Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Pensamentos Nómadas

Nomadic Thoughts - Pensées Nomades - Кочевые Мысли - الأفكار البدوية - 游牧理念

Pensamentos Nómadas

Nomadic Thoughts - Pensées Nomades - Кочевые Мысли - الأفكار البدوية - 游牧理念

Revolução na Ucrânia? Sim, por favor! Revolução em França? Estado de Direito!, por Danielle Ryan ‏

06.12.18 | Luís Garcia

Revolução na Ucrânia, Sim, por favor, Revoluç

 

Danielle Ryan Política Sociedade

 

Quando violentos protestos abalaram Kiev em 2013, analistas e líderes ocidentais rapidamente apoiaram a "revolução" anti-governo mas, depois de semanas de protestos dos Coletes Amarelos em França, a reacção tem sido muito diferente.

 

Se, há cinco anos atrás, governos e analistas acidentais condenaram o governo ucraniano de Viktor Yanukovych e pediram que este cedesse às exigências dos manifestantes, desta vez, estão condenando os manifestantes franceses e pedindo ao presidente Emmanuel Macron, cuja popularidade é de cerca de 25%,  se mantenha firme contra os insatisfeitos cidadãos .
 
 

A cobertura dos meios de comunicação ocidentais foi também drasticamente diferente, com relatos descrevendo manifestantes franceses como desordeiros, enquanto os manifestantes ucranianos foram descritos como revolucionários. Esta contrastante reacção levou muitos a perguntar-se: se uma suposta revolução é permitida (e até aplaudida) na Ucrânia, por que não o é na França?

 

 

 

A polícia francesa reprimiu os manifestantes "Coletes Amarelos" com sangrentos confrontos, durante os quais foram usados canhões de água e gás lacrimogéneo para dispersar enormes multidões, as quais responderam atirando pedras contra a polícia. A amplitude do caos gerado levou a que alguns funcionários do govenro chegassem a ponderar impor um estado de emergência e levantou preocupações sobre o possível alastrar do movimento protestante a outros países como a Alemanha ou a Holanda. Preocupados, funcionários do governo e comentadores políticos franceses e europeus têm avidamente apelado ao respeito pelo "Estado de Direito" e para que os manifestantes violentos respeitem as instituições francesas.

 

Em Kiev, no entanto, quando os manifestantes incendiaram carros, destruíram propriedade pública e atacaram policias, foram considerados como heróis. Lei e ordem eram de pouca importância para os meios de comunicação  ocidentais que apoiaram o movimento Maidan do fundo dos seus corações. Da mesma forma, quando os protestos contra o governo sírio começaram em 2011, os líderes e comentadores ocidentais defenderam o rápido derrube do governo e forneceram apoio moral (e material) aos rebeldes anti-governo durante a subsequente guerra civil  que dilacerou o país.

 

Durante a sua visita à Argentina para a Cimeria dos G20 do último fim de semana, Macron prometeu que "não concederia nada" aos "bandidos" que querem "destruição e desordem". A sua falta de vontade para ceder diante de um massivo movimento de protestos, no entanto, não despoletou apelos nenhuns para que Macron se demitisse e respeitasse a vontade popular, tal como tinha acontecido na Ucrânia e na Síria.

 

No Twitter, o famoso comentador político francês e personalidade mediática, Bernard-Henri Lévy, atacou os manifestantes Coletes Amarelos, acusando-os de "brincar com fogo" e dizendo que tudo o que importa é o respeito pelas instituições francesas e pelo presidente democraticamente eleito. 

 

 

Os seguidores de Lévy, no entanto, foram rápidos em lembrá-lo de que a sua reacção aos protestos na Ucrânia havia sido bem diferente. Lévy, que se encontrava na Ucrânia durante o movimento Euromaidan, promoveu-a activamente, fazendo discursos e tweetando entusiasticamente sobre os protestos. Quando Yanukovych foi derrubado, Lévy descreveu o acotecimento como uma "derrota histórica da tirania".

 

 

Enquanto os protestos continuavam na terceira semana, outros utilizadores do Twitter ridicularizavam a reacção ocidental contra movimentos governistas noutras regiões, com um utilizadora sugerindo, inclusive, que talvez centenas de especialistas árabes pudessem se reunir em extravagantes conferências com o intuito de decifrar as causas do fascinante movimento "Inverno Europeu".

 

 

 

Outro utilizador disse que é era hora de o presidente iraniano, Hassan Rouhani, pedir a Macron para mostrar “moderação” e garantir que a “liberdade de expressão e manifestação” seja respeitada em França.

 

 

Sarcasmo à parte, parece mesmo que revoluções violentas e mudanças de regime são apenas soluções suficientemente boas para crises em países distantes dos centros de influência e poder ocidentais, e que sejam liderados por governos que não cooperem [com a vontade dos poderes ocidentais]. Quando os rumores de revolução são ouvidos em Paris, onde Macron continua comprometido com a defesa de uma ordem mundial neoliberal centrada no Ocidente, a história é completamente diferente.

 

Danielle Ryan, 3 de Dezembro de 2018

 

Traduzido para o português por Luís Garcia

Versão original em inglês aqui.

 

 

 

 

Vá lá, siga-nos no Facebook! :)
visite-nos em: PensamentosNómadas