Detectores de notícias falsas e outras falsidades - parte 1, por Luís Garcia
Detector de notícias falsas da SIC-Visão
Comecemos por ler o próprio método de detecção de notícias falsas proposto por Rui Antunes, jornalista da Visão. E não, não se percam já em escárnios e risadas, sei que é difícil resistir mas seria interessante analisar esta jigajoga-parvorwelliana com seriedade:
Guia básico para identificar notícias falsas, por Rui Antunes, Visão, 05.01.2017
1 - Confirmar endereço URL como fonte fidedigna
2- Verificar se o tema em causa está a ser abordado por algum media de referência
3 - Identificar e validar as fontes de informação no artigo
4 - Ler mais do que um artigo sobre o tema que despertou o seu interesse
5 - Um bom exercício pode ser perguntar-se: qual a probabilidade do que acabei de ler ser verdade?
6 - Procurar a secção Sobre (ou About) e pesquisar no Google para confirmar se alguma fonte credível já escreveu sobre essas pessoas
7 - Observar as fotografias para detetar manipulações descaradas
Também vou por pontos numerados:
1 - Não entendo a relação entre "URL" e "fonte fidedigna", mas suponho que o senhor quereria simplesmente dizer que "se deve verificar se a fonte da notícia é fidedigna ou não". E como se faz tal coisa? Eu não sei! Pelo reputação da fonte? Pela longevidade do meio de informação em questão que o levou a ter renome? Então e se, no sentido contrário, o tal URL não for conhecido pelo leitor e que este nunca tenha ouvido falar do nome do tal rádio/jornal/TV em questão, toda e qualquer notícia produzida por este novo meio de comunicação cai de forma automática na categoria de notícia falsa? Qual quê, este senhor começa logo mal, com o clássico argumento falacioso do apelo à autoridade. Caindo num erro de retórica detectado à milénios, o senhor Rui Antunes quer-nos fazer crer que o estatuto de algo ou de alguém garante que este produz conteúdo verídico, quando não, não necessariamente. Com frequência os media de renome portugueses como RTP, SIC, DN, JN, Público, etc., mentem e afirmam enormidades sem apresentar provas que apoiem aquilo que afirmam. Com frequência aparecem novos media digitais que, apesar de desconhecidos, produzem conteúdo cuja qualidade e veracidade é atestada pelas provas recolhidas e apresentadas junto às suas notícias. Portanto não, "fonte fidedigna" não é argumento válido. Essa fonte "fidedigna" pode se lembrar de mentir de um momento para o outro ou apresentar conteúdo não acompanhado de provas.
E não me venham dizer, para defender o jornalista em questão, que essas "fontes" são "fidedignas" porque existe imensa gente (manadas de parvovelhas) que seguem esse suposto jornal. Não. É que vão directo a outro argumento falacioso, o do apelo à popularidade. Dizer que o Público é fidedigno porque dezenas de milhares de pessoas o lêem é como dizer que o sol gira em torno da terra porque outras tantas (ou bem mais) assim crêem.
2 - "Algum media de referência"!?! Ora Rui Antunes, mais do mesmo!?! De novo o argumento falacioso de apelo à autoridade!?! E para quê "mais algum" ou muitos mais? Para insistir no argumento falacioso de apelo à popularidade? Se toda a gente traduzir e republicar uma flagrante mentira da Reuters, essa mentira passa a ser verdade a partir de quantas republicações de quantos media de "referência"? E se eu, insignificante anónimo, publicar uma notícia e estiver na posse de documentação válida (ou de veracidade confirmável), estarei a produzir uma notícia falsa apenas por ser o único a fazê-lo e não ser de todo um media de referência? Só tiros nos pés caro Rui Antunes!
3 - Identificar as fontes de informação: notícia A, escrita pelo jornalista B do jornal C. Sim, e depois? Validar? Ok, depois há que validar, mas como? Não podia ser mais claro? Não, não podia, daí que o leitor deste detector de falsas notícias tenha de adivinhar se a validação de uma notícia é efectuada pela reputação do jornal (como afirmou antes) ou pela apresentação de provas (como prefiro eu).
4 - Mééééé, sugestão do argumento falacioso de apelo à popularidade. Que o leitor, depois de ter lido algo que lhe tenha despertado o interesse, se decida por ler mais sobre o mesmo tema, tudo bem, naturalíssimo, quem não o faz! Agora sugerir que a leitura de mais artigos sobre um determinado tema possa contribuir para provar a veracidade de um artigo já lido... epá, santa paciência! Então, querem ver que o tema de uma determinada notícia lida, por ser muito popular no momento, torna a notícia em verdadeira, por mais falsa que seja, por mais que não seja corroborada por prova nenhuma? Ora essa! Este ponto faz-me mesmo pensar no circo que foi a apresentação de coisa nenhuma como prova da interferência russa nas eleições dos EUA. Bastou a popularidade, a viralidade em torno desse circo: Comprovado sem provas.
Ou, por exemplo, todos os media do planeta, de Portugal à China, do Belize ao Vanuatu, republicaram a notícia sobre uma pobre criança síria vítima de um bombardeamento russo sentada numa cadeira cor-de-laranja. Se interessado, após a leitura da primeira notícia sobre este tema, o leitor poderia continuar o resto da vida lendo mais notícias sobre o mesmo tema! E depois? Será que popularidade é sinónimo de veracidade? Depois descobriu-se que não houve bombardeamento russo, que a criança não estava ferida e que tudo tinha sido encenado, que o autor da famosa fotografia é membro dos White Helmets / al-Qaeda, e que a criança é filha de um membro da al-Qaeda! Portanto argumento não válido, mais uma vez, popularidade não é sinónimo de veracidade!
5 - Sim, qual é a probabilidade de um dia um asteróide de 1km de diâmetro entrar em rota de colisão com a terra? Quase nulo? Ahhh, então no dia em que tal acontecer, quem o noticiar estará a mentir, de acordo com o nosso caro Rui Antunes, por mais que haja provas corroborando a notícia. Se eu ligar a TV um dia e ouvir que o meu vizinho ganhou o Euromilhões, será certamente uma notícia falsa. Se uma semana depois o vir passar de Lamborghini, será alucinação minha.
6 - A sério, que obsessão por fontes credíveis, fidedignas ou de referência! Irra! E sim, é de novo ao argumento falacioso de apelo à autoridade que se refere. E o argumento trapalhoso de tentar saber se alguém escreveu, não sobre o mesmo tema da notícia em questão, mas sim sobre as pessoas que escreveram a notícia! Como disse que disse? Que uma notícia minha só será verdadeira se alguém, anteriormente, já tiver escrito algo sobre mim!?! Epá, que ganda moca. E mais, pesquisar no google, para quê? E se o google censurar a informação procurada, como comprovadamente já o faz sobre malta do contra, que aprenderá uma pessoa pesquisando no google sobre um determinado jornalista alternativo independente não-beija-cus? Provavelmente só encontrará acusações de conspiracionismo e doença mental do tal jornalista independente. Grande avanço!
A sério, fontes credíveis, para quê? Façamos um exercício, com exemplos. Lembram-se quando, no início de Dezembro de 2016, os media de referência portugueses e internacionais repetiam até à exaustão, e apesar da inexistência de bombardeamentos aéreos sírio-russos desde o dia 17 de Outubro de 2016 (dado comprovável), que "os bombardeamentos aéreos sírio-russos" provocavam uma "catástrofe humanitária em Aleppo", um "mega-cemitério a céu aberto"? Lembram-se de expressões como "chacinam", "exterminam", provocam "um genocídio de dezenas de milhares de civis"? Lembram-se de acusações como: o exército sírio "executa", a sangue frio, "mulheres e crianças"? Nada desta acusações foram jamais comprovadas, e nem é preciso, pois para Rui Antunes, dizer que as fontes são credíveis, fidedignas ou de referência chega e sobra! E não, não me venham dizer que se comprovou o que quer que seja com as imagens que passaram nas televisões ocidentais de corpos claramente abatidos a tiro e não bombardeados, corpos não se sabe de quem nem onde nem mortos por quem (ler artigo Desespero mediático 13 - RTP realiza terrorismo-jornalístico)
Bom, agora vejamos o que disse um site desconhecido (este) de um gajo desconhecido (eu) sobre o mesmo tema, a conquista de Aleppo de Dezembro de 2016. De relembrar que eu e o meu blog não somos fontes nem credíveis, nem fidedignas nem de referência, hehe! Escrevi vários artigos sobre o tema, mas destaco um, o Shadi Halwi em Aleppo Leste libertada, por Luís Garcia, simples, que se baseia num vídeo filmado em Aleppo, na investigação e no poder da lógica. No vídeo que encontrei e que me suscitou imensa curiosidade, vê-se um homem atravessando de carro uma estrada em Aleppo no sentido contrário ao de milhares de sírios que saem da zona leste recentemente libertada pelo exército sírio. Eu perguntei-me, "quem será esta pessoa recebida com sorrisos, beijos e abraços", literalmente, pelos civis fugindo da zona até então controlada por rebeldes. Após alguma investigação consegui descobrir que se tratava de Shadi Halwi, um famoso jornalista sírio que trabalha para a televisão do estado sírio e que conhece pessoalmente Bashar al-Assad. Perante todos estes dados (comprováveis de forma fácil se o leitor se der ao trabalho), como acreditar nas notícias dos jornais de referências sobre "mega-cemitério a céu aberto" em Aleppo leste, por ordens do "regime" de al-Assad, quando os milhares de civis que saem de Aleppo leste festejam de forma efusiva a aparição de uma famosa cara televisiva do "regime" de al-Assad? Tudo isto para dizer que, tal como já tentei defender de forma extensa no artigo Síria, acreditar em quem? (parte 1), em vez de receitas da treta como esta do Rui Antunes baseada em argumentos falaciosos como o do apelo à autoridade ou o do apelo à popularidade, prefiro a receita:
- Exigir dados, factos, assim como as suas fontes e a identidade das fontes.
- Raciocinar com lógica
- Comparar o evento actual com eventos históricos similares.
7 - Só as fotografias? E os vídeos? E as afirmações infinitamente absurdas que se lêem e ouvem nos media de referência? Pois sim caro Rui Antunes, com esta até concordo, apesar de limitada. Há que observar e analisar tudo, não apenas as fotografias! E quanto às fotografias, não nos devemos ficar pela procura de manipulações descaradas, há que seguir o rasto também às manipulações menos descaradas. E, de qualquer modo, o mal nem sequer está nas fotos manipuladas, mas sim nas descaradas notícias falsas (dos nossos media de referência) baseadas em fotografias não manipuladas/editadas.
Por exemplo, a pedido da máquina de propaganda norte-americana, os media de estados vassalos (como Portugal) começaram a repetir a descarada mentira de que a Rússia havia "bombardeado um comboio humanitário da ONU". Nem vale a pena falar dos vídeos e fotos imediatamente disponibilizados pelas Forças Armadas da Rússia que demonstraram claramente que aqueles camiões arderam em consequência de fogo posto pelas mãos de "rebeldes" terroristas. São provas irrefutáveis que nunca passaram na SIC deste Rui Antunes nem em qualquer outro media português. Mas a questão é outra, a utilização pelos media portugueses de fotografias, nem sequer editadas, para mentir de forma escandalosa:
- Washington acusa aviação russa de bombardear comboio humanitário (RTP)
- Nações Unidas suspendem envio de ajuda humanitária após ataque contra camiões na Síria (RTP)
A sério, abram esses dois links acima de notícias falsas e vejam como os jornalistas da RTP ousam afirmar que "terão sido afinal dois aviões de guerra russos Sukhoi SU-24 a bombardear os camiões", repetindo sem provas aquilo que os mestres do Império lhes mandaram dizer e, gravíssimo, em total contradição com as imagens partilhadas no próprio artigo da RTP! A sério vejam as fotografias e digam-me se o que vêem são camiões ardidos ou camiões bombardeados:
SLIDESHOW 1
Agora façam um pesquisa num motor de busca por "crater + airstrike" e comparem com as fotografias dos camiões ardidos mas com a estrutura intacta! Estão a ver, deixai em paz as fotos manipuladas, as não manipuladas são provas ainda mais flagrantes das mentiras que nos contam os media "credíveis", os media "fidedignos" ou os media "de referência" como a RTP , a SIC ou a Globo!
Querem mais? Vejam esta colecção de fotografias não editadas mas sim reutilizadas (pelos media de referência) fora de contexto, com datas ou localizações erradas, etc., de forma a corroborar a mentira de "Assad Sanguinário" que o Império lhes encomendou:
SLIDESHOW 2
Mas bom, e para resumir o que aprendi com o detector de notícias falsas do Rui Antunes, tudo o que for dito ou escrito por medias reputados na forma de "notícia" é para ser considerado verdade, independentemente de ter ou não provas que a corroborem, independentemente de ser mentira ou não, independentemente de ser ou não propaganda descarada, e apesar de haver inclusive provas que desmintam essa tal notícia. E assim, por exemplo, as imagens do slideshow acima são todas verdadeiras, em todas as suas alucinantes versões, pois passaram em medias de referência.
Pelo contrário, tudo o que digo aqui, de acordo com o detectores de notícias falsas da Visão, é mentira, teoria da conspiração e propaganda deliberada pois o Pensamentos Nómadas fica fora de todas as categorias exigidas. Mesmo que vos partilhe aqui slideshows como o de acima, mesmo que vos convide a reflectir sobre a incompatibilidade entre o que dizem os textos da RTP e as fotografias que vêm juntas! É esta a perversa lógica da nova caça às bruxas, da caça às "notícias falsas" por parte dos maiores e eternos produtores de notícias falsas... de referência!
Por isso, quando sem provas nenhumas, o próprio Rui Antunes afirma nesta "notícia" aqui, a propósito das denúncias de abuso sexual de Trump a várias mulheres, que "O feitiço está a virar-se contra o feiticeiro", e como o senhor Rui Antunes trabalha para a SIC, e como o verbo estar encontra-se no presente, então, o leitor deve concluir que o feitiço foram os abusos efectivamente cometidos e que agora o abusador está a pagar pelo que fez. Bravo!
Luís Garcia, 07.02.2017, Chengdu, China