O sexo no século XXI (ou porque é que o bom bullying dá resultado), por Ricardo Lopes
Caríssimos, venho dirigir-vos hoje, uma vez que acordei estremunhado e com suores frios a pensar num tema que anda a ser preocupantemente negligenciado, no que diz respeito a discussão e a regulamentação, e que será o novo fator de impacto sobre os ineptos sociais da minha geração e das vindouras. Este tema é o sexo com robots e a necessidade de definir, de uma forma universalmente aceite e consensual, a perda de virgindade.
É assim, por mais que isto custe a ler à esquerdalhada, a verdade é que o medo é uma reação fisiológica muito útil a situações que representam ameaça à integridade individual. Não podemos eliminar o medo da vida das pessoas, e não podemos permitir que elas se comportem sem ser sob a rédea curta do medo.
Por exemplo, uma pessoa que não tenha medo de morrer de enfarte agudo do miocárdio vai continuar a consumir recursos de uma forma insustentável e a obrigar a que a própria indústria de mobiliário se veja obrigada a dispensar recursos, que poderiam ser encaminhados para outros fins, para criar peças de mobília suficientemente robustas para aguentar o peso macabro que aquela pessoa adquire. Uma pessoa que não tenha medo de chegar à escola e comer uma bolachada nas trombas, não aprende a defender-se. Por isso, é que os atrasados mentais da minha geração, mesmo já tendo chegado aos 30 anos, andam para aí a usar palavras como “hater” para se referirem a pessoas que simplesmente colocam em causa aquilo que eles proferem. Criam-se abrolhos, abéculas e completos ególatras narcísicos. Para além disso, se aprendessem a se defender e entrassem em lutas, e já que o que lhes espera irremediavelmente é o precariado, sempre poderiam abandonar a sua vida hedonista-consumista e passar a ocupar o nicho de mercado do trabalho escravo que é realizado por pessoas no sudeste asiático e em África e ajudá-las a libertar-se para outro tipo de atividades para as quais têm com certeza mais capacidades mentais do que quem consome regularmente snacks gordurosos e bebidas gaseificadas. Quem tem medo de ficar sem casa, trabalha com mais afinco. Quem tem medo de morrer, adota um estilo de vida mais saudável.
E muitos mais exemplos poderia dar. Mas, isto tudo serve para dizer que o bullying por si não é mau. Já para não falar que tratar uma pessoa como merda, como constitui um momento de grande carga emocional, é algo que fica mais facilmente gravado na mente das pessoas e, no caso de acontecer passarem por uma crise identitária, quem diz que não se agarrarão aos valores que quem as maltratou tentou transmitir? Se se andar à pedrada intelectual com religiosos, quem diz que um dia que lhes morra um ente querido não lhes assoma à memória o revirar de entranhas que sentiram quando discutiram com um ateu e pensem que afinal deus não existe mesmo ou, se existe, é um grandessíssimo filho da puta?
Mas, enfim, deixemos de falar de exemplos, e passemos ao tema em si. Portanto, e para resumir, existe bom bullying, que é aquele bullying que faz com que fiquem marcadas na mente das pessoas informações que podem germinar mais tarde para a fazer mudar para algo melhor.
Agora, porque é que eu estou a falar de bullying quando o tema do artigo é o sexo no século XXI? Muito simples. Porque a catástrofe que se avizinha nunca pediu tanto a ação do bullying como qualquer outra coisa que tenha existido na história da humanidade.
Meus amigos, já existem robots sexuais. Já existem a preços que muitos putos estúpidos – porque a esmagadora maioria deles vive numa situação privilegiada – podem adquirir. E, como acontece com tudo no mundo do consumo, com o tempo os preços baixarão ainda mais.
Assim sendo, e depois de no ano passado se terem juntado os grandes líderes mundiais para tentar encontrar as mesas do coffee break onde estavam os bolos com passas… Peço desculpa, depois de no ano passado se terem juntado os grandes líderes mundiais para tomar decisões políticas acerca do fenómeno das alterações climáticas, tem de se apelar a estes mesmos grandes líderes mundiais que, e por mais que isto custe no orçamento de estado, se desloquem a um sítio para se encontrarem todos e redigirem a Carta Definitiva das Condições que Determinam a Perda de Virgindade de uma Pessoa Humana (CDCDPVPH).
Tem de ser. A sexualidade, como toda a gente sabe, é o motor da evolução e da preservação da espécie. Não se pode andar a negligenciar este tema, como se nada fosse.
Tem de se determinar o que é exatamente a perda de virgindade e em que situações é que tal é reconhecido. Porque, pensemos, agora alguém enfia a pila no buraco de um robot fêmea. O que é que acontece a seguir? Lá vai o Manelinho caixa-de-óculos, de camisa aos quadrados…ah não, esperem, essa é a imagem dos anos 90 dos fifis…lá vai a abécula armada em alternativa e muito rebelde com a mesada dos pais na carteira que tem ligada à corrente que lhe sai das calças e a cara de pateta alegre de cada vez que vê outra abécula por quem se sente sexualmente atraído pelo facto de ser emo e ter um iPhone 7, chega à escola, aproxima-se dos colegas, e faz questão que os seus bullies estejam nas imediações, e profere “Perdi a virgindade!”.
É assim…não pode ser! Esta merda não pode acontecer! Tem de se lutar pelo direito dos bullies de se manterem pessoas informadas, para poderem cometer bom bullying, bullying daquele que pode ajudar a fazer entrar estes atrasados mentais na linha. Senão, daqui a pouco, reverte-se tudo. Depois, os papéis invertem-se, e passa de bullying para humilhação económica. Depois os pais, que são uns grandes pais que andam sempre a trabalhar e nunca estão com o atrasadinho mental, e de cada vez que estão a mãe tem de estar sempre a dizer-lhe que ele é o melhor, que é uma jóia de moço, que é muito lindo e muito boa pessoa, e como têm de andar a comprar toda a merda para o menino não amuar, porque no fundo é uma criança muito carente e nós temos de ensiná-lo a associar os sentimentos positivos à aquisição de bens de consumo, um dia o puto com 5 anos envia um link ao pai para ele fazer o pagamento de uma robot fêmea da Kim Kardashian, a encomenda chega, ele enfia lá o pirilau que ainda nem tamanho tem para ter prepúcio, às tantas da fricção caem da uretra umas gotas de urina que ficaram para trás depois do xixi, chega à escola e diz “Tomem! Tomem! Já perdi a virgindade e vocês não! Nah nah nah nah nah nah!”. E o que é que é mais irritante que um puto gozão? Um puto gozão privilegiado e com a mania que é mais esperto e vivido do que os outros, só porque já conseguiu ver diferentes tonalidades de água azul-esverdeada em 10 diferentes resorts de luxo.
Portanto, este é um tema que não se pode, de todo, negligenciar. Há que definir - até porque tal definição não existe, não passando, neste momento, de uma regra não oficial da sociedade, mas de interpretação muito difusa – o que é fazer sexo e perder a virgindade.
Atualmente, e mesmo depois de centenas de milhares de anos de prática sexual, esta definição ainda é uma salganhada horrenda, e está prestes a tornar-se pior com a introdução dos robots sexuais.
Afinal, e depois da introdução dos robots sexuais, o que passa a ser fazer sexo? No caso dos homens enfiar a pila num buraco artificial ladeado por circuitos eletrónicos? Então, e se enfiarem a pila numa tomada, também já perderam a virgindade? E se se passa a aceitar como perda de virgindade enfiar a pila num buraco qualquer, independentemente de ser sequer num ser vivo ou não, o que é que impede alguém que abrir um buraco na terra, atirar-se lá para dentro e, como estando lá dentro a pila também está, assumir-se que já perdeu a virgindade?
E no cado das mulheres? É levarem com algo na vagina? Então, e se enfiarem uma banana na vagina, também já conta? Então, e aquelas devotas que não querem perder a virgindade da vagina antes do casamento e que andam metidas no sexo anal? São virgens de vagina e não de cu?
Estão a perceber onde eu quero chegar? Onde é que isto para? Então, um gajo enfiava a pila num buraco qualquer e a gaja enfiava uma coisa qualquer num buraco qualquer do corpo e já podiam aliviar o fardo da pressão social adolescente para terem sexo.
Mas querem que esta gente, ainda por cima pessoal da minha geração e das vindouras – friso, pessoal da minha geração e das vindouras, que eu acho que as pessoas não têm bem a noção daquilo a que me estou a referir em termos de atraso mental e características pessoais repugnantes -, fique ainda mais mamada da cabeça? Querem que completos montes de gosma que já nem se conseguem levantar da cadeira à frente do computador, e qualquer dia têm de os sentar numa cadeira de rodas reforçada com betão armado e grafeno, tenham o direito de se sobrepor a outros que tiveram o trabalho de construir uma relação humana normal e ter sexo com uma pessoa? Querem que completos ensimesmados podem escapar ao bullying para se tornarem pessoas ainda mais insuportáveis?
Por isso, deixo aqui o apelo a que assinem a petição que eu redigi do meu próprio punho, para que se faça história, evitando uma calamidade social antes que ela já esteja em andamento.
Na eminência de um fenómeno de impacto social importante e grave, como será o da introdução massificada de robots sexuais nos lares de pessoas privilegiadas, urge fazer história.
Esta petição, se atingidas as 10000 assinaturas, será endereçada ao Presidente da República Portuguesa, Professor Marcelo Rebelo de Sousa, para que Portugal seja figura de proa e organizador daquele que se apela a que seja o maior evento diplomático do século XXI, a seguir ao Acordo de Paris para as alterações climáticas.
Numa sociedade humana, tem de se dar primazia ao cultivo saudável das relações interpessoais. Um robot não pode, nem deve, sob pena de prejudicar irremediavelmente a psique dos seus utilizados, representar uma alternativa, nem ao encentameto de relações humanas da mais diversa índole, nem à substituição de pessoas humanas como únicos parceiros sexuais.
Assim sendo, apresenta-se como proposta a reunião de todos os grandes líderes mundiais, num evento à porta aberta, para que da saudável discussão promovida se possa lavrar a Carta Definitiva das Condições que Determinam a Perda de Virgindade de uma Pessoa Humana (CDCDPVPH).
O objetivo de tal será, não só impedir que os jovens associais e privilegiados substituam relações humanas por relações artificiais, como também permitir que os praticantes de bullying possam exercer a sua normal atividade de uma forma esclarecida, estando ao corrente daquilo que é, oficialmente, considerado ser virgem.
Ricardo Lopes
Adenda (de 9 de Dezembro de 2017):
Bem, estive a pensar e, se calhar, ao contrário do que disse outrora, esta ideia dos robots sexuais até é capaz de ser boa.
Porque, pensem nisto. Antigamente, virtualmente todos os gajos conseguiam arranjar uma mulher. Porque toda a gente vivia na sua comunidade, e acabava-se por arranjar casamento para toda a gente.
Hoje em dia, o pessoal tem de conseguir convencer a mulher em que estiver interessado de que realmente não é tão imbecil e ridículo como outros potenciais candidatos, que é uma coisa que dá trabalho, e que os zezinhos (machos beta) se veem à rasca a conseguir fazer, porque não têm aptidão para isso, e portanto é muito difícil.
Então, se arranjarem uma ROBOA, ou até se se casarem com uma, é da maneira que tendo uma mulher em casa, mesmo que seja falsa, já ficam com menos tempo para andar a desenvolver ódio pela humanidade e a planear um atentado.
Portanto, é win-win-win. A sociedade ganha por não ter de aturar esta gente a fazer figura de urso nos bares e discotecas, as mulheres ganham por não ter de levar com estes trastes, e eles ganham porque conseguem satisfazer o desenho sexual e perder a virgindade aos 32 anos