Roubo de órgãos, ataques encenados: painel da ONU detalha actividades criminosas dos White Helmets enquanto os média bocejam, por Eva Bartlett
Silêncio absoluto. É esse o som dos meios de comunicação corporativos ocidentais dias depois de uma apresentação de mais de uma hora sobre os White Helmets nas Nações Unidas, no dia 20 de Dezembro.
O mais provável é que o silêncio se deva à documentação irrefutável apresentada sobre o envolvimento do falso grupo de primeiros-socorros em actividades criminosas, que incluem o roubo de órgãos, trabalho com terroristas (incluindo como atiradores furtivos), encenando falsos operações de socorro, assalto a civis e outros comportamentos não-socorristas.
No painel estava presente um dos alvos de difamação preferidos dos grandes meios de comunicação, a jornalista britânica Vanessa Beeley, que deu uma palestra baseada em factos fruto dos seus anos de pesquisa sobre a criação, financiamento e nefastas actividades dos White Helmets, pesquisa que incluiu diversas visitas a centros dos White Helmets, inúmeros testemunhos de civis sírios e até uma entrevista com o líder dos White Helmets em Dara'a al-Balad, Síria.
Maxim Grigoriev, director da Fundação para o Estudo da Democracia (membro da rede global de pesquisa antiterrorista da ONU) discursou durante muito tempo, falando em detalhe sobre algumas das mais de 100 testemunhas oculares com as quais a sua fundação realizou entrevistas.
Estas incluem mais de 40 membros de White Helmets, 15 ex-terroristas, 50 pessoas de áreas onde operavam terroristas e White Helmets, e mais 500 entrevistados através de uma sondagem em Aleppo e Daraa.
Entre os testemunhos apresentados por Grigoriev havia numerosos relatos sobre o envolvimento dos White Helmets no roubo de órgãos.
Um chefe de enfermagem em Aleppo é citado como tendo visto o corpo de um vizinho seu que tinha sido levado pelos White Helmets para a Turquia para "tratamento". "Levantei o lençol e vi uma grande cicatriz da garganta ao estômago... toquei-lhe com a mão e percebi que não havia órgãos.”
Outro entrevistado disse: "uma pessoa com uma pequena lesão é socorrida... e depois trazida de volta com o estômago aberto e sem os órgãos internos.”
As entrevistas com civis, com os White Helmets e mesmo com terroristas puseram fim às explicações da NATO e dos seus subservientes meios de comunicação de que nos White Helmets há algumas maçãs podres, mas que, no geral, são constituídos por humanitários socorristas.
Por exemplo, um civil sírio, Omar al-Mustafa, é citado dizendo:
Quase todas as pessoas que trabalhavam em centros próximos dos White Helmets eram membros da al-Nusra [al-Qaeda na Síria] ou estavam ligados a ela. Eu tentei me juntar aos White Helmets, mas disseram-me que se eu não pertencesse à al-Nusra, eles não poderiam me empregar.”
Outras testemunhas detalharam os encenados e falsos resgates e ataques químicos. Omar al-Mustafa foi citado afirmando que:
Eu vi-os (White Helmets) trazer crianças que estavam vivas e colocá-las no chão como se tivessem morrido num ataque químico.”
Os testemunhos incriminam não só a organização dos White Helmets, como também os médicos que, em 2016, eram bajulados pelos média corporativos.
De acordo com um entrevistado, Mohamed Bashir Biram, a sua tentativa de levar o seu pai para o hospital Al-Bayan, afiliado aos White Helmets, fracassou. Ele disse: "Como o meu pai não era um guerrilheiro, os médicos do hospital recusaram ajudá-lo e ele acabou por morrer.”
Mas, em 2016, os média ocidentais elogiavam os mesmos valentes médicos, no seu crescendo de propaganda de guerra em torno de Aleppo.
Muitos outros jornalistas independentes têm corroborado aspectos daquilo que os palestrantes (incluindo também o jornalista Sírio Rafiq Lotef e representantes russos e sírios para a ONU, os embaixadores Vassily Nebenzia e Bashar al-Ja'afari) descreveram em detalhe.
Nas minhas próprias visitas às vilas de Guta oriental entre Abril e Maio passados, os moradores também me falaram de roubo de órgãos, encenações de resgates e o White Helmets trabalhando com o Jaysh al-Islam [uma organização terrorista particularmente bárbara]. Um homem de Aleppo também me os descreveu como ladrões que roubam civis e não como socorristas.
Silêncio copy-paste dos média corporativos
Os jornalistas presentes na apresentação não mostraram interesse em colocar consequentes questões sobre roubo de órgãos, resgates encenados ou qualquer um dos outros conteúdos apresentados. Sem surpresa, preferiram fazer perguntas sobre outras questões relacionadas com a Síria.
Um jornalista da CBS não tinha uma única pergunta sobre o que havia sido apresentado, embora a CBS tenha relatado repetidamente sobre os White Helmets. Mas, as suas reportagens, tal como a maioria das dos média corporativos, eram daquela clara propaganda que é a cobertura dada pelos meios informação corporativos.
Tanto quanto sei, quatro dias após a apresentação nas Nações Unidas, nenhum meio de comunicação corporativo escreveu sobre o evento nem o seu crítico conteúdo.
Isto apesar do facto dos média corporativos ocidental terem, durante anos, voluntariamente feito propaganda sobre os White Helmets e atacado todos aqueles que ousam apresentar testemunhos e elementos de prova recolhidos no terreno (na Síria), contradizendo a narrativa oficial.
Média russos, sírios e libaneses fizeram reportagens sobre a apresentação. Os jornalistas dos média corporativos ocidentais, pois claro, se um dia se derem ao trabalho de mencioná-la, irão por certo ignorar as provas incriminatórias apresentadas pelos convidados e, em vez disso, acusarão a Rússia de andar a perseguir os White Helmets.
Antes da apresentação, uma série de publicações saíram com artigos fazendo referência uns aos outros e, de facto, ecoando reivindicações já repetidamente pronunciadas sobre uma "campanha de desinformação russa" contra os White Helmets.
Isso mesmo, é isto o melhor que eles têm para apresentar.
"Grande Rússia má" manchando a puríssima imagem dos White Helmets, um tema reutilizado ad nauseum ao longo do último ano ou dois, e que eu abordei no início de Janeiro de 2018, quando estava sendo atacada por questionar os White Helmets.
Na minha refutação contra uma difamação do The Guardian de meados de Dezembro de 2017, ressaltei que não foi a Rússia quem começou a tomar atenção às afiliações dos White Helmets, ao seu financiamento e ao seu papel na guerra de propaganda, mas sim dois investigadores americanos independentes.
O jornalista canadiano Cory Morningstar, em Setembro de 2014, expôs o papel da Purpose Inc, uma empresa de Relações Públicas de Nova Iorque, em campanhas de marketing para os White Helmets.
E, como eu escrevi, "Em Abril de 2015, o jornalista independente americano revelou que os White Helmets tinham sido fundados por potências ocidentais e geridos por um ex-soldado britânico", e chamei à atenção para "o papel dos 'socorristas' nos seus apelos a um intervenção ocidental: uma zona de exclusão aérea na Síria.”
Estes e as numerosas subsequentes investigações de Vanessa Beeley, inclusive no terreno, na Síria, onde recolheu inúmeros testemunhos de civis sírios sobre a questão dos White Helmets, são bem anteriores a qualquer notícia dos meios de comunicação russos sobre o grupo.
Que média e outros organismos russos tenham feito as suas próprias investigações, desde então, não equivale a uma "campanha de desinformação", mas sim a fazer o trabalho que os média corporativos são, claramente, incapaz de fazer, e que não estão dispostos a fazer.
Por que razão os média não escreveram sobre esta apresentação ou, como é seu costume, não emitiram ainda mais difamações contra os convidados presentes?
Não o fizeram porque estão encurralados e, embora sempre possam tentar usar as suas calúnias de carácter juvenil, estes não podem refutar os factos, nem os inúmeros testemunhos que corroboram ainda mais testemunhos já recolhidos por jornalistas independentes ao longo destes anos.
Ou como afirmou o embaixador Nebenzia:
Compreendemos por que razão os White Helmets estão sendo defendidos pelas capitais dos países ocidentais. Estes não escondem que forneceram substancial apoio financeiro a esta organização e que instrumentalizaram-na de forma a perseguir objectivos políticos disfarçados de assistência humanitária. É lógico [que queiram] proteger os seus activos."
Na semana passada, soube-se que o repórter alemão do Der Spiegel, Claas Relotius, vencedor do prémio de repórter Alemão 2018, tinha falsificado vários dos seus artigos. Um artigo sobre essas falsas produções chama atenção para o facto de Relotius ter "confessado ter fabricado pelo menos 14 dos seus 55 artigos", incluindo uma "história sobre um menino sírio que acreditava ter desencadeado a guerra civil no país graças ao seu graffiti, um artigo que venceu o Prémio de Repórter Alemão há apenas três semanas atrás e que, afinal, foi inventado.”
Um ex-jornalista alemão, Udo Ulfkotte, em 2014, atingiu o seu ponto de inflexão e admitiu ter, durante anos, mentindo a pedido de ocidentais e de interesses anti-Rússia, admitindo ter feito propaganda contra a Rússia depois de ter sido subornado por bilionários e pelos norte-americanos para "não relatar exactamente a verdade.”
Agora que 2018, um ano de incríveis notícias falsas produzidas pelos média corporativos, chega ao fim, também quase ao fim chega a credibilidade dos média que louvam os White Helmets.
Dada a escandalosa profundidade das suas mentiras, é improvável que os jornalistas corporativos tenham um momento Ulfkotte e admitam as suas inúmeras falsidades.
Mas isso nem sequer é relevante, visto que os média corporativos ocidentais e o órgão de propaganda conhecido como White Helmets, por eles apoiado, estão se tornando cada vez mais irrelevantes.
Eva Bartlett
Eva Bartlett é uma jornalista freelancer e activista com uma longa experiência em Gaza e na Síria. O seu trabalho pode ser lido no seu site In Gaza e noutros meios de comunicação alternativos como a RT.
traduzido para o português por Luís Garcia
versão original em inglês aqui.