O fado

Para aquelas pessoas que acham que, porque o mundo humano é uma merda, nunca vai mudar.
Para as pessoas que acham que, porque um sistema de escassez se perpetuou ao longo de toda a história da humanidade, a maior parte do tempo por falta de conhecimento e insuficiente desenvolvimento tecnológico, e produziu com ele uma estrutura social que fez com que ao longo do tempo se manifestassem nas pessoas valores, motivações e comportamentos semelhantes, consideram que aquilo que as pessoas são é resultado de algo que lhes é intrínseco (natureza humana) e não do seu contexto cultural, das influências externas, do ambiente em que são criadas e se desenvolvem.

Para as pessoas que acham inútil, imbecil e digno de alguém alienado dedicar a vida a transmitir aos outros conhecimentos, que durante a maior parte da história humana nunca surtiram efeito, ora porque não se baseavam num conhecimento científico da cultura, do comportamento e do desenvolvimento humanos, ora por não terem para apresentar um esquema baseado em evidência para poder ser concretizado, ora por impossibilidade material para o realizar, ora por um sistema comunicativo precário, e que acham que é lúcido quem decide apartar-se da humanidade, seja por via da misantropia, seja por via do eremitismo, seja pelos dois.
Para aqueles que, na sequência do ponto anterior, acham que a única coisa a fazer é criticar o sistema atual sem apresentar alternativas e deixar-se a marinar numa negrura própria daqueles para quem o pessimismo é a verdade e a toxicidade é a única forma de relacionamento humano concebível, pessoal ou impessoalmente.
Para todos esses, a quem vou evitar de predicar de algo que tomariam, de acordo com o seu condicionalismo cultural, como insulto, faço das palavras da Jacque Fresco as minhas próprias.
Principalmente, já não seria mau não votarem ao ridículo, ao menosprezo e à ostracização, como sempre se fez, e como estão também a fazer, quer o aceitem quer não, aqueles que realmente se dedicam a tentar, dentro das grandes limitações que lhe são impostas e que não podem escolher nem superar sozinhos, melhorar o mundo, e não se encerram em fatalismos dignos de crentes.
Ricardo Lopes

