela de direitos humanos atacaram a decisão do Supremo Tribunal, provando a sua aliança com os criminosos confessos.

 

Anos de violentos protestos e tentativas de mudança de regime, e depois admitir os seus crimes num projecto de lei de amnistia, fizeram com que aqueles que se opõem à Revolução Bolivariana perdessem o poder e se tornassem impopulares. Em três recentes eleições, o partido de Maduro ganhou as eleições regionais, locais e para a Assembleia Constituinte.

 

A Comissão Eleitoral anunciou que a eleição presidencial será realizada no dia 22 de Abril. Maduro concorrerá à reeleição pelo Partido Socialista Unido da Venezuela. Líderes da oposição, como Henry Ramos e Henri Falcon, manifestaram interesse em concorrer, mas a oposição não decidiu se iria participar. Henrique Capriles, que perdeu por pouco para Maduro, na última eleição, foi impedido de concorrer ao cargo por causa de irregularidades na sua campanha, incluindo receber doações estrangeiras. Capriles tem sido um dos líderes dos violentos protestos. Quando a proibição foi anunciada, ele apelou a protestos para remover Maduro do cargo. Também foi impedido Leopoldo López, outro líder dos protestos violentos e que está em prisão domiciliar cumprindo uma sentença de treze anos por incitação à violência.

 

Agora, os Estados Unidos dizem que não reconhecerão a eleição presidencial e apelam ao golpe militar. Durante dois anos, a oposição exigiu eleições presidenciais, mas agora já não é claro que esta venha a participar. A oposição sabe que é impopular e que é provável que Maduro seja reeleito.

 

Será que vem aí uma guerra contra a Venezuela?

Na Venezuela, um golpe militar enfrenta muitos desafios, visto que o povo, incluindo os militares, encontram-se bem educados sobre o imperialismo norte-americano. E ter Tillerson abertamente instigando um golpe militar torna tudo ainda mais difícil.

 

O governo e a oposição negociaram recentemente um acordo de paz intitulado "Acordo de coexistência democrática para a Venezuela". Eles concordaram em todas as questões, incluindo acabar com as sanções económicas, agendar eleições e muito mais. Eles concordaram com a data das próximas eleições presidenciais. Estavam originalmente previsto para Março mas, numa concessão à oposição, foram adiadas para o final de Abril. Maduro assinou o acordo, embora a oposição não tenha participado da cerimónia de assinatura. A oposição recuou depois do presidente colombiano Santos, que se reunia com o secretário Tillerson, ter lhes ligado e dito para não assinarem. Maduro vai agora tornar o acordo numa questão pública, ao permitir que o povo da Venezuela o assine.

 

Não reconhecer as eleições e pedir um golpe militar já é mau o suficiente, mas mais desconcertante é saber que o Almirante Kurt Tidd, chefe da Southcom, realizou uma reunião à porta fechada na Colômbia após a visita de Tillerson. O tema foi "desestabilização regional" e a Venezuela foi um dos pontos em foco.

 

Um ataque militar contra a Venezuela a partir das fronteiras colombianas e brasileiras não é assim tão improvável. Em Janeiro, o New York Times perguntava: "devem os militares norte-americanos invadir a Venezuela?". O presidente Trump disse que os EUA estão considerando usar a força militar dos EUA contra a Venezuela. O seu chefe de gabinete, John Kelly, era anteriormente o general encarregado pela Southcom. Tidd defendeu que a crise, criada em grande parte pela guerra económica contra a Venezuela, requer acção militar por razões humanitárias.

 

Os preparativos de guerra já estão em andamento na Colômbia, país que, para os EUA, desempenha o papel de Israel na América Latina. O governo golpista do Brasil aumentou o seu orçamento militar em 36% e participou na Operação America United, o maior exercício militar conjunto da história da América Latina. Foi um dos quatro exercícios militares realizados pelos EUA na América Latina em 2017, em colaboração com o Brasil, a Colômbia e o Peru. O Congresso dos EUA ordenou que o Pentágono desenvolvesse contingências militares para a Venezuela, através da Lei de Autorização de Defesa Nacional de 2017.

 

Embora haja oposição às bases militares dos EUA, James Patrick Jordan, no nosso programa de rádio, explicou que os EUA têm bases militares na Colômbia e nas Caraíbas e acordos militares com países da região: e que, portanto, a Venezuela já está cercada.

 

Os Estados Unidos têm como alvo a Venezuela porque a Revolução Bolivariana constitui um exemplo [a seguir] contra o imperialismo norte-americano. Uma invasão da Venezuela tornar-se-á em mais um pântano de guerra que matará inocentes venezuelanos, soldados americanos e outros, numa luta pelo controlo do petróleo. Aqueles nos Estados Unidos que apoiam a autodeterminação dos países, devem mostrar solidariedade para com os venezuelanos, expor a agenda dos EUA e denunciar publicamente [esta tentativa] de mudança de regime. É preciso educar as pessoas sobre o que realmente está acontecendo na Venezuela, de forma a destruir a falsa narrativa mediática.

 

Compartilhe este artigo e a entrevista que demos à Clearing The FOG sobre a Venezuela e o papel dos EUA na América Latina. O destino da Venezuela é crítico para milhões de latino-americanos que lutam para sobreviver sob o domínio do Império Norte-Americano.

 

Kevin Zeese e Margaret Flowers

 

Traduzido para o português por Luís Garcia

Versão original em inglês aqui.

 

 

 

 

 

 

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