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Eis os verdadeiros genocidas na Síria, por Stephen Gowans

30.04.18 | Luís Garcia

 

Eis os verdadeiros genocidas na Síria

 

Stephen Gowans POLITICA SOCIEDADE

  

Mehdi Hasan, do Intercept, antiga cara da máquina de propaganda da monarquia Catari (a al-Jazeera) e o homem que, de acordo com a sua recusada candidatura de emprego no jornal britânico The Daily Mail, apoia o "conservadorismo social em questões como casamento, família e aborto e gravidez na adolescência” e admira “a franca defesa da fé (…) face aos ataques de ateus militantes e seculares”, foi o mesmo que denunciou o presidente sírio Bashar al-Assad como sendo um genocida. Para defender o seu caso, Hasan aponta para as baixas civis que resultaram da decisão do presidente sírio de usar a força para defender o seu país contra (aquilo que Hasan reconhece serem) as agressões da voraz política externa dos EUA, dos extremistas apoiados pelos sauditas e do oportunismo israelita (para usar as suas próprias palavras).

 

O número de 400.000 mortes na guerra da Síria desde 2011 é amplamente citado, do qual as forças do governo sírio podem ser directamente responsabilizadas por apenas uma fracção. Suponhamos que, sem nenhuma base empírica, e apenas por uma questão de argumentação, desde 2011, 100.000 pessoas morreram às mãos do Exército Árabe Sírio. Com base nisso, Hasan argumenta que as 100.000 mortes, que se seguiram à decisão de Assad de defender o seu estado, fazem do presidente sírio um genocida.

 
Mas, então, e o que dizer das pelo menos 500.000 mortes provocadas por uma decisão que nada tinha a ver com auto-defesa? A pessoa que tomou essa decisão não seria também um genocida ?
 
A decisão de Bill Clinton de impor sanções ao Iraque levou à morte de 500 mil crianças com menos de cinco anos, por doença e desnutrição, segundo a ONUAo contrário das forças predatórias, extremistas e oportunistas contra a Síria, que ameaçam a existência desse Estado, o Iraque não representava nenhuma ameaça para os Estados Unidos. Madeline Albright, embaixadora de Clinton na ONU, disse a Leslie Stahl no 60 Minutes que o assassínio em massa de meio milhão de crianças “valeu a pena”. O extermínio no Iraque foi um genocídio, e as palavras de Albright são uma enorme e odiosa apologia disso mesmoO bloqueio britânico à Alemanha, durante a Primeira Guerra Mundial, levou à morte de 750 mil civis alemães e, embora o número de mortos seja horrível, pode-se argumentar, em seu favor, que o bloqueio foi realizado num momento de crise. O bloqueio imposto por Clinton ao Iraque não foi. Não houve crise. Nem emergência. Nenhuma ameaça havia contra os Estados Unidos. E, no entanto, Clinton tomou uma decisão cujo resultado foi a morte de meio milhão de crianças iraquianas. E Albright disse que o massacre "valeu a pena".
 

A ministra dos Negócios estrangeiros do Canadá, Chrystia Freeland, que criticou Assad, encontrou-se recentemente e trocou opiniões e gentilezas com Albright, de quem é admiradora. O avô de Freeland, Michael Chomiak, era um colaborador nazi e “o editor-chefe de um jornal nazi na Polónia ocupada que difamava judeus durante a Segunda Guerra Mundial”. Freeland, que “sabia há mais de duas décadas que o seu avô materno ucraniano tinha sido editor-chefe de um jornal nazi”, poupou o seu avô da inimizade que expressa por Assad. Freeland diz que admira o seu avô, um apologista do genocídio realizado por nazis, posição que condiz com a sua admiração por Albright, uma apologista do genocídio realizado por norte-americanos. A colaboração de Chomiak com um poder imperialista perversamente agressivo (o Terceiro Reich) foi a antecâmara da colaboração da sua neta com outro poder imperialista perversamente agressivo (o império dos EUA).

 

E quanto às 400.000 mortes que se acredita terem sido produzidas pelo conflito sírio? Quem, em última análise, é o responsável? Washington tem travado uma longa guerra na Síria, cujo objectivo não é a autodefesa mas sim a eliminação dos nacionalistas árabes em Damasco. Na busca dos seus objectivos estratégicos, Washington impôs sanções à Síria (o equivalente económico da bomba atómica) e reuniu islamistas para realizarem uma jihad contra o governo secular de Assad, que é explicada em detalhe no meu livro Washington’s Long War of Syria. As culpas pelas 400.000 mortes na Síria recaiem sobre os ombros de George W. Bush, Barack Obama e Donald Trump, os presidentes americanos que conduziram guerras contra a Síria, nem em auto-defesa nem em resposta a uma emergência, mas sim para eliminar um obstáculo à total dominação de Washington sobre o mundo árabe (um projecto cujo progresso foi auxiliado pelo anterior extermínio de 500.000 crianças iraquianas por parte de Clinton). É provável que esses homens (e Freeland também) pensem que 400.000 mortes valem a pena, e que a fábrica de cadáveres que haverá no prosseguimento destas guerras que estão na agenda dos Estados Unidos é um preço que vale a pena pagar (E por que não? Afinal, estes não levam com as consequências negativas de uma agressão imperial a um país que é fraco demais para ripostar).

 

É de grande utilidade, para esses genocidas e seus apologistas, que haja vários Mehdi Hasans por perto, culpando  as vítimas pelas montanhas de cadáveres sírios resultantes da voraz política externa dos EUA, em vez de culpar os executores, onde está de facto a culpa.

 

Stephen Gowans, 23 de Abril de 2018

 

traduzido para o português por Luís Garcia

versão original em inglês: Meet Syria’s real mass murderers

 

 

 

 
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