Secretário-geral das Nações Unidas..., por Ricardo Lopes
Pronto, lá ganhou o senhor simpático. Ou melhor, o senhor que parece simpático também porque parece o Shrek. Ou o senhor que parece simpático porque é muito pelas criancinhas desfavorecidas, pelas pessoas pobrezinhas. Porquê? Porque as vai visitar de vez em quando, e faz muito por elas. Não, não faz muito por elas. Ou, pelo menos, não é por esta via que fará muito por elas. Aliás, por esta via não fará nada, com toda a certeza.
Hoje em dia, qualquer pessoa que represente uma instituição reconhecida ou simplesmente alguém que tenha mais tempo de antena do que o normal na praça pública (um famoso) só tem de contactar as autoridades locais para agendar uma visita, arranjar voo, tomar as vacinas, entrar no avião, sair do outro lado, arranjar um preto que conduza o jeep até à aldeia de barracas ou seja o que for que lá há como habitações, sair do jeep, pedir ao preto que conduziu o jeep para juntar as criancinhas da aldeia toda, isto tudo documentado desde o início por uma equipa de filmagem, que isto não é para andar a ser um benfeitor sem o reconhecimento público (deve ser a versão neoliberal do benfeitor moderno), brincar um bocado com as criancinhas, adotar alguma ou não, que isso também não é absolutamente necessário para angariar a reputação, e voltar para casa. Entretanto, a vida para a família da criança adotada continua a ser exatamente a mesma, a vida no país e a vida para a esmagadora maioria da população mundial. A avó do menino adotado continua a ter de percorrer todos os dias 15 kms para ir a rio buscar água potável, os pais, irmãos e restante família continuam a ir cagar ao rio para depois ir beber água a jusante e apanhar disenteria, da qual normalmente morrem.
Agora, estas estupidezes à parte, há ainda uma outra que me incomoda bastante. Desde quando é que deu ao pessoal de esquerda para andar a defender candidaturas de nacionais a cargos internacionais, pelo simples facto de serem nacionais? Mas não sabem que o nacionalismo é algo retrógrado, criado há muito tempo pelas elites sociais, e imposto de cima para baixo sobre a restante população, para facilitar a manutenção do status quo? Para que é que serve, então, tanto curso de sociologia, que é uma espécie de pré-requisito para ser militante de esquerda (pelo menos do BE), se nem sequer esta merda sabem?
Ricardo Lopes