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Resumo do conflito sírio - parte 1, por Luís Garcia

07.09.16 | Luís Garcia
 

  

resumo do conflito sírio p1.jpg

Luís Garcia POLITICA 

Antes de começar a leitura deste artigo, aconselho-os a analisar o organigrama que preparei para o artigo anterior:

Formato Original Formato Reduzido

 

 

 

 

Por razões práticas irei, neste artigo, analisar o organigrama começando pelo canto superior direito (Países Aliados da Síria), e daí seguirei em círculo no sentido dos ponteiros do relógio até acabar no centro (Oposição Síria):

ordem.jpg

Países Aliados da Síria

Países aliados da Síria são aqueles que de alguma forma contribuem para a permanência ou fortalecimento do poder legítimo da Síria, ou seja, o governo de Bashar al-Assad (democraticamente eleito em 2014). Cuba destaca-se pela sua humanitária contribuição de equipamento médico e medicamentos. A Bielorrússia vende armamento ao governo sírio enquanto este combate as forças invasoras. Várias fontes afirmam sem provas que também Cuba, Venezuela, Coreia do Norte e outros fornecem armamento ao governo sírio.   

Cuba Bielorússia Iraque China

Incluo o Iraque na lista de aliados pois este e a Síria foram ambos invadidos pela Turquia e são ambos vítimas do terror do ISIS, al-Qaeda e outras organizações terroristas criadas pelos EUA, embora esteja ciente que o Iraque, enquanto país ocupado militarmente pelos EUA (um estado vassalo dos EUA portanto), poderia num determinado contexto  de coacção ser considerado um inimigo da Síria. Do governo do Iraque, estado ocupado pelos EUA, é de esperar que respeite submissamente o governo norte-americano. No entanto, a sua maioria xiita que de forma sistemática ganha as eleições democráticas, é obviamente pró-Irão (país xiita) e, em consequência, pró-governo de al-Assad, visto que o Irão apoia oficialmente o governo de al-Assad. O apoio do Irão à Síria nada tem a ver com religião (um é xiita, outro laico com governantes de várias religiões), é um apoio de cariz político e geoestratégico. Temos assim dois países (Iraque e Síria) ocupados por países ocidentais e atacados por organizações terroristas criadas no ocidente que naturalmente se aliam entre si e ambos com o Irão.

 

A China, embora tenha negado durante muito tempo, fornece ajuda humanitária, treino militar e treino de uso de equipamento militar chinês às forças armadas da Síria. Provavelmente fornecerá mais que treino, mas não existem factos disponíveis para o comprovar. Devido à arrogância imperialista dos EUA que tem ousado nestes últimos meses crescer exponencialmente as suas forças militares destacadas em torno da China, fazer enormes simulacros de guerra às portas da China e, sobretudo, violar o espaço aéreo e marítimo chinês de forma constante, o governo chinês decidiu-se por convidar formalmente o governo russo a criar uma "força militar anti-NATO conjunta". Como consequência imediata, é de esperar que a China aumente o apoio à Síria ou mesmo que se junte à coligação pró-Síria, também juntando-se assim à Rússia na restrita lista de estados com meios (e vontade?) para parar futuras iniciativas bélicas da polícia mundial, isto é, EUA e seus vassalos.

 

A China, embora por vezes pareça fazer crer ao mundo que não sabe, é país de origem de uma organização terrorista criada pelos EUA para provocar o mesmo de sempre: movimentos independentistas em países onde haja recursos economicamente exploráveis. O grupo auto-denomina-se Partido Islâmico do Turquestão, é a ramificação da al-Qaeda na China, é aliada do Exército de Libertação Sírio dentro da coligação de forças da Oposição Síria e é famoso pela destruição de igrejas cristãs na Síria.

Partido Islâmico do Turquestão  

Coligação pró-Síria

A coligação pró-Síria é a única coligação legal neste conflito de acordo com as normas internacionais pois, para que se possa instalar forças militares de um país dentro das fronteiras de outro, há que ter uma autorização decretada na ONU ou receber, do país onde se enviarão as forças militares, um pedido oficial de apoio militar.

 

Dela fazem parte dois estados além da Síria: a Federação Russa e o Irão 

Rússia Irão

 

A Rússia, como afirmou várias vezes Putin com todo o pragmatismo,  durante os primeiros anos desta guerra de proxy (dos EUA e companhia) contra a Síria não pode se envolver directamente por falta de meios técnicos e financeiros. Por estas mesmas razões a Líbia e Gadafi não chegaram a receber ajuda russa. Conforme foi modernizando e reconfigurando as suas forças armadas, a Rússia foi aumentando a sua ajuda ao governo sírio, que nos primeiros anos do conflito se resumia a informação de intelligentsia, treino de militares e envio de equipamento. O ponto de inflexão para uma participação aconteceu em 2013 quando Obama e a sua orquestra de mentirosos compulsivos criaram a "linha vermelha" ultrapassada por al-Assad com os ataques químicos que não cometeu. Putin, para evitar a invasão dos EUA e aliados, ofereceu-se para monitorizar a destruição do armamento químico sírio, uma brilhante manobra de xadrez político que retirou aos EUA e aliados o pão da boca, ou seja, ficaram desarmados, sem argumentos que justificassem perante a opinião pública mundial uma forçada invasão da Síria. 

 

Com a sua base naval de Tartus em território sírio, em Setembro de 2015 por fim a Rússia entrou directamente no conflito. Além de atacar as forças invasoras terroristas, como o ISIS e os inúmeros grupos pertencentes à Oposição Síria, a força aérea russa mostrou ao mundo (com imagens e vídeos a cores) a frota de milhares de camiões transportando o petróleo roubado à Síria pelo ISIS a caminho da Turquia e atravessando a fronteira turco-síria. Mas o mundo não quis saber, como também não quis perceber como esse petróleo era transportado até à costa sul turca, junto a Adana, de onde era enviado para Israel, e daí para a Europa. A força aérea russa não só mostrou as imagens deste escandaloso "mercado negro" de petróleo sírio roubado por turcos e israelitas e consumido por europeus, como também destruiu e mostrou as imagens que provam a destruição deste "mercado negro". No entanto, nos media ocidentais a Rússia "bombardeava civis" enquanto os EUA por estranhíssima coincidência começava "a bombardear" os tais comboios de camiões de petróleo do seu órgão de terror chamado ISIS.

 

Com a participação activa e perdas de vidas russas na libertação de Palmira das mãos draconianas do ISIS, a Rússia mostrou ao mundo que não só não estava na Síria para bombardear criancinhas e velhinhos oprimidos pelo "sanguinário al-Assad", como era o primeiro país a mostrar-se capaz de eliminar com eficácia as forças do ISIS e conquistar território e cidades a este. Uma vez mais o mundo não quis saber, e a Rússia, aos olhos dos media ocidentais, continua a ser aliada de al-Assad na caça às criancinhas, sobretudo aquelas sentadas em sofás cor-de-laranja pousando forçadas para uma abutre máquina de propaganda.

 

Hoje a Rússia está em todas as frentes com o exército sírio e ataca as forças invasoras a partir da Síria e do Mar Mediterrâneo, e à distância a partir do sul da Rússia (Ossétia do Norte), do mar Cáspio e, ultimamente, de uma base militar no Irão (em Hamadan), mostrando aos EUA que está pelo menos ao nível destes num conflito convencional. Nestes ataques à distância, mais que destruir forças terroristas, a Rússia mostra aos EUA que este não pode mais ganhar uma guerra convencional contra a Rússia, que é como quem diz, que os EUA têm de aceitar uma nova realidade na qual só invadirá países se a Rússia (e a China) o permitirem.

 

Outra realidade que vão ter de aceitar é a cada vez mais estreita relação entre Rússia e Irão, com os iranianos libertando o espaço aéreo aos mísseis de cruzeiro russos (Irão e também o Iraque, daí as 2 linhas verdes no organigrama ligando as bandeiras destes à da Rússia) e emprestando uma base militar à Rússia, e com os russos que por fim entregaram ao Irão os sistemas anti-mísseis S-300 há muito encomendados e que tornam o Irão quase invulnerável a ataques supressivos israelitas e/ou norte-americanos.

 

Quando no verão de 2016 se assinou o histórico acordo EUA-Irão, meio mundo acredito que vinha aí a paz para a Síria. Eu também, que inocência! Mas não, os EUA não desistiram na altura e ainda não desistiram hoje. Os EUA estão 100% compremetidos na utilização do caos de forma a dividir para reinar na Síria, onde quer construir e fazer passar pelo menos um gasoduto vindo do Bahrein. As duas grandes mudanças após esse acordo foram portanto a eliminação (parcial) do embargo de EUA e vassalos ao Irão e a submissão do Irão à vontade ilegítima dos EUA de congelar parcialmente o programa nuclear iraniano. É injusto, sem dúvida, o Irão tem todo o direito de desenvolver tecnologia nuclear enquanto estado signatário do Tratado de Não Proliferação de Aramas Nucleares, ao contrário de Israel que não assinou e que consequentemente não tem direito sequer a tecnologia nuclear civil (pese embora tenha centas de ogivas nucleares! É o mundo em que vivemos, governado pela lei do mais forte, pois claro. Voltando ao ponto principal, a destruição da Síria continuou, multifacetada, como planeada. O Irão continuou com o seu apoio militar à Síria e hoje já ninguém (do lado sírio e iraniano) esconde a participação activa de generais iranianos que comandam em campo batalhões palestinianos e sírios, tendo inclusive morrido em território sírio vários vítimas de ataques aéreos ilegais do ilegítimo estado de Israel .

 

Além do apoio militar das forças armadas iranianas e da participação directa de generais iranianos no campo de batalha, existem na Síria outras duas forças iranianas, a Liwa Zainebiyoun e a Liwa Fatemiyoun, ambas recebendo salários, treino militar e apoio logístico do Exército dos Guardiães da Revolução Islâmica (Irão). A primeira é composta sobretudo por paquistaneses residentes no Irão, a segunda por afegãos residentes no Irão e na Síria.

Liwa Zainebiyoun Liwa Fatemiyoun

As forças geridas pelo governo de al-Assad, país alvo desta guerra de proxy com os EUA e aliados, é obviamente o maior contribuinte para o esforço de guerra da Síria. Além das Forças Armadas da Síria (com serviço militar obrigatório em tempo de guerra), o governo de al-Assad controla também as Forças de Defesa Nacional, forças especiais compostas por voluntários sírios muito bem-treinados, pagos e motivados a defender a legalidade do estado sírio, em parte provenientes da Reserva das Forças Armadas da Síria.

 Forças Armadas Sírias Forças de Defesa Nacional 

Fora do controlo do governo de Al-Assad, mas aliados na guerra contra a invasão estrangeira, encontram-se várias outras organizações (as quais chamo de Forças Sírias no organigrama), muitas delas opositoras ao governo de al-Assad em tempo de paz e que no contexto de um invasão estrangeira disfarçada de guerra civil decidiram defender a soberania e a integridade do seu país aliando-se aos seus adversários políticos. Destaco duas forças, o Partido Social Nacionalista Sírio e a Resistência Síria pelo sua constante participação no combate ao terrorismo e belicismo dos EUA na Síria.

Partido Social Nacionalista Sirio Resistência Síria

Por fim, existe ainda um conjunto de poderosas forças palestinas que têm desenrolado um papel essencial na reconquista e libertação da Síria. Ao contrário do que os nossos media ocidentais habituais produtores de mentiras nos quiseram fazer crer, não só as forças armadas sírias não cometeram massacres contra refugiados palestinianos nos arredores de Damasco (E desde quando se preocupam os media ocidentais com massacres de palestinianos? Ora essa!), como também são apoiados por palestinianos residentes pelo menos na Síria, Líbano e Palestina. O Hezbollah destaca-se pelo seu poder, pela quantidade de tropas oferecidas no apoio à Síria governada por al-Assad e pela quantidade de vidas palestinianas já perdidas na Síria (muitas vezes vítimas de ataques aéreos israelitas). A lista de forças palestinianas que combate lado a lado com as Forças Armadas d Síria é grande, e nela incluem-se, entre outras, o Exército de Libertação da Palestina, as Brigadas Baath, a Liwa Al-Quds e a Fatah al-Intifada.

Hezbollah Exército de Libertação da Palestina  Brigadas Baath Liwa Al-Quds Fatah al-Intifada

Luís Garcia, 07.09.2016, Chengdu, China

 

p.s.: Hoje, 8 de Setembro, enquanto preparava a 2ª parte do artigo, soube através de medias online que um navio de guerra chinês, com tanques de guerra e militares chineses dentro, se encontra a caminho da Síria!

 

 leia também  Resumo esquemático do conflito sírio

leia também Resumo do conflito sírio - parte 2

leia também Resumo do conflito sírio - parte 3

leia também Resumo do conflito sírio - parte 4

 

 
 

 

 

 

 
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