Os EUA abandonando a terrorista-ISIS-curda colonização da Síria, a sério?, por Luís Garcia
Comecemos pelo início: qualquer pessoa com algumas neurónios a funcionar, honesta e com conhecimento, deveria estar 100% seguro do facto que o ISIS é uma criação dos EUA e que, quando John Kerry mencionou a necessidade de um plano B, ele não estava a brincar.
Falemos do Plano B e do Plano A. E falemos também do Plano C que estará sendo implementado agora mesmo. Mas, por favor, primeiro assista a este vídeo sobre o conflito na Síria, de forma a tornar mais fácil a compreensão deste artigo:
Para ter um Plano B, primeiro você precisa de ter tido um A: inundar a Síria com grupos terroristas compostos por mercenários internacionais pagos pelo Ocidente e os estados do Golfo... e grupos terroristas "rebeldes" compostos por mercenários internacionais pagos pelo Ocidente e os estados do Golfo. Este plano falhou, como bem sabemos.
Um Plano B era necessário se o Império Norte-Americano quisesse levar até ao fim o seu plano de terrorismo-colonização da Síria: derrubar Assad e transformar a laica multi-étnica e multi-confessional Síria num conjunto de estados fantoche falhados, etnicamente homogéneos, onde reinaria o caos, a miséria, a tortura e a violação, e onde psicopatas genocidas reinariam em total impunidade, desde que petróleo e gás roubados fossem continuamente bombeados para as mãos do Império Ocidental.
E o Plano B baseava-se em ordenar ao ISIS que cometesse genocídios de curdos no leste da Síria e publicitá-los o mais possível. Os genocídios de assírios, caldeus e outros, às mãos dos invasores curdos (curdos do Iraque e curdos da Turquia), foram todos Orwellianamente removidos dos livros ainda por escrever no patético mundo ocidental.
Como já não lhes é possível vender invasões directas de países à plebe norte-americana e mundial, os EUA e seus estados vassalos tentaram e falharam uma guerra de procuração contra a Síria, composta pelo Exército de Libertação Sírio (FSA, na sigla inglesa) e as suas 50 sombras de terror: o tal Plano A.
O Plano B começou pela desejada criação de massacres de curdos às mãos do ISIS, renomear cidades árabes sírias com nomes curdos inventados (de forma vergonhosa, Ayn al-Arab passou a Kobanî, etc.), inundar os mentirosos média ocidentais com esses massacres e então, finalmente, jogar a "cartada humanitária".
Cartada humanitária, neste contexto, significa: "Não, nós ocidentais não vimos para invadir, colonizar e pilhar a Síria, nós vimos para libertar os curdos do terror imposto pelo ISIS.
E assim fizeram, e a plebe ocidental engoliu a trapaça. E a ignorante plebe ocidental assimilou esse absurdo conceito de um estado curdo a ser construído sobre terra síria na qual há menos curdos do que na Alemanha, para dar um exemplo!
Estado terroristas como os EUA, o Reino Unido e a França ocuparam todo o território sírio a leste do Rio Eufrates, onde historicamente não há curdos, com excepção para duas faixas de cidades e vilas junto à fronteira com a Turquia. Tudo o resto, mais para sul, é deserto repleto de petróleo e gás para ser roubado, uma miríade de grupos étnicos massacrados pelos "bons" curdos e cidades como Raqqa para serem bombardeadas de volta à Idade da Pedra pelos "civilizados" franceses, britânicos e norte-americanos.
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Se você ainda se pergunta sobre o quão falsas são as Forças Democráticas Sírias (FDS) e sobre quanto os média mainstream lhe lavaram o cérebro com as "pobres vítimas" curdos do lesta da Síria, assista a este vídeo no qual uma alta-patente das forças armadas dos EUA. de forma espantosamente honesta, explica como transformaram a imagem dos inimigos "terroristas" do PKK curdo em amicíssimos "democratas" curdos das SDF, admitindo ele próprio que PKK e SDF são a mesma coisa:
(Assi ao discurso completo aqui.)
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Existem maneiras incrivelmente fáceis de desmentir a reivindicação ocidental de que os EUA (e seus estados vassalos) são quem combate o ISIS. E existem maneiras incrivelmente fáceis de provar, com toda a clareza, que o ISIS é uma criação dos EUA e que é uma peça norte-americana no bélico e imperialista xadrez que jogam.
PRIMEIRO, como é que se explica que o ISIS tenha durante anos permanecido pacificamente na mesma área rodeada por Israel (the facto Monte Golã sírios ocupados por Israel), Jordânia (um estado vassalo dos EUA) e uma zona síria controlada pelos "rebeldes" do FSA e, depois, quando o bravo Exército Árabe Sírio limpou com o terror do FSA dali para fora, em 2018, poucas semanas depois, a zona controlada pelo ISIS foi também completamente limpa?
Os sírios, apoiados pelo Ézbolá, Irão e Rússia, fizeram em poucas semanas o que os EUA, Israel, NATO e o FSA patrocinado pelo ocidente não puderam fazer? Ou não quiseram fazer? Veja:
(vermelho - sírios; preto - ISIS; azul - Israel; verde: "rebeldes" terroristas do FSA)
SEGUNDO, por que razão, a 17 de Setembro de 2016, a coligação liderada pelos EUA realizou 37 ataques aéreos sobre a cidade Deir-ez-Zor (no leste da Síria), matando entre 90 a 106 soldados sírios e ferindo mais de 110, destruindo uma grande parte da infra-estrutura do aeroporto e da base militar, e destruindo uma enorme quantidade de equipamento militar (incluindo aviões de guerra)?
Por que razão os EUA bombardearam Deir-ez-Zor em sincronia com avanços do ISIS por terra conta uma cidade sírio cercada pelo ISIS? Os EUA tinham pedido permissão à Rússia para "bombardear posições do ISIS" vários quilómetros a sul dessa cidade mas, vá se lá perceber como, a super-hiper-tecnológica máquina de guerra norte-americana, com montanhas de tecnologia super-avançada, falharam o alvo, não por vários metros, mas sim por vários quilómetros? E, enquanto os EUA continuavam falhando o seu alvo (das 15h55m às 16h56m, hora de Damasco), os canais de comunicação entre os EUA e a Rússia, por coincidência, ficaram todos avariados, de modo que as autoridades russas não tiveram forma de alertar a primitiva força aérea dos EUA de que estes estavam falhando o seu alvo com um erro de vários quilómetros e que, "ups", estavam atingindo a única cidade controlada por sírios no meio de um oceano de ISIS.
TERCEIRO, compare os avanços sírio-russos contra o ISIS, com os "avanços" da NATO/FDS contra o mesmo ISIS, de Maio a Setembro de 2017:
Enquanto NATO-FDS se mostravam completamente congeladas, o Exército Árabe Sírio (SAA na sigla inglesa) e seus aliados reconquistaram dezenas de milhares de quilómetros quadrados. A NATO (EUA) parecia contente com a situação, vivendo pacificamente lado-a-lado com o ISIS era algo de positivo para o Império, desde que o ISIS continuasse a atacar as SAA, a destruir infra-estrutura síria e a roubar petróleo sírio.
QUARTO, as FDS-NATO impediram as SAA de entrar em Raqqa, e cercaram Raqqa, e destruíram por completo Raqqa. As FDS-NATO cercaram Raqqa, não para libertar esta cidade, mas sim para a roubar, para a roubar a tempo do vitorioso Exército Árabe Sírio (SAA) que marchava a ritmo acelerado rumo a Raqqa. E, depois do cerco, O Exército Terrorista Francês, o Exército Terrorista Britânico e o Exército Terrorista Norte-Americano divertiram-se à grande destruindo Raqqa de volta para a Idade da Pedra.
QUINTO, os invasores das FDS-NATO por norma hibernando tranquilamente, acordaram por fim quando as SAA acabaram com o horrendo cerco de 3 anos que Deir-ez-Zor sofria. Com esta cidade sobe total controlo do SAA, e com o SAA expandido a sua presença ao longo do lado ocidental do Rio Eufrates, os invasores norte-americanos decidiram que era necessário actuar. Para os EUA (FDS-NATO), haver ISIS controlando o triângulo sul rico em petróleo, no lado oriental do mesmo rio, deixou de ser uma boa jogada de xadrez.
E portanto, no dia 10 de Setembro de 2017, os EUA (FDS-NATO) avançaram 65 km em menos de 12 horas, oficialmente ganhando controlo sobre o território sírio rico em petróleo sem enfrentar qualquer resistência por parte do ISIS. Nada de resistência, nada de combates, nada de feridos ou mortos. Que maravilha! Em menos de 12 horas o Império Norte-Americano conseguiu, de forma absolutamente pacífica, trocar bandeiras pretas por bandeiras amarelas. E o ignorante e totó mundo ocidental engoliu esta trapalhice!
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Sírios e aliados removeram o ISIS de dezenas de milhares de quilómetros quadrados em poucos meses, sofrendo enormes baixas.
A adormecida NATO-SDF arranjou maneira de avançar 65 km em 12 horas sem qualquer resistência de membros do ISIS e sem sofrer nenhumas baixas.
E depois, o que aconteceu?
Desde então, de Novembro de 2017, até hoje, o ISIS continua controlando meia-dúzia de vilas e aldeias no lado leste do Rio Eufrates.
Como assim?
Sírios e seus aliados não podem acabar o trabalho de limpeza contra o ISIS porque os EUA não os deixa atravessar o Rio Eufrates. Os EUA, de forma absolutamente criminosa, destruiu todas as pontes sobre esse rio, de propósito. E, esse mesmo agressor norte-americano, abate todo e qualquer caça sírio que, de forma absolutamente legal, tente entrar em espaço aéreo sírio a leste do Rio Eufrates para combater o ISIS.
E, portanto, em que ficamos? Só o Império Norte-Americano é que tem o direito de "combater" o ISIS a leste do Rio Eufrates. Só que não o fazem. Ah não, garantidamente não o fazem!
A bizarra e absurda verdade é que, desde Novembro de 2017 até hoje, durante 13 meses, a maior e mais poderosa máquina de guerra jamais criada em toda a história da humanidade não foi capaz de derrotar meia-dúzia de membros do ISIS vivendo em meia-dúzia de aldeias completamente cercadas! E vocês, ignorantes cidadãos dos EUA, vocês engolem esta treta. E vocês, "bem informados" europeus, vocês também engolem esta treta.
No Ocidente, no Orwelliano Ocidente, tal como no livro 1984, "branco é preto, guerra é paz e os EUA combatem o ISIS".
Aqui está uma mapa onde se pode ver o minúsculo pedaço de terra onde vive a meia-dúzia de membros do ISIS acima citados:
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De todas as possíveis variações de desfechos relacionados com a retirada norte-americana e com a possível invasão turca do leste da síria, pode-se destacar 3 cenários potenciais:
No PRIMEIRO CENÁRIO, os EUA desiste pragmaticamente do seu projecto no leste da Síria: criar um falso Curdistão por detrás da Síria, actuando como uma Israel 2.0. Os EUA desiste porque o seu projecto está agora territorialmente encurralado. O Iraque derrotou o ISIS no seu próprio território; o Iraque desmantelou no ano passado a parte curdo-iraquiana desse Israel 2.0; A Síria ganhou a guerra que o Ocidente lhe infligiu; o Ézbolá está mais forte que nunca e governa o Líbano; Uma forte e agora experiente resistência contra o imperialismo americano-israelita estende-se agora desde o Líbano até ao Irão; Etc.
Não faz portanto sentido, para os EUA, insistir em levar avante este falhado crime neocolonial. Para os EUA é preferível fazer um acordo secreto com a Rússia, de forma a poderem sair e deixar a Turquia fazer o que bem entender. O que quer que a Turquia faça, será a imagem da Turquia e não a dos EUA que será manchada. Ainda assim, sim, esta retirada "mancha" a imagem de Trump perante os ocidentais, pois é assim que insistem continuar a querer ver. Enfim.
Este acordo secreto ente EUA e Rússia dependeria sempre do sucesso de um segundo acordo secreto entre a Rússia e a Turquia.
Se tudo correr bem (para o sucesso deste cenário), a Turquia entra na Síria, jogando um hiper-maquiavélico papel duplo. Depois de ter sido um dos maiores (fulcral mesmo) agentes na guerra de procuração contra a Síria, a Turquia agora jogaria indirectamente no lado russo se, de facto, fizeram com a Rússia um acordo secreto como aquele que acabo de supor.
Ou seja, no melhor dos mundos, para a Síria, a Turquia continuaria a desenrolar o seu papel de apoiante do FSA (refiro-me à situação em Idlib e Afrin), ameaçando estender o controlo territorial do FSA sobre todo o território agora controlado pelas FDS-NATO
Isto porque a Turquia, enquanto membro da NATO, pode combater e esmagar curdos equipados com as mais modernas armas da NATO sem despoletar um conflito em larga escala. Sim, podem. Mas a Síria ou a Rússia não podem.
PRIMEIRO a) - A Turquia pode jogar este jogo e, de alguma forma, mais tarde, encontrar uma forma de fazer o que, no caso do primeiro cenário, já terá provavelmente sido prometido à Rússia (e, portanto, à Síria). A promessa a que me refiro seria: devolver política e diplomaticamente o leste da Síria à Síria, lá para meados de 2019.
PRIMEIRO b) - Ainda mais simples. O facto da Turquia ameaçar invadir o leste da Síria actualmente ocupado pelas FDS-NATO, mais o facto dos EUA estarem a preparar a sua retirada, poderia ser mais do que suficiente para os sírios forçarem os curdos a acabar com os seus estúpidos jogos independentistas e sentarem-se a negociar uma solução diplomática e pacífica que, de qualquer das formas, só poderá acabar de uma forma: curdos sírios abandonando por completo as armas; curdos não-sírios saindo do país que ocupam; governo sírio retomando controlo total das suas províncias orientais.
Neste cenário, se os curdos recusarem negociar, as hipóteses de vencerem um confronto militar com as muito experientes forças sírias (e forças suas aliadas) serão quase nulas. Os curdos terão de combater uma frente turca a norte e uma outra fronte síria ao longo do Rio Eufrates. É certo que têm recebido centenas de camiões da NATO cheios de armamento ligeiro e pesado, mas ter tudo isso e saber usar tudo isso são coisas bem diferentes. Além do mais, já não terão apoio da NATO, o que na prática significa que não mais terão serviços de informação nem força aérea para os apoiar. A Síria têm os seus próprios serviços de informação e a sua própria força aérea, e conta ainda com o apoio russo nas mesmas áreas.
Voltando à Turquia, uma boa razão para este país jogar de acordo com o primeiro cenário, será a necessidade de construir o Turkish Stream, um projecto multi-bilionário em parceria com a Rússia para levar gás russo até à Europa, usando gasodutos construídos em território turco. E há que relembrar ainda a crítica situação económica da Turquia. E há que relembrar a sabotagem norte-americana à economia turca e as suas tentativas de piorar ainda mais a crise económica deste país
Uma boa razão para acreditar que a Turquia sob o regime de Erdogan respeitará este projecto, é o facto de Erdogan continuar insistindo na compra dos sistemas anti-mísseis, os famosos S-400 russos.
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SEGUNDO CENÁRIO: a Turquia poderia estar secretamente prometendo ajudar a Rússia (e, portanto a Síria) a recuperar as províncias de leste; a Turquia poderia estar secretamente prometendo ajudar os EUA a criar um género de Sunistão nas províncias de leste (leia o TERCEIRO CENÁRIO); e, no entanto, a Turquia poderia estar enganando ambos os lados.
O regime de Erdogan poderia simplesmente estar preparando para agir na pele de um Império Neo-Otomano, planeando invadir as províncias orientais da Síria (neste momento sob controlo das FDS-NATO), após a retirada das tropas dos EUA, e aí ficar, indefinidamente, colonizando esse território.
Existem perturbantes e conhecidos factos que corroboram esta teoria. Passo a enumerar alguns. Nas zonas de Afrin e de al-Bab, neste momento sob ilegal ocupação do exército turco (juntamente com grupos terroristas das FSA), a Turquia:
- Instalou uma rede de telecomunicações turca;
- Está imprimindo e entregando bilhetes de identidade turco-FSA aos habitantes dessas zonas;
- Está instalando escolas turcas com sistema de educação turco;
- Está tentando comprar as mentes locais com o "moderno" estilo de vida turco;
- Está lavando o cérebro a turcomenos sírios para que estes sejam leais à Turquia e não à Síria;
- Trouxe turcomenos, uigures e terroristas de outros grupos étnicos túrquicos para colonizarem o norte da Síria;
- Há retratos de Erdogan e bandeiras da Turquia um pouco por todo lado em Afrin e al-Bab.
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TERCEIRO CENÁRIO: A Turquia estaria, uma vez mais, jogando um jogo duplo, mas traindo a Rússia e trabalhando para o seu mestre norte-americano.
Depois de ter sido um fulcral agressor desde o início da guerra "civil" síria, lutando pelos seus próprios egoístas interesses e pelos os interesses dos EUA, a Turquia agora é, no geral, vista como o jogador que trocou de lado. Mesmo com as montanhas de contradições vindas desse país, o facto da Turquia agora encontrar-se frequentemente com oficiais iranianos e russos, leva muita gente a acreditar que a Turquia terá mesmo mudado de lado.
Mas, e se a Turquia estivesse a jogar de novo um jogo duplo? E se a Turquia estiver fingindo querer fazer parte de um processo político e militar para acabar com a guerra na Síria e, pelo contrário, estiver a ser um agente principal de um norte-americano Plano C para a Síria? Um Plano C centrado na criação de um ISIS-Sunistão ou de um FSA-Sunistão nas áreas ainda sob controlo das FDS-NATO?
Absurdo? Não tanto assim. Lembra-se do Iraque 2014? Lembra-se da "retirada norte-americana do Iraque"? Lembra-se da súbita ascensão do ISIS e seus afiliados no norte do Iraque? E de quão facilmente se apoderaram das armas que os EUA deixaram para trás "para as novas forças iraquianas"? E, depois de se apoderarem dessas armas, lembra-se do quão rapidamente o ISIS tomou controlo de uma grande parte do Iraque e da Síria? E de todas as conversas em torno de um Sunistão; da implementação de um conceito tipicamente ocidental: estados mono-étnicos e mono-religiosos como forma de melhor dividir e melhor reinar? E dos planos para dividir o Iraque, de forma a isolar os xiitas pró-Irão do resto do país?
Infelizmente, por que não outra vez?
Aqueles que tomam de facto atenção a esta agressão à Síria, já deveriam ter notado no acelerado ritmo com que a NATO andou entregando armamento ligeiro e pesado às FDS, durante este ano, nas províncias que ocupam no leste da Síria. Uma grande parte desses camiões, que entram nas zonas controladas pelas FDS, vêm da Turquia! Que tremenda contradição, não?
A Turquia encontra-se com a Rússia e com o Irão. A Turquia está prestes a adquirir S-400 russos. A Turquia ameaça invadir o nordeste da Síria e atacar os curdos. Ainda assim, uma grande parte das prendas militares da NATO aos curdos vêm da Turquia? Quem puder que me explique!
E se todos esses camiões estiverem trazendo armas para um futuro Sunistão concebido pelos EUA, com o secreto consentimento da Turquia?
Este Sunistão poderia ser criado de 2 formas distintas.
TERCEIRO a) Se tudo correr bem com a potencial invasão turco-FSA do leste da Síria (e, afinal, quem é que se preocupa com curdos nos EUA ou na Turquia, não é?), os ocupantes turco-FSA estabeleceriam um FSA-Sunistão seguindo as ordens dos EUA. Mono-religioso, governado por invasores (turcos, turcomenos, uigures, etc), este FSA-Sunistão teriam a vantagem (para os norte-americanos) de não ser um projecto territorialmente encurralado (graças à Turquia).
TERCEIRO b) E se, com as forças da NATO retirando do leste da Síria e "abandonando" as SDF, os seus mercenários curdos juntassem forças com os membros do ISIS actualmente presentes nessa área e com os membros do ISIS actualmente retidos em prisões das FDS? Nesse caso, todo o armamento recentemente trazido pelos EUA para ser "abandonado", seria na verdade um imenso presente dos EUA para esse ISIS-Sunistão a ser criado?
SOHR: #SDF leadership is considering the release of #ISIS detainees, which they are about 3,200 prisoners.
— Hoşeng Hesen (@HosengHesen) December 20, 2018
(Tradução: liderança das FDS ponderam libertar detidos do ISIS, cerca de 3200 prisioneiros.)
A Turquia poderia "perder" eventuais confrontos com este novo ISIS ou, ainda mais fácil, simplesmente cancelar a invasão do leste da Síria, permitindo que o neo-ISIS se instalasse no seu ISIS-Sunistão sem sofrer interferências de relevo ou, melhor (pior), fornecer-lhes mais mercenários (vindos do FSA). Ao fim ao cabo, todos estes mercenários fundamentalistas saltam facilmente de um campo para o outro, da al-Nusra (al-Qaeda na Síria, aliada do FSA) para o ISIS, do ISIS de volta para as FSA, e por aí em diante, como o seguinte vídeo claramente demonstra:
Este cenário TERCEIRO b) seria provavelmente de mais fácil implementação para o Império Norte-Americano (todo o pessoal e equipamento necessário já encontram no terreno), mas seria a versão mais fraca de um possível Sunistão patrocinado pelos EUA. Com a Turquia fingindo estar sendo derrotada pelo ISIS-Sunistão ou simplesmente não interferindo, e portanto continuando fingindo jogar pelo lado russo, este ISIS-Sunistão não poderia receber apoio directo do regime de Erdogan, e seria mais um projecto territorialmente encurralado.
Além do mais, sem a presença (oficial) de forças da NATO dentro desse Sunistão, a Síria e a Rússia poderiam facilmente atacar as forças terroristas e reconquistar essa parte oriental da Síria sem temer uma reacção da NATO que, a ter lugar, poderia facilmente levar-nos a um conflito global. Mau para o Plano C dos EUA, bom para a Síria.
Em conclusão: mesmo neste cenário de EUA implementando um novo ISIS como parte de um Plano C para a Síria, a Síria poderia ainda assim retomar por completo o controlo sobre as suas províncias orientais. Mas teria de sofrer mais destruição e morte. No PRIMEIRO CENÁRIO, a Síria retomaria também o total controlo sobre as suas províncias orientais, mas sem necessidade de mais conflitos
TERCEIRO c) Se a situação imaginada no cenário TERCEIRO b) for verdade, as verdadeiras razões por detrás dele poderiam no entanto ser outras, e portanto eu adicionaria um último hipotético cenário, o TERCEIRO c).
Nesta última possível explicação para o imprevisível e aparentemente ilógico comportamento turco, eu ouso me perguntar até que ponto a Turquia não estaria a jogar um jogo triplo. A Turquia poderia estar a fingir estar a fingir jogar (ultimamente) pelo lado russo, na sua bizarra parceria de zonas desmilitarizadas e check-points ao redor de Idlib. Consequentemente, a Turquia poderia estar a fingir apoiar o Plano C dos EUA para a implementação de um Sunistão na Síria. Mas, na realidade, a Turquia estarias simplesmente criando as necessárias condições para os sírios e os russos poderem reconquistar a totalidade do território sírio.
No cenário TERCEIRO b), a Turquia seria o inimigo, e no cenário TERCEIRO c), a Turquia seria um aliado sob disfarce, mas em ambos os casos o desfecho seria o mesmo: a criação de condições geopolíticas para permitir ao SAA, ao Ézbolá, aos iranianos e aos russos atravessarem o Rio Eufrates sem com isso despoletarem um conflito entre Rússia e EUA, ou seja, uma Terceira Guerra Mundial,
Sim, volto a insistir, tal como no PRIMEIRO CENÁRIO, a Síria seria totalmente libertada, mas não de forma pacífica como nesse cenário.
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Obrigado pela leitura deste artigo.
Deixo-o, caro leitor, com a absurda incoerência curda exposta em 2 imagens:
Luís Garcia