Dijsselbloem gasta o dinheiro em drogas psicadélicas, por Luís Garcia
23.03.17 | Luís Garcia
“tudo em copos e mulheres” (Jeroen Dijsselbloem)
Não poderia deixar de discordar da visão populista, sensacionalista, hiper-simplista, mal-intencionada e desonesta deste aldrabão do Jeroen Dijsselbloem, pois por muita corrupção e roubo que haja em Portugal, não é daí que vem o descontrolo no pagamento da dívida portuguesa.
A origem está na bolha que rebentou com os preços das casas nos EUA e que mandou os criminosos "derivados" para o galheto. Na ressaca, todos queriam liquidez e ninguém encontrava cash, líquido, money money. Como boa parte dos "derivados" norte-americanos, sobretudo os mais "tóxicos", estavam nas mãos de europeus, depressa a crise passou para este lado do atlântico, com a banca europeia procurando também liquidez e, consequentemente evitando perder mais liquidez através do empréstimo a estados periféricos como Portugal.
Porquê? Simples, porque com uma crise financeira a decorrer, tendo como consequência a falta de liquidez (dinheiro disponível), torna-se demasiado arriscado emprestar dinheiro a países com menos capacidade produtiva, logo, com menos capacidade de criação de riqueza adicional que possa cobrir empréstimos e juros sobre esses empréstimos.
Com esta reacção negativa de emprestadores, Portugal entrou num ciclo-vicioso negativo que NÃO foi criado em Portugal. Eu explico-me. Ao não haver quem tenha muita vontade de emprestar dinheiro, empréstimos passam a custar mais para o estado português quando são pedidos, assim como a todos os portugueses, o que é negativo para os sectores económicos criadores de riqueza. Se assim é, se a falta de liquidez afasta os criadores de riqueza portugueses de possíveis empréstimos desejados e necessários, passamos naturalmente a ter uma epidemia de falências e desemprego, e com desemprego passamos a ter uma baixa no nível de consumo.
Com as falências e a baixa de consumo o estado português perdeu boa parte das suas fontes de riqueza (através de impostos), ao mesmo tempo que viu aumentar os seus gastos (pagamento de subsídios de desemprego e reformas antecipadas). Se juntarmos a tudo isto o facto de que agora menos vontade há na banca para emprestar a Portugal, o que torna os juros sobre empréstimos mais altos, o que leva a mais uma despesa extra do estado português (valor extra nos juros dos empréstimos), perde-se de vez o controlo sobre o ciclo negativo.
Agora outro ponto. Porquê filhos da puta como esse afirmam que andámos a gastar em gajas e vinho quando na altura, 2007, a dívida pública portuguesa em % do PIB era igual à da Alemanha, sim Alemanha? Então, também apanham a puta e vão às putas os alemães? Claro que sim, putas lá não faltam, assim como no país vizinho, a Holanda, começando pela mães holandesas de gajos como este!
Se a dívida alemã em percentagem do PIB era igual à nossa, por que razão a nossa dívida é lixo e a alemã vale ouro? Simples, porque a Alemanha produz produtos de valor muito acrescentado para o planeta inteiro, é um país fortemente exportador. Um EURO fortemente valorizado não perturba essas exportações, graças à qualidade e falta de concorrência contra esses produtos. Pelo contrário, significa riqueza extra para os alemães.
Em Portugal passa-se o contrário, ide analisar estatísticas da produção industrial de têxteis e calçados que sustentavam a nossa economia e permitiam que Portugal criasse riqueza, nem que fosse riqueza para pagar empréstimos. Pelo menos criava! Com o EURO fortemente valorizado Portugal perdeu a capacidade de produzir riqueza, o que é um problema quando há dívidas para pagar. Problema que se multiplica quando a falta de criação de riqueza leva à necessidade de pedir novos empréstimos, agora a juros mais altos.
Aí está o ciclo vicioso negativo que Portugal recebeu e que foi criado lá longe, no comportamento criminoso de gente que vende coisas que não existem e que especulam sobre elas (mercados colaterais norte-americanos cheios de absurdos "derivados").
Na Alemanha passou-se o inverso. Com a desconfiança em emprestar dinheiro a países a caminho de default como Portugal ou Grécia, a banca causadora de toda esta merda, a arriscar emprestar dinheiro a estados (compra de dívida soberana) arriscaria onde houvesse pouco ou nenhum risco: Alemanha! Daí que os juros de empréstimos para a Alemanha tenham baixado após a crise financeira enquanto que para Portugal tenham disparado.
Quer a Alemanha quer Portugal, que antes desta crise tinham dívidas em % de PIB semelhantes, eram países que conseguiam pagar com regularidade os seus empréstimos, apesar de tudo!
Parte do nosso problema começou com o começo da crise financeira (portanto privada, da banca e companhia). Como já disse acima, o estado perdeu várias fontes de riqueza e ganhou várias fontes de despesa.
A outra parte veio antes, quando se implementou o EURO em 2001, esse tremendo disparate! Quando se criou a moeda única, uniformizaram-se as taxas de juros sobre empréstimos de todos os estados da UE, o que não faz sentido nenhum. Criou-se uma falsa, uma absurdamente falsa sensação de segurança no empréstimo a estados periféricos, o que levou a um aumento enorme de empréstimos a países que "antes ninguém dava um tostão", o que era saudável. Se Portugal antes quisesse pedir dinheiro emprestado, teria de provar capacidade de produção de riqueza. Agora não, agora bastava constar da lista de nomes da zona Euro, isto numa altura em que, precisamente por fazermos parte do Euro, iríamos perder capacidade de produção de riqueza devido à forte valorização desse EURO que iria sabotar a nossa capacidade de exportação (logo de produção de riqueza necessária para pagar dívidas).
Ainda assim, perante o óbvio precipício (crédito fácil a países à beira de perder a capacidade de produzir riqueza capaz de pagar posteriormente esses créditos), o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia seguiram uma política de publicitar e incentivar o passo em frente nesse precipício, convidando a banca a emprestar, e quase obrigando os estados a pedir empréstimos, através de chantagens políticas e draconianas novas regras de modernização e de segurança.
A juntar a isto vem a parte da politiquice que toda a gente conhece bem: político que mostre obra feita é bom político, mesmo que também gaste em gajas e vinhaços. E foi o que tivemos, uma gigantesca modernização das infra-estruturas portuguesas que, embora tenham deixado Portugal muito bonitinho para inglês ver, bem mais bonito e moderno que boas partes de Inglaterra ou França, foi feita graças a empréstimos artificialmente fáceis que não se pagam com "beleza paisagística" mas sim com produção industrial ou agrícola. Sim, é verdade que essa modernização criou muitos postos de trabalho que por sua vez fizeram aumentar o consumo. Sim, mas esses trabalhos de construção e modernização pagos com empréstimos não criaram riqueza, enquanto que o consumo português em crescendo era realizado cada vez mais sobre produtos importados de economias que, precisamente por não terem EURO, tinham produtos mais competitivos que os nossos. E assim nos íamos endividando, orgulhosos de viver num país com mais auto-estradas e Parques das Nações e Casas da Música, tranquilos por fazermo-lo numa altura de calmaria. Culpa de quem? Do tuga que vota nos PS(D) e que se deixa levar por obras por eles feitas de arregalar o olho!
No dia em que a calmaria acabou, e aqui não foi por culpa de portugueses nenhuns, governantes ou governados, de repente a nossa dívida duplicou e passou a ser impagável. Resultado: regredimos uns séculos e passámos a ser de facto escravos que irão pagar para o resto das suas vidas o claustrofóbico dízimo na forma de juros de empréstimos impagáveis à banca, à mesma banca que começou a crise por andar a brincar ao deus criador de riqueza a partir do nada...
Perante tudo isto, temos muita malta, sobretudo a ovelhada PS(D)iana que, toda contente, afirma, batendo com a mão no peito, que "há que honrar a dívida"...
Ahhh, triste Portugal... como se paga caro a ignorância meu triste Portugal....