O Género e o sexo do cartão de cidadão
"Algo deve mudar para que tudo continue na mesma."
(Tomasi di Lampedusa)
Não há meio de os intelectuais de Esquerda conseguirem destrinçar o conceito de "género" aplicado a pessoas (conteúdo dos papéis sociais convencionados culturalmente e atribuídos a um determinado sexo), do género gramatical (construção cultural de natureza linguística), do sexo (que é um conceito biológico e em relação ao qual, lamentavelmente para muitos, só existem duas alternativas possíveis).
Contudo, num país que bate os records europeus de feminicídios cometidos, que toca os píncaros das estatísticas relativas à violência doméstica, que tem uma das maiores disparidades da Europa no que diz respeito à diferença salarial entre sexos e que tem uma das mais elevadas percentagens de população ativa feminina, população feminina essa que é a que menos, na Europa, partilha as tarefas domésticas com o seu companheiro) certamente não existem outras prioridades. E querem-me convencer que a cruzada contra o género gramatical do "cidadão" do cartão é uma luta feminista. Não, não é uma luta feminista. É um circo, do tipo partidário, eleitoralista. Uma manobra de diversão que garante que nada de essencial muda mas que aplaca os ânimos de quem diz que é feminista só porque está na moda e soa bem no círculo que contactos no qual se move.
Ana Leitão