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Pensamentos Nómadas

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Laos, entre o Ocidente e a China (PARTE 1), por Luís Garcia

01.01.19 | Luís Garcia

Laos, between the West and China

 

Luís Garcia  POLITICA  Sociedade

 

Coisa foi a primeira coisa que me chamou a atenção quando fui apanhar um autocarro da fronteira para a capital Vientiane? Bem, foi a bandeira japonesa no lado de fora do autocarro, mostrando o apreço que o Japão tem pelo seu colega asiático (Laos) outrora completamente destruído pelo terrorista Império Norte-Americano.

 

Na altura, o Japão não fez nada para contrariar a agressão dos EUA a esta indefesa nação asiática; hoje em dia oferecem autocarros e pontes. Excelente.

 

Mas, a segunda coisa que me chamou a atenção foi bem interessante. Quase todas as publicidades presentes dentro do autocarro eram de smartphones da Huawei, essa companhia chinesa que ameaça tornar-se líder do mercado mundial de smartphones, até recentemente controlado por companhias do ocidente imperial (da ocidentalizada Coreia do Sul). Sim, essa companhia desse outro colega asiático que neste momento constrói no Laos aquilo que os EUA destruíram por completo, e muito mais.

 

E portanto comecei a tomar atenção e, sim, não só as publicidades da Huawei estão em todo o lado como também, muitos laocianos agora possuem telemóveis desta marca chinesa. Eles e muitos outros por esse mundo fora.

 

Boas notícias para a economia chinesa, más notícias para a directora financeira da Huawei, a senhora Meng Wanzhou, ilegalmente detida no Canadá (um vergonhoso estado vassalo dos EUA) no que foi sem dúvida uma decisão com motivações políticas. Como Christopher Black salientou

 

O pretexto para a sua detenção é que a Huawei teria violado as sanções dos EUA contra o Irão. Mas as "sanções" recentemente impostas pelos EUA ao Irão são ilegais segunda a lei internacional, ou seja, a Carta das Nações Unidas, a qual estipula que apenas o Conselho de Segurança pode sancionar economicamente uma nação. As últimas sanções norte-americanas não foram aprovadas pelo Conselho de Segurança. Sanções unilateralmente impostas por uma nação contra outra nação não são legais e violam o direito internacional. E, portanto, a Huawei não violou lei nenhuma. Não existe justificação legal para a sua detenção por parte dos canadianos que a detiveram sem nenhuma justificação legal." 

 

E portanto eu digo, tal como muitos outros dizem: liberdade para Meng Wanzhou! Bom, "um tribunal canadiano deixou a senhora Meng sair em liberdade condicional na Terça-feira, confinando-a a Vancouver e arredores, enquanto ela espera a decisão sobre a sua extradição", como li no jornal ABCAustralia. Bom, mas não o suficiente. E portanto, insisto eu, liberdade para Meng Wanzhou! 

 

Entretanto, o governo chinês já reagiu, confirmando que "já deteve dois canadianos, o empresário Michael Spavor e o antigo diplomata canadiano Michael Kovrig, sob suspeitas de colocarem em perigo a segurança nacional'", informa a ABCAustralia no mesmo artigo. Quem adivinharia uma tal reacção do governo chinês?

 

*

Antes de pegar o autocarro, e enquanto esperava pelo meu visto para entrar no Laos, acidentalmente ouvi uma conversa entre um alemão e o seu "guia" laociano. O alemão estava escandalizado com a tremenda "injustiça" com que são agora confrontados os ocidentais no Laos. Este cidadão alemão queixava-se de, hoje em dia, ser muito fácil para os cidadãos chineses entrar no Laos, enquanto que para os ocidentais é "um enorme problema". 

 

Só que não, não é. Você preenche 2 documentos com informações pessoais básicas; paga 26,5 €; e espera os 5 minutos que eu esperei enquanto ouvia estas absurdas queixas. Onde está o problema? Eu não sei quão fácil é para um chinês entrar no Laos; provavelmente não precisa de visto, irei averiguar esta questão mais tarde. 

 

De qualquer modo, como é que cidadãos chineses entrando com facilidade no Laos é sinónimo de "grande problema" para um alemão? O pobre "guia" estava sem palavras, e ainda bem para ele que o seu inglês também era muito fraco; não precisou assim de fingir interesse pelos disparates deste alemão.

 

Se eu fosse laociano, eu diria que um grande problema foi e ainda é o que os EUA (o Grande Irmão da Alemanha) fizeram no Laos. Não grande, mas sim enorme, incomensuravelmente grande! Os EUA obliterou por completo o Laos e o seu povo e a sua natureza, por terem ousado ser comunistas e dar refúgio a desesperados seres humanos vietnamitas fugindo de similar terror norte-americano.  

 

Ainda hoje é um enorme problema, com muitas bombas e minas espalhadas por todo o país. E, além de genocídio, os EUA cometeram também um genocídio cultural. Os EUA eliminaram o Laos do mapa, linha por linha, como se de um macabro videojogo se tratasse, enquanto que, ao mesmo tempo, empurravam a população sobrevivente para sul, rumo aos "campos de refugiados" perto da capital onde um orwelliano futuro os esperava: ser "ajudado" e "educado" pelos agressores. 

 

II portanto, hoje, o Laos é esta desesperante nação onde não gosto viajar de todo, quer pelos laocianos culturalmente destruídos, quer pelas manadas de ocidentais bêbados. Sentimentos pessoais, mas este artigo não é sobre mim. 

 

A China não fez nada do género. A China apoiou o Laos no passado, e apoiar é o contrário de agredir militarmente. O mínimo que o Laos pode agora fazer é oferecer entrada sem necessidade de visto ao povo chinês, não?

 

E, no presente, a China está construindo centenas de pontes, estradas, linhas de comboio, centrais eléctricas e túneis, reconstruindo o pouco que os imperialistas franceses construíram (e os EUA depois destruíram) e construindo uma enorme quantidade de novíssima infra-estrutura, como André Vltchek nos relembrou recentemente:

Este é o maior projecto na história do Laos, e é com frequência descrito como um gigantesco desafio de engenharia: com 154 pontes e 76 túneis, assim como 31 estações de comboio."

 

Do ocidente, apenas hipstersnewwagers alcoolizados, voluntariamente ignorantes da história do Laos e adeptos desse crime contra a humanidade e contra a natureza chamado "turismo de massa".

*

E quanto paga um alemão para entra em França, na Holanda ou mesmo na Indonésia? Nada! A decisão certa seria, portanto, para de se queixar ou, melhor ainda, volta para a Alemanha.

 

Fico a perguntar-me se este alemão sabe o quão complicado é, para um laociano ou para um tailandês, obter um visto para o espaço Schengen. Estes sim têm "problemas", enormes problemas, quando tentam visitar a Europa. Para um alemão entrar no Laos, o "grande problema" resume-se a despender o equivalente uma só hora de trabalho na sua terra natal!

 

Sim, é certo que ele não trabalha na Alemanha. Como muitos outros, eu incluído, ele trabalha na Tailândia. Mas os salários de falang" (palavra muito racista que os tailandeses usam para se referirem a "brancos" ou caucasianos) são tudo menos baixos na Tailândia. Pelo contrário, muitos ocidentais ganham muito mais que os tailandeses mesmo sem terem qualificações apropriadas (não digo que os tailendeses tenham). Os ocidentais ganham salários europeus na Tailândia. E eles, nós, muitas vezes são pagos apenas pelas suas "caras brancas", e bem melhor pagos que os locais, e a vida na Tailândia é bem mais barata que na Europa. 

 

Existem sem dúvida muitos aspectos negativos em relação à Tailândia, social e psicologicamente não é fazer ser um "cara branca" na Tailândia; mas, por outro lado, muito nos é facilitado simplesmente porque somos "brancos". Eu chamo a isto "racismo positivo", não porque eu considere tal situação positiva, não, mas porque é o contrário do racismo (negativo). 

 

Por outro lado, há imensos tailandeses que trabalham no meu país natal (Portugal) recebendo salários muito mais baixos do que aqueles que recebem os portugueses, precisamente porque aqueles não têm "caras brancas". Muitos trabalham no duro em estufas e barcos de pesca portugueses, e trabalham mais horas que os seus colegas portugueses, e têm de se mostrar gratos pelo "privilégio" que lhes damos de serem nossos "escravos" em solo de "brancos". E para eles sim, é de facto um "grande problema" obter os vistos necessários para serem escravizados na Europa. 

 

Pior ainda, é um enorme problema para um indonésio trabalhar 30 horas numa fábrica, sem pausas, mijando e cagando na sua roupa interior, de forma a poder cumprir com as encomendas natalícias vindas desse mesmo Ocidente que é o responsável principal da implementação do orwelliano estado de terror do qual são vítimas os indonésios. 

 

Pior ainda, é um enorme problema ser-se um escrava paquistanesa ou bangladechiana nos EAU, na Arábia Saudita, no Catar ou no Barém (esses nossos queridos estados aliados aos quais nós, o Ocidente, vendemos infinitas quantidades de equipamento militar, depois usado para agredir a Síria, a Líbia ou o Iémene). É um enorme problema ser-se uma escrava constantemente violada e chicoteada, incapaz de fugir do seu pesadelo porque o seu passaporte encontra-se retido pelo seu escravizador dono.

 

Estes sim são problemas grandes e reais. Pagar 26,5 euros e esperar 5 minutos não é de todo o problema.

*

Ao final da tarde, fui até ao mercado de rua junto ao Rio Mekong, Tinha um plano: comprar uma t-shirt com a cara de Che Guevara ou com um qualquer símbolo relacionado com socialismo, comunismo ou a China.

 

Encontrem montes de t-shirts, bonés e casacos com a bandeira dos EUA, com a bandeira do Reino Unido, com nomes de cidades como Nova Iorque e mesmo com imagens da Torre Eiffel. Bandeiras e símbolos das 3 principais criminosas nações ocidentais (EUA, Reino Unido e França) era coisa que não faltava. 

 

Mas agora, encontrar a cara de Che Guevara imprimida numa t-shirt? Boa sorte. Na realidade, encontrei uma, mas eu não gosto de todo vestir amarelo, e portanto não a comprei. Encontrei também uma t-shirt com uma foice e um martelo, mas era demasiado larga para mim. 

 

Sim, é incrivelmente difícil de comprar, num mercado de rua do comunista Laos, t-shirts com mensagens socialistas ou comunistas. Aposto que a procura (ocidental) é simplesmente demasiado baixa.

 

Incrivelmente difícil de encontrar mensagens socialistas ou comunistas? Sim, sem dúvida. Mas há pior, na minha opinião. É impossível, pois claro, encontrar uma t-shirt com a bandeira da China, o país que agora reconstrói e moderniza o Laos e muitos outros países por esse mundo mundo fora.

 

E que tal encontrar a bandeiras russa, bandeira desse país que ousa proteger a Síria (e outras nações) das agressões imperiais ocidentais? Nem pensar, nem no meu mais extravagante sonho eu encontrar-me-ia comprando uma t-shirt com a bandeira da grandiosa Rússia. A procura é pura e simplesmente inexistente. Os ocidentais foram demasiado lavados do cérebro com a "demoníaca" Rússia e com o "demoníaco" Irão. Idem aspas para a maior parte dos asiáticos, infelizmente. 

*

Grande surpresa (ou não), há imensos turistas chineses e imensos de negócios turísticos com informação escrita em chinês. Os caracteres chineses não são coisa nova por estas bandas, claro que não. É fácil de encontrá-los em zonas não-turísticas da cidade, onde existe uma miríade de lojas chinesas, empresas chinesas e negócios chineses.  

 

Em alfabeto latino, por norma, encontramos inscrições em francês ou inglês. A maior parte destas inscrições encontram-se em bares, restaurantes e lojas, mas há mais. Podemos também encontrar línguas europeias em edifícios comprados ou alugados pelas arrogantes, ignorantes, preguiçosas e patéticas máfias ocidentais chamadas ONGs. Falarei sobre algumas delas na segunda e na terceira partes.

 

Caracteres chineses sim, mas bandeiras chinesas não. Aqueles que já visitaram o Laos, por certo que viram muitas bandeiras da Coreia do Sul e do Japão. Podemos encontrar estas bandeiras em estradas da "amizade", pontes da "amizade" ou autocarros da "amizade". Maravilhoso. 

 

Mas depois ponho-me a pensar: então e as bandeiras chinesas? O que a China está realizando agora no Laos nem sequer é comparável com o que coreanos e japoneses fizeram. Coreanos e japoneses ofereceram gotas, a China está trazendo um oceano de progresso e prosperidade. 

 

Por que razão os laocianos não pintam umas bandeiras chinesas aqui e ali? Demasiado lavados do cérebro pela propaganda anti-chinesa paga pelas forças destrutivas do império ocidental? É capaz.  

 

Por que razão os chineses não pintam ou pagam para pintar umas bandeiras chinesas aqui e ali? Seguramente demasiado ocupados com trabalho a sério, tal como testemunhei durante a minha volta de bicicleta pelas ruas de Vientiane. Enquanto que preguiçosos ocidentais (e aliados seus como a Coreia do Norte e o Japão) tapam os seus crimes com as suas próprias bandeiras, os chineses trabalham no duro para construir, reconstruir e modernizar o Laos. 

 

A China é uma nação pacífica, uma incrível força positiva focada no progresso e prosperidade da espécie humana laocianos incluídos). Nós, o Ocidente, somos o preciso contrário disso.

 

Luís Garcia, Vientiane, Laos

 

 

 

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