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Pensamentos Nómadas

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(In)Capazes de perceber o que é importante para o feminismo, por Ricardo Lopes

23.01.17 | Luís Garcia
 

 

Incapazes

 

RICARDO MINI copy  SOCIEDADE POLÍTICA

 

 

Alguém conhece as Capazes? Eu, infelizmente, conheço. Ou melhor, felizmente conheço. É importante conhecer as pessoas que compõem o movimento feminista com maior visibilidade num país, neste caso, Portugal. É importante, porque essas pessoas serão as responsáveis pela comunicação do feminismo e daquilo que consideram importante nele, na sua versão de “feminismo”.

 

Mas, quem são realmente as Capazes? Segundo o próprio site, “Capazes é uma Associação Feminista que tem como objectivo promover a informação e a sensibilização da sociedade civil para a igualdade de género, defesa dos direitos das mulheres e empoderamento das mesmas, definindo-se assim como entidade promotora de uma ocupação igualitária das mulheres no espaço público.”; “Assumindo-se como feminista, a Associação englobará nos seus objetivos a luta contra a discriminação de mulheres, população lésbica, gay, bissexual, intersexo e transgénero na promoção da cidadania, dos direitos humanos e da igualdade de género.”; “A par da Associação , a plataforma on -line pretende ser um  espaço nobre da afirmação da mulher e de discussão dos feminismos, reflexão da condição feminina a nível global(…)”; “Capazes pretende ser o contributo português para esta causa global – o feminismo – afirmando a mulher portuguesa no mundo, dando-lhe poder, incentivando o debate, a reflexão e a discussão e ao mesmo tempo inaugurando uma enorme e luminosa sala de exposições do talento com o holofote apontado para as mulheres.”.

 

Nas atividades a desenvolver, pode ainda ler-se, “Fomentar e patrocinar a realização de investigação e estudos sobre o papel da mulher na sociedade, com o objetivo de combater as desigualdades identificadas, contribuindo assim para que esta possa assumir e exercer de forma plena e justa os seus direitos(…)”.

 

Portanto, meus amigos, a agenda sociopolítica das Capazes baseia-se, mais uma vez, e para não destoar com a modinha pós-moderna, na promoção de uma luta e uma política identitárias e exclusivas. Apenas permite a identificação das mulheres. E, claro, como soaria mal não os incluir, já que é preceito obrigatório nos movimentos atuais que se querem apresentar como plurais, movimentos do tipo arco-íris, os LGBT, e os I vá, também, que também lá referem os intersexo. Entretanto, alguém se esqueceu de as avisar que já estão a perder na luta intergrupal pelo status moral, porque a sigla já vai em LGBTQQIP2SAA:

 

Lesbian, Gay, Bisexual, Transgender,

Two Q’s to cover both bases (queer and questioning);

I for Intersex, people with two sets of genitalia or various chromosomal differences;

P for Pansexual, people who refuse to be pinned down on the Kinsey scale;

2S for Two-Spirit, a tradition in many First Nations that considers sexual minorities to have both male and female spirits;

A for Asexual, people who do not identify with any orientation; and

A for Allies, recognizing that the community thrives best with loving supporters, although they are not really part of the community itself.

 

Assim sendo, esqueceram-se dos queer, dos pansexuais, dos que têm dois espíritos (deve ser uma espécie de heteronímia), dos assexuais e…tan tan tan tan…dos aliados!, que é uma maneira hipócrita de darem a entender que defendem os direitos de toda a gente, mas, MAS!, desde que os apoiem. Ou seja, defendem os direitos de toda a gente que não se insere em qualquer um destes grupos, desde que os apoiem a eles. Aliás, na verdade, nem é bem isso, porque o que se pode ler é que “the community thrives best with loving supporters, although they are not really part of the community itself.”. Desta forma, percebe-se que eles nem sequer assumem qualquer tipo de compromisso para com as pessoas que, mesmo os apoiando, não fazem REALMENTE (atentar nesta palavra) parte da comunidade.

 

Portanto, estas lutinhas ridículas não passam de pessoas que se juntam, normalmente com interesse próprio - porque tem graça que não há pessoas que façam REALMENTE parte da comunidade que não se identifiquem com algum dos grupos sociais por cujos direitos se pretende lutar. Mulheres a defenderem mulheres, gays, lésbicas, transexuais e afins, a defenderem gays, lésbicas, transexuais e afins. – para decidir, entre elas, quais são os grupos de pessoas que verdadeiramente são vítimas do sistema ou da sociedade, quais é que não são, separá-los, chamar os primeiros de “minorias” e os segundos de “maioria”, e defender, seja por que via for, os primeiros, ao mesmo tempo que se ataca os segundos. Ora, políticas e lutas identitárias, como eu já expliquei no meu texto acerca daquilo que o Trump representa para os progressistas, dão merda. E, se não confiam em mim, podem ler o mesmo aqui. Aliás, por isso é que os ditos liberais e progressistas, parecendo mais abertos do que os conservadores e retrógrados, partilham com eles mecanismos mentais iguais, de entre os quais se destaca o facto de discriminarem contra aqueles que não pensam como eles. Portanto, lá se vai a tolerância para o galheiro.

 

Um dos principais mecanismos de difusão da cartilha (sim, é cartilha, e não informação relevante acerca do assunto, mas já lá iremos em mais pormenor) - e porque quem não gosta de aprender sobre o assunto, simplesmente recorrendo à informação que recebeu da cultura para a qual foi condicionado, e também porque assim é mais fácil de produzir conteúdo, aprecia bastante os discursos cheios de floreados, bem-sonantes, politicamente corretos e, principalmente, moralistas – é a crença na capacidade da empatia para mudar o mundo. Isto, mais uma vez, remete para o problema que afeta os progressistas, como referi acima, porque a empatia não serve, nem nunca servirá, para melhorar o mundo, nem que seja para um grupo exclusivo de pessoas, ou vários. Porquê? Porque a empatia é um sentimento que se dirige às pessoas que partilham semelhanças connosco, em termos de aparência ou maneira de pensar e ver o mundo (ideologia), apenas se dirige às pessoas com as quais somos capazes de estabelecer uma relação de identidade. Ora, é possível estabelecer uma relação de identidade com pessoas com quem não temos nada em comum, ou sequer com as pessoas em relação às quais divergimos em questões consideradas por nós importantes? Não. Por isso, se vamos basear a luta na empatia, então podemos mandar para o galheiro a tolerância, a pluralidade e a “inclusividade”. Mais uma vez, aquilo que eu digo soa-vos mal? Então, fiquem aqui com uma palestra do especialista no assunto. Demasiado longa? Então, tomem uma versão de 8 minutos. Não me interpretem mal, por favor. Eu não estou a tentar diminuir intelectualmente os leitores do Pensamentos Nómadas, mas sim dirigir sarcasmo às pessoas às quais me refiro.

 

Se os grupinhos exclusivos, incluindo o das Capazes, não conseguem perceber que fazer uma luta pelos direitos e interesses de grupos sociais exclusivos nunca resulta em nada de duradouro, pelo menos a longo prazo, uma vez que, na melhor das hipóteses, remeterá grupos opostos para a clandestinidade, até que se criem condições favoráveis a uma contrarrevolução e a estratificação social seja reposta, então não sei bem o que hei de dizer mais.

 

Agora, voltando especificamente ao caso do feminismo, e particularmente do feminismo que as Capazes promovem.

 

Para começar, quem são, realmente, as Capazes? Podem encontrar aqui as 125 cronistas e integrantes do movimento. Sim, eu contei-as, uma a uma. Logo aqui se pode ter uma visão panorâmica da coisa. Principalmente para um grupo (mais um, nada de novo), que defende a estupidez das quotas, chega a ser cómico verificar que não se encontra nas suas fileiras uma única mulher preta (sim, uso o termo, porque também há grupos de defesa dos direitos dos pretos, e tratam-nos como tal, não me venham com merdas), uma única mulher muçulmana, pelo menos daquelas que recorram a qualquer peça da indumentária típica, uma única mulher asiática. Enfim, poderíamos prosseguir na enumeração, mas o que interessa perceber é que a totalidade do movimento é composto por mulheres brancas, 90 e tal porcento (e só não digo 100% porque não posso asseverar a origem de umas poucas) portuguesas, e praticamente todas com aspeto de dondoca tia de Cascais (que, portanto, ou o são mesmo ou fazem parecer que são). Aliás, até em pequenos aspetos se verifica a extrema homogeneidade das Capazes. Apenas consegui contabilizar 12 com um corte de cabelo que se pode considerar curto (embora seja algo relativamente subjetivo, mas reporto-me ao padrão de beleza feminino) e, de entre essas, apenas uma com corte de cabelo normalmente não associado às mulheres, meio rapado.

 

Mais, a que temas é que as Capazes pretendem recorrer para sensibilizar as mulheres para a luta pelos seus direitos (porque já se viu que não lhes interessa sensibilizar mais ninguém, exceto talvez crianças, que aí já pareceria mal distinguir entre meninos e meninas como alvo. Tem de se jogar sempre com aquilo que soa bem e é socialmente aceite.)?

 

Convido-vos a divertirem-se a pesquisar palavras ou expressões chave na barra de pesquisa do site. Eu diverti-me alguns minutos nessa tarefa, e valeu a pena. O que recolhi? Pesquisei “chorar” e obtive 22 páginas de resultados. É importante fazer um aparte, para dizer que cada página apresenta 10 resultados. Depois, pesquisei “amor” e, pau!, 111 páginas de resultados. A seguir, “sozinha”, e 35 páginas de resultados.

 

Agora, e como me interessa conhecer a disposição das capazes para o moralismo, sob a forma da prescrição de comportamentos aos outros, pesquisei “ser mulher”, e obtive, cum raios que me partam!, 161 páginas de resultados! Atenção, as Capazes não só lutam pelos direitos das mulheres, como lutam principalmente pelo direito inalienável de as mulheres serem exatamente como elas dizem que uma mulher deve ser. Caso contrário, não gastariam tanto latim nestas prescrições, incluindo dizer às mulheres como devem fazer sexo.  

 

E, como não poderia deixar de ser, um bom site feminino, e não feminista como diz ser, tem de ter uma secção de “lifestyle”, porque não podes ser mulher sem partilhares hábitos e práticas com as ‘migas. E, começa logo bem, porque o primeiro tópico é “Moda”. Agora, será uma crítica à moda e a seguir tendências? Não, é, como sempre, a ditar tendências, ao ponto de fazerem todo um texto, não a desconstruir o facto de ditas feministas mesmo assim abraçarem os ditames da moda, mas sim a mostrar com as feministas se vestem. Depois, ainda no separador de “lifestyle”, temos tópicos como “Beleza”, “Alimentação” e “Saúde”. Porque, ‘migas, nós bem podemos ser feministas…perdão, femininas…mas não vamos para a luta sem estar no nosso melhor, a dar nos nossos queridos detox e bem de saudinha. Ai ‘migas, tenham lá paciência, mas há que ter estilo a pegar num cartaz, não nos viemos meter numa luta para ter ainda mais tempo de antena na praça pública e suprir a nossa necessidade de atenção desmesurada, para dar isso tudo a perder. Vá, fachabor de irem lá fazer os liftings da L’Óreal, arranjar as sobrancelhas e dar nas saladas do tio Goucha, que se faz tarde! Há um sítio onde irmos todas juntas pegar num cartaz para as câmaras, e depois temos mesa reservada no Hemingway.

 

Mas, se já achavam isto demasiado mau para fazer parte dos conteúdos de um site dito feminista…feminino, raios!...então deem uma olhada nos resultados que aparecem quando se pesquisa “publicidade”. Agora, sim, está o forrobodó instalado ao máximo. Desde publicidade camuflada como artigo/crónica, até publicidade camuflada como entrevista, até publicidade à descarada. E, claro, mais uma vez, temos de nos amar a nós próprias, ‘migas, mas precisamos dos produtos e das marcas certas para nos podermos amar, quem é que vai por aí fora desgovernada a amar-se sem Matinal e Corpos Danone para cuidarem do nosso corpinho escultural? (Quem é que vai por aí fora desgovernada a amar-se, sem ler os livros do Gustavo Santos?) Aliás, não é o próprio slogan da Corpos Danone, que apareceu mais do que uma vez em textos no site? Vamos lá, ‘migas, apoiar o movimento #PorqueMeAmo, com a nossa querida Jessica Athayde (quem melhor do que alguém que aparece na televisão?) a fazer publicidade sob a forma de entrevista, ou entrevista sob a forma de publicidade, ou a falar de si própria para promover os Corpos Danone, ou promover os Corpos Danone para falar de si própria.

 

Aliás, se pesquisarmos “entrevista”, rapidamente verificamos que apenas têm tempo de antena - talvez por serem as únicas pessoas que têm conhecimentos suficientes sobre o assunto na cabeça desta gente – mulheres famosas, padres (famosos) gays e homens famosos gays.

 

Perante isto, só me resta oficializar a saída à rua do circo das malucas, e que comece o espetáculo.  

 

Bem, voltemos às pesquisas.

 

Também pesquisei “homens”, porque, afinal de contas, algo que só tem a ver com mulheres (e LGBTIABJVSBDJBSK, vá) não deveria dar muita atenção aos homens. Mas, quem tal pensou, enganou-se, porque surgem logo 81 páginas de resultados, com artigos/crónicas ao longo dos quais as senhoras vão prescrevendo o comportamento masculino para com as mulheres, e dizer aos homens o que são e o que deveriam ser.

 

Agora, e para dar um exemplo do proselitismo que corre neste site, decidi dedicar-me a pesquisar nomes de políticos, para ver o nível de atenção que foi dado a promover uma clara agenda política contra Donald Trump e a favor de Hillary Clinton. “Trump” devolve 3 páginas de resultados, assim como “Hillary” e “Obama”.

 

Para quem ligou o cérebro para falar de política quando calhou estar em causa a disputa entre uma mulher e um homem, seria de esperar que também o fizesse, pelo menos com uma regularidade semelhante, para falar acerca de problemas provocados por outro dos seus adorados, Barack Obama. Assim, pesquisei “Síria”, e obtive apenas 2 páginas de resultados, e que mesmo assim são compostas, na sua maioria, por textos provenientes de pessoas externas ao site, e, ao que me parece, escolhidos a dedo para não incluírem dedos metidos em feridas. Vamos tentar outra vez. “Líbia”, ah!, um único resultado, e que pode simplesmente ter o nome do país lá pelo meio, sem dizer nada de relevante sobre o assunto. Mas, a esperança é a última a morrer, principalmente na cabeça de ideólogos que acham que mudam o mundo com discursos bonitos, floreados e palavras rebuscadas. “Iémene”, ah, só 3 textos!, e pelo menos dois deles moralistas! Vamos mas é lá buscar o vocabulário moralista para chamar nomes às pessoas que mantêm determinado tipo de costumes em países destruídos social e economicamente. Ainda por cima um deles a insistir na parvoíce de que as regras de indumentária estabelecidas para as mulheres em sociedades predominantemente islâmicas são menos libertárias do que aquelas que são determinadas para as mulheres do dito “mundo ocidental”. Minhas caras, tenham vergonha, e vão ler este livro, para ver se, finalmente, conseguem enfiar na porra da cabeça a compreensão de que o problema está na cultura de género e, neste caso específico, na imposição, sob a forma de padrão de beleza, exercida sobre as mulheres, de qualquer cultura. Principalmente, tenham vergonha porque usam o site para promover o padrão de beleza para a mulher do mundo ocidental, como já aqui mostrei. Tenham mesmo muita vergonha.

 

Enfim, pode-se continuar a pesquisar nomes de países destruídos e com povos chacinados pela administração Obama, na continuidade do trabalho começado pela administração Bush, que os resultados são os mesmos. Isto, até que eu decidi pesquisar “Palestina” que, entre os seus 4 resultados, devolveu um texto, com o qual ainda não tinha tido contacto, mas que é das coisas mais asquerosas e repugnantes, do ponto de vista humanitário, que alguma vez li. Um texto que transpira moralismo e ignorância por todos os poros. Um texto onde se podem ler pérolas como "Mais, a cultura cristã tem evoluído, repudiando, maioritariamente, a aplicação literal das regras do Antigo Testamento. A mesma evolução tem sido mais difícil na cultura islâmica." ou "Não me parece que os muçulmanos tenham de escolher entre a cultura islâmica (a parte que é compatível com os direitos humanos) e a tolerância. Contudo, terão de lutar ativamente pela tolerância e pela igualdade de género. Não podem ficar calados.". Ó minha cavalgadura, mas alguma vez a senhora se dedicou a estudar a sociedade dos países pilhados pelos americanos a partir da década de 70, antes das invasões? Alguma vez estudou a sociedade, por exemplo, do Iraque ou do Afeganistão, antes das intervenções bélicas e económicas americanas? Sabe, por acaso, que existe uma tendência, confirmada por via de estudos sociológicos, para as sociedades e as pessoas se manterem agarradas a valores retrógrados ou os reforçarem em situações de precariedade material? Sabe que, para provocar golpes de estados nos países em que intervieram, os americanos alinharam com forças políticas e sociais que tinham sido depostas anteriormente, e que, essas sim, eram conservadores e trouxeram de volta todos esses valores que tinham sido remetidos à clandestinidade? Não, não sabe. Não sabe, e também prefere utilizar frases bem-sonantes para branquear as atividades dos cristãos, que incluem católicos e protestantes. Está-se a borrifar para a participação de autoridades provenientes de países maioritariamente cristãos em campanhas de esterilização forçada em zonas rurais da Índia que, só por acaso, é país maioritariamente hindu, aquela religião muito bonita e adorada por frequentadores de resorts, a religião da “paz” que promoveu a divisão da sociedade em castas, que continuam a funcionar nos dias atuais, embora, oficialmente, tal sistema tenha acabado há mais de 50 anos atrás, e que portanto o alvo de tais campanhas são as mulheres de castas inferiores, e baseando-se no mito de que o planeta está sobrepovoado de humanos. Também se está a borrifar para as atrocidades sociais promovidas por evangélicos na América do Sul, EUA, América Central, etc. Também de está a borrifar para o facto de terem sido adorados cristãos europeus a utilizar a mesma forma de argumentação a que recorreu, para fazerem campanha contra ao refugiados, criar propaganda contra o islamismo, para defender a sua querida cultura cristã. Enfim, entre muitas outras coisas, que apenas servem para invalidar completamente o texto referido.

 

Enfim, as Capazes são sabem, claramente, o que é importante para o feminismo. Promovem um feminismo exclusivo, que ficou muito bem definido por Emma-Kate Symons, num artigo para o New York Times, “It saddens me to see the inclusive liberal feminism I grew up with reduced to a grab-bag of competing victimhood narratives and individualist identities jostling for most-oppressed status.”. É que é exatamente isto em que assenta esta forma de feminismo, considerado de terceira vaga. É uma competição aberta entre as mulheres para ver quem é que leva para casa a taça de maior vítima de entre elas. Por isso, mostrei as pesquisas que mostrei. É um feminismo exclusivo, que apenas serve para provocar ou agravar atritos sociais. Espero que este artigo cumpra com todos os requisitos das Capazes para poder ser considerado válido, uma vez que é redigido por uma MULHER BRANCA, NASCIDA E QUE VIVE NUM PAÍS OCIDENTAL, AINDA POR CIMA O “MELHOR” DE TODOS, para um JORNAL MAINSTREAM, ainda por cima AMERICANO.  

 

Por isso, quando surgiu um artigo raríssimo de encontrar em sites/páginas deste tipo como este, não só teve extremamente poucas leituras, comparando com artigos de choradeira e publicidade a produtos femininos, como também não se viu nenhuma das habitués a ir lá fazer o típico comentário histérico de “Ai, ‘miga, que texto tão lindo! Disseste tudo! Adoro-te!”.

 

Um texto que eu comentei da seguinte forma, e que aproveito para citar, porque inclui aquilo que é realmente importante para a luta feminista:

 

“"Dá-me um arrepio gélido na espinha sempre que alguém, principalmente feminista, começa uma frase com “as mulheres” ou “os homens”, “as raparigas” ou “os rapazes”."

Excelente! O que já andei aqui meses a comentar, mas as variadas autoras preferiram começar a ignorar ou a comentar com base no desprezo, sem se disporem a discutir o conteúdo.

As mulheres e os homens não nascem de uma determinada maneira. O seu comportamento é completamente moldado pela cultura na qual estão inseridos, e na qual são criados e educados. Tudo numa determinada cultura concorre a reforçar os papéis de género, todos os conteúdos culturais, tudo o que determina o que devem vestir, as atividades a que se devem dedicar, a forma como devem falar, aquilo de que devem gostar, o que devem sentir.

Não há mulheres assim ou homens assado. Há pessoas! Há mulheres muito diferentes e homens muito diferentes. Há mulheres que parecem homens e homens que parecem mulheres. E essas parecenças são todas artificiais, porque manifestam-se quando a pessoa de um sexo decide adotar os preceitos determinados para o género cultural do sexo oposto.

Por isso!, passei meses a comentar contra os textinhos que incitavam às quezílias entre duas construções artificiais, a do género masculino e a do género feminino, os textos que estão repletos de "as mulheres são isto", "os homens são aquilo", "as relações dão errado, porque os homens são assim, as mulheres são assado", "as mulheres são melhores porque isto", "os homens são piores porque aquilo". Isto é completamente absurdo!

 

Aquilo que há de mais importante a combater, e aquilo que deveria ser o alvo primordial do feminismo, é a cultura de género! A cultura de género não afeta só mulheres, mas também homens! A cultura de género não faz prescrições apenas para as mulheres, mas para os homens também! Se têm uma ideia de que as mulheres são assim e os homens assado, é porque existe uma tendência para as mulheres e os homens de uma determinada cultura se comportarem de forma idêntica, porque é criado um padrão de comportamento artificial por via do condicionamento cultural!

 

É assim tão difícil de perceber?

Finalmente, alguém escreve este texto tão necessário e tão importante!

O melhor texto que alguma vez li aqui!

Parabéns!

Ricardo Lopes

 
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