Os tuguinhas e o moralismo, por Ricardo Lopes
Os portugueses (a quem eu gosto de chamar de tuguinhas, e já vou explicar porquê) são mas é uns grandes hipócritas e o seu desporto favorito é a prática do moralismo.
Que português é que não adora um texto ou um discurso moralista? Que português é que não adora condenar por imoralidade ou falta de ética alguém que se comporta norteado por valores e princípios diferentes dos seus? Que português é que não adora colocar no pedestal e distinguir por grande moralidade e ética alguém que segue à risca os códigos de pensamento e conduta estabelecidos para a maioria da sociedade portuguesa e em observância cuidada do pensamento português ancestralmente formulado? Quem é que não adora a Máquina da Verdade da TVI? Quem é que não adora histórias da carochinha de amores eternos e harmonia perene no seio de casamentos? Histórias de gente que sabe manter o equilíbrio perfeito entre a completa indulgência e a violência mais abjeta na educação dos filhos? Quem é que não adora os textos de lamentela em barda das Capazes? Em Portugal, claro.
Agora, de repente, todos os portugueses que assistiram à diarreia jornalística intitulada "Love You Mom", que foi transmitida pela TVI e assinada pela incompetente da Ana Leal, são ultra-especializados no funcionamento dos serviços sociais e nas leis de proteção da criança britânicas, assim como conhecem ao pormenor os casos apresentados. Porque um filho está sempre melhor entregue à mulher que o expeliu pela vagina (sem sequer se saber se de uma forma consciente e planeada ou não) e ao homem que injetou esperma nessa mesma vagina em período fértil e uma das células flageladas e cabeçudas conseguiu atingir e fecundar um óvulo fértil. Porquê? Ninguém sabe. É só porque sim. Assim como são "porque sim" todas as ideologias, opiniões e tudo quanto compõe a cultura. Ou melhor, tornam-se "porque sim", depois de se ter sido condicionado a tal. Mas isso praticamente ninguém tem competência para avaliar, muito menos disposição para admitir.
Mas não esquecer que são estes os mesmos portugueses que ainda há uns meses condenavam à boca cheia a mãe que se suspeitava (sem ainda saber se era culpada) de ter afogado os dois filhos no rio Tejo. Uma mãe que era vítima de violência doméstica, mas que nunca foi ajudada (porque tal não existe em Portugal). Filhos que nunca foram retirados à mãe (que entretanto, tem graça, que neste caso, ninguém se coibiu de condenar à força, e aqui sim, toda a gente achava que ela nem sequer merecia ser mãe), mais uma vez porque não existem meios em Portugal. Um pai que foi acusado perentoriamente de violência doméstica sem ter por tal sido condenado por qualquer tribunal (portanto, mais suposições, mas o moralismo nunca tarda na boca dos tuguinhas).
Não esquecer que são estes os mesmos portugueses que agora condenam o taxista por causa da questão das "meninas virgens" e da "violação", mas que são dos principais autores de violência doméstica exercida sobre todo o tipo de pessoas, familiares, dependentes de terceiros ou não, e que condenaram a nova lei contra o "piropo", ou a nova lei contra o assédio sexual.
Não esquecer que estes são os mesmos portugueses que ora vilipendiam publicamente quem é apresentado nos telejornais como sendo culpado de um crime, quando ainda nem sequer foi julgado, ora apelidam de "jóia de moço" quem, tendo caráter de filho da puta e cadastro, simplesmente participa da patranha dos eventos sociais com toda a restante comunidade. Portanto, sempre moralismo, positivo ou negativo.
Por isso, é que os portugueses, para mim, são os tuguinhas. Porque são pessoas, no geral (e sim, dou-me à liberdade de usar generalizações, porque dão jeito, porque representam um povo e uma mentalidade, e porque não querem dizer que "todos" são iguais), falsas moralistas, hipócritas e, principalmente, com mentalidade muito pequenina e retrógrada, algo que o Nietzsche apelidaria de "moral de escravo".
Ricardo Lopes