Laos, entre o Ocidente e a China (PARTE 3), por Luís Garcia
Sabia que o Banco Mundial está presente no Laos? Sim, o Banco Mundial está aqui, mas deve ter tanta vergonha da sua natureza criminosa que nem sequer mostra a cara. É fácil encontrar a sua morada, se a procurármos na internet. Mas não é assim tão fácil encontrar a sua localização sem o GPS ligado, visto que não há uma única inscrição com o nome desta organização ocidental directa e indirectamente responsável por tanto sofrimento humano e tanta destruição.
Bom, afinal até pode ser fácil reconhecer o edifício. Dado o enorme e sofisticado hiper-luxuoso edifício que aqui têm, protegido como uma fortaleza, com muitos carros de luxuoso lá dentro, aqui, no meio de um dos países mais pobres do planeta, uma pessoa facilmente entende que haverá por certo algo de errado com o edifício e, portanto, o proprietário deve certamente ser uma organização como o Banco Mundial ou o FMI.
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Mas voltemos às ONGs. A segunda ferramenta ocidental de branqueamento de crimes ocidentais que visitei foi a COPE. Sim, mais do mesmo, pode verificar aqui que esta é patrocinada pela criminosa USAID, pelo Ministério Norueguês dos Negócios Estrangeiros e pela Embaixada da Austrália. Aqui pode verificar que Barack Obama realizou uma visita à COPE, enquanto o terrorista exército dos EUA fazia mais do mesmo no Iémene e na Síria. E aqui pode aprender mais sobre a visita de Obama e outros convidados "VIP" provenientes dos EUA e dos seus estados clientes, incluindo Naraporn Chan-o Cha, a esposa do Primeiro-Ministro da Tailândia, Prayut Chan-o Cha.
Que adorável, que simbólico: Obama posando atrás de bombas de fragmentação lançadas pelos EUA no Laos, enquanto o seu país continuava a ser o maior produtor e utilizador de bombas de fragmentação em todo o planeta; enquanto que, seguindo ordens de Obama, outros milhares estavam sendo lançadas sobre Raqqa e Deir-Ez-Zour, na Síria. E ainda hoje são lançadas, sob as ordens do Trump.
Quão adoráveis e honestos foram os comentários do Sr. Obama no COPE Visitor Center. Leia o documento! Surpreenda-se com esse exemplo perfeito de hipocrisia imperial. O regime dos EUA, sob o comando de Obama, invadiu 7 nações. Sob ordens directas deste criminoso de guerra chamado Obama, milhões perderam as suas casas, foram feridos, mortos, escravizados, violados ou treinados para se tornarem mercenários terroristas. Sob o regime de Obama, o exército terrorista dos EUA usou armas químicas (fósforo branco), urânio empobrecido e bombas de fragmentação como aquelas que vemos voando em torno da cabeça de Obama (imagem acima). Desavergonhados EUA. Desavergonhado Obama.
Eu assisti várias vezes a um vídeo que ia passando num ecrã colocado à entrada deste "museu". Quero falar sobre o vídeo, mas primeiro assista também:
Prestou atenção às frases ditas nos primeiros 25 segundos? Inacreditável, não é? Escrevo-o aqui, para que se certifique que percebeu bem aquilo que foi dito:
Imagine viver num país onde os seus filhos, brincando com uma bola de metal que encontraram no quintal, podem sofrer grandes ferimentos quando a bola lhes explode nas mãos.
Imagine um lugar onde ir cultivar a sua terra pode colocar a sua vida em risco, onde cozinhar o jantar para a sua família pode fazer a sua casa evaporar-se.
Este país existe."
Claro que existe! Jurem! Vocês, noruegueses e australianos, são vocês que me dizem isto? Então e o que dizem das tropas norueguesas e australianas ilegalmente impondo terrorismo aos sírios, exactamente como o vosso mestre (os EUA) vos ordena que façam? E vocês criminosos norte-americanos, lançando agora bombas de fragmentação no leste da Síria, são vocês que me dizem que "este país existe"? A sério?
Pois claro que existe, e chama-se: Iraque, Afeganistão, Síria, Iémene, Sudão, Líbia, Somália, etc. Parai por favor com a vossa novalíngua, seus perversos monstros!
E vocês, da COPE, por que não falam da Síria ou do Iémene? Porquê? Porquê? Porquê?
Não falam porque são pagos pelo cancro da humanidade que saqueia o mundo e que escraviza não-humanos fora do mundo ocidental. Não o fazem porque a vossa tarefa é a de lavar o cérebro quer a paternalistas ocidentais de férias no Laos, quer às vítimas laocianas dos crimes do vosso mestre. Não o fazem porque o vosso dever é branquear crimes ocidentais.
Mas há demasiado sangue nas roupas e mãos do vosso mestre, sangue novo, sangue velho, sangue podre, sangue fedorento, profundamente entranhado nos tecidos das suas gravatas e dos seus chiques fatos. Portanto, parai, parai por favor com esta farsa!
A USAID está directamente envolvida em mudanças de regime; em ilegais interferências económicas e políticas; na destruição de bons sistemas sociais funcionais, para transformá-los em ditaduras grotescas onde as pessoas são descartáveis, onde as pessoas são violadas, torturadas, mortas e escravizadas por ousarem acreditar em sistemas político-económicos baseados na ajuda mútua.
Portanto não, vocês criminosos membros da USAID, vocês não têm o direito de nos ensinar lições sobre sofrimento humano.
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Este museu não é tão orwelliano como o do MAG. Apesar dos seus criminosos patrocinadores, a COPE culpa os EUA por todos os laocianos mortos ou mutilados. E mostram estatísticas, números, mapas, imagens. A COPE culpa os EUA, tecnicamente, com os dados mostrados, mas a COPE não faz críticas, pois claro que não.
Na verdade, a COPE, indirectamente, "culpa" os laocianos por haverem sido comunistas naquela época e por terem ajudado comunistas vietnamitas. Como se laocianos tendo crenças políticas diferentes fosse a razão de todo o horror que o Laos suportou! Claro que não!
A razão foi a criminosa arrogância do Império Americano, não permitindo que pessoas seguissem princípios económicos por sim escolhidos. A razão é a vontade do Império Norte-Americano de querer impor um consenso político total, de quer fazer precisamente aquilo que a Coreia do Norte não faz mas que ignorantes ocidentais acreditam que a Coreia do Norte faça. Quão irónico, não?
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Por coincidência, vim visitar a COPE exactamente quando celebravam o seu décimo aniversário. Havia boa comida e bebida, para VIPs, e o centro seria em breve fechado para visitantes "normais". No entanto, falei com o director laociano e ele deixou-me ficar. Simpático. Mas não, não me prostituí. Não toquei na comida nem nas bebidas, embora o director me tenha dito que podia fazê-lo.
Falei com ele, com outros empregados e convidados, mas começo a ficar cansado disto. Sempre os mesmos orwellianos e memorizados eufemismos, e os ocidentais conceitos de "humanismo". E nunca as necessárias críticas contra o terrorismo dos EUA. E nenhuma lição extraída do sofrimento pelo qual passou o Laos, uma vez que ninguém sabe das bombas de fragmentação que caem sobre os céus dos novos Laos (Iémene, Síria, etc.). De certa forma, senti desespero. De alguma forma, sinto que ganharam. Bombardearam o Laos, cometeram genocídios e agora cometem um genocídio cultural. Eles ganharam. Os EUA são grandiosos e muitos laocianos usam roupas com bandeiras norte-americanas. Enfim.
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Mas, entretanto, os laocianos continuam a perder. O "museu" de propaganda ocidental da COPE ocupa apenas um pequeno edifício que faz parte de um complexo maior. Este complexo pertence ao Centro Nacional de Reabilitação.
Enquanto os ocidentais se louvam a si próprios com fúteis lágrimas, e enquanto as máfias ocidentais arrecadam o seu dinheiro para ser gasto em propaganda e em SUVs e hotéis de 5 estrelas, os laocianos sofrem e trabalham de verdade.
Enquanto os vampiros ocidentais sugam milhões para gastar no seu estilo de vida aristocrático de luxo e gabam-se da remoção de bombas que eles deveriam remover em silêncio absoluto e com pouca visibilidade, os laocianos trabalham a sério, trabalham muito e com muito menos dinheiro.
Visitei vários edifícios dentro do Centro Nacional de Reabilitação e falei com funcionários, vítimas e pais de vítimas. Conheci locais que perderam (alguns deles recentemente, mesmo aqui, em Vientiane) mãos, pés e pernas. Dispositivos ocidentais destruíram os seus futuros. Ainda assim, quando confrontados com um ocidental, os adultos mostraram-se gentis e sorridentes; as crianças, adoráveis e sorridentes.
Estão felizes por terem acesso a este lugar, onde têm acesso a médicos, onde têm um pavilhão desportivo dedicado a para-desportos, onde têm acesso a tratamentos de fisioterapia; onde podem aprender a andar com pernas artificiais. Mas eles gostariam de ter mais e melhor. Têm próteses antigas e muletas velhinhas.
Seria bom terem novas e melhores. Seria bom construir mais centros de reabilitação. Mas o Laos é pobre, como sabemos. O governo não pode fazer milagres. O país é pobre precisamente porque nós os condenámos a serem seres humanos viúvos ou incapacitados num país violado.
Claro, esqueçamos o passado e concentremo-nos no presente. Sejamos optimistas, pois sim.
Mas, para isso, nós ocidentais e eles criminosos norte-americanos, devemos fazer algo muito fácil e muito simples: deixar de gastar dinheiro com as ONGs ocidentais e dá-lo ao governo local. É o país deles, eles sabem melhor o que deve ser feito. Não têm tempo a perder. Não estão interessados em museus de auto-louvores da treta. Têm as suas vidas para viver e os seus problemas para resolver. Não sejamos paternalistas tótós.
Eles precisam de dinheiro para pessoas que não podem mais trabalhar, precisam de escolas especiais para crianças e adultos mutilados, precisam de mais centros de reabilitação, precisam de mais ginásios onde possam tentar desfrutar do facto de estarem vivos...
Temos o dinheiro mas não queremos dá-lo directamente a um governo "corrupto" e "comunista", como estou cansado de ouvir da boca de ocidentais pedantes, ocidentais arrogantemente ignorantes, chauvinistas, vítimas de esmagadora lavagem cerebral anti-comunista e anti-socialista:
Mas sabes, se deixármos um governo central tomar conta do dinheiro, depois eles ficam com o dinheiro para eles."
"O governo do Laos é muito corrupto."
"Ah, sabes, já foi provado que o comunismo não funciona."
Ah, olha para os os gulags soviéticos."
Eu rio-me para não chorar. Que infinito desespero!
Mentecaptos seres lavados do cérebro cheios de ilógicas tretas pós-modernas misturadas com colonialismo cultural, extrema arrogância e extrema ignorância (depois contem-me estórias sobre norte-coreanos lavados do cérebro), digam-me, por favor, diga-me, quem sois vós para dizer que os laocianos não podem cuidar do Laos? Quem sois vós para acreditar que sabeis mais e melhor do que eles? Quem sois vós para criticar as nações comunistas ou socialistas quando os vossos países capitalistas as bombardearam e as embargaram até à morte? Como vos atreveis a falar de corrupção quando os vossos FMI e Banco Mundial são os maiores corruptores de governos asiáticos e africanos? Quem sois vós para falar sobre má governação quando as vossas corporações se tornam nos proprietários privados de todos os recursos hídricos do planeta, das Caraíbas ao Sudeste Asiático, impedindo o acesso de milhões de pessoas a água potável?
E depois, a sério, querido Ocidental, porque não te calas e não visitas laocianos trabalhando de verdade? Porque não verificas por ti próprio? Tens a certeza que são "verdadeiras" as tuas mentiras ocidentais? És racista ou chauvinista demais para acreditar que laocianos possam tomar conta de dinheiro posto nas suas mãos? És racista ou chauvinista demais para acreditar que os laocianos possam cuidar de si mesmos? Tens a certeza da tua "superioridade" civilizacional e cultural? Estás demasiado bêbado para ir ao Centro Nacional de reabilitação? Então apanha um tuk-tuk!
Serás tu o mais perfeito exemplo de orwelliano zombie lavado do cérebro que acredita que os norte-coreanos são o que tu, na verdade, és?
Tantos deste género por aqui...
Aqui estão várias imagens para refutar a sua realidade paralela:
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Voltando às ONGs, bem, há muitas contradições a serem apontadas sobre essas orwellianas ferramentas presentes no Laos, sem dúvida. Mas há um outro lado igualmente interessante.
Muitas ONGs arrecadam milhões de dólares, oferecidos por ocidentais ingénuos, para pagar, como eu testemunhei no Líbano e aqui, hotéis de luxo, SUV's e principescos seguros de vida sem os quais, aparentemente, os seus funcionários não podem sair à rua (mesmo quando cercados por pessoas sem acesso a água, comida ou electricidade nos campos de refugiados sírios do norte do Líbano). Tudo isto é ultrajante, sem dúvida.
Mas, e o que dizer das ONGs que recolhem o dinheiro dos seus ingénuos doadores, que acreditam que as ONGs estão presentes no Laos quando, na verdade, não estão? Eu tentei visitar o Japan International Volunteer Center e a Clinton Health Access Initiative. Sim, Clinton! Tenho as moradas deles, fui aos locais onde deveriam ter os seus escritórios, mas não os encontrei.
Em ambos os casos, os endereços oficiais fazem levantar suspeitas. Pobres ruas sujas com humildes moradores vivendo em casas igualmente humildes. Não, não é este o tipo de ruas nas quais as ONGs costumam se instalar. Estas ruas carecem de glamour e não cheiram a paternalista colonialismo ocidental.
E então, onde estão estas ONGs? Boa pergunta. Estou a tentar contactá-los por email para ver que desculpas podem propor. Mas aqui não estão. Recolhem dinheiro e nem sequer estão aqui. 100% do lucro para os gangsters por detrás destes esquemas? Porque não?
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Vou (tentar) visitar mais algumas ONGs. A oferta, infelizmente, é imensa. Por exemplo, veja a lista que estou usando para encontrar os seus endereços: Internet Directory of NGOs in Lao PDR. Enorme, não é? Sim, mas há mais, muitos mais!
Por agora deixo-vos com este interessante vídeo sobre bombas de fragmentação, apresentado pelo muito bem informado e brilhantemente sarcástico Pepe Escobar:
Luís Garcia, Vientiane, Laos