Desespero mediático 2 - Turquia
Desespero e mais desespero. Da mesma forma que repetem, até à náusea, acusações contra Al-Assad de barbárie que simplesmente não existiu ou que, quando existiu, foi realizada quer por trogloditas mercenários treinados pelos ocidentais quer pelas próprias forças armadas europeias e norte-americanas, quando de facto um regime aliado (o turco de Erdogan) comete limpeza étnica dentro das fronteiras do seu país, ninguém nos media portugueses parece estar a par dos acontecimentos ou pelo menos não se mostra com vontade de falar sobre tal. E é aí que me dão razão quando digo que as mentiras sobre Al Assad são mesmo mentiras e que os jornalistas portugueses não são jornalistas, antes empregados precários beija-cus dos cus dos seus patrões, cujas bocas beijam por sua vez os cus de malta que manda mais do que devia neste planeta! Por que digo tal? Ora, porque se as estórias anti-Assad que nos contaram nas TV's, rádios e jornais nos últimos 5 anos fossem verdade, então os pseudo-jornalistas portugueses afinal seriam mesmos jornalistas e eu não vejo então por que razão esses mesmos verdadeiros jornalistas ignorariam crimes da mesmíssima índole ocorrendo agora, ali mesmo ao lado da Síria, na Turquia!
Ou ocorrendo no Iémene no sentido inverso ao da Síria e completamente ignorado. No Iémene tivemos uma revolta popular bem sucedida contra o ditador patrocinado pelos EUA, que teve como consequência o país ser invadido pela Arábia Saudita e amigos, e bombardeado por drones norte-americanos, morrendo dezenas de milhares de civis como castigo por se terem libertado do regime que os oprimia. Mas para os nossos media vendidos há os civis mais ou menos bons, aqueles mortos pelo nosso terrorismo na Síria (mas oficialmente mortos pelo regime do "carniceiro" Assad) no processo da farsa de "libertar" a Síria de opressão, e há os civis maus, esses filhos da puta de iemenitas que não sabem estar quietos e submissos ao ditador que escolhemos para eles e que se deram ao luxo de fazer uma revolta bem sucedida de verdade! Para medir o cúmulo da hipocrisia não só dos media ocidentais mas também dos seus políticos com cheiro a vaselina, veja-se o que disse Manuel Valls (1º ministro francês) a propósito da venda de armas à Arábia Saudita que bombardeia o Iémene: Será indecente lutar pela nossa economia, pelos nossos empregos?, como quem argumenta que vender armas para matar civis inocentes é uma necessidade económica do maquiavélico ocidente? Ahhhh, mas disse tudo esse pobre bandido! Outra: o imbecil beija-cus do François Hollande (presidente francês), condecorando o príncipe herdeiro (ler dono) da Arábia Saudita com não sei quê de medalhas da legião da (des)honra, no rescaldo da decapitação de mais de 40 prisioneiros políticos na Arábia Saudita?
Mas vamos ao desespero desesperante do momento: ISIS-Turquia de Erdogan e respectivos factos quase totalmente ignorados pelos nossos media, de propósito!
- Durante anos refugiados sírios na Turquia foram tratados abaixo de merda enquanto que uma boa parte dos homens era obrigada a juntar-se aos grupos terroristas anti-Síria treinados em bases militares turcas como as de Karaman, Osmaniye e Sanliurfa, e enquanto uma boa parte das mulheres e meninas sírias eram vendidas como mercadoria a bárbaros dos estados árabes nossos aliados.
- A crise de refugiados, do ano passado, a caminho da Europa só começou quando a Turquia deixou de os armazenar em campos de concentração e despachou-os a pontapé para as bordas do mar Egeu e da fronteira com a Grécia e a Bulgária. O próprio Erdogan afirmou há semanas, qual mafioso extorquindo suas vítimas, que se a Europa não lhes der mais dinheiro, mais refugiados serão empurrados para a fronteira Turquia-UE! Não ouviu falar desta afirmação tresloucada nos seus media predilectos? Não, não foi por acaso que não ouviu nada!
- Assim que a Turquia foi aceite dentro da Coligação Ocidental anti-ISIS (parece uma piada mas não é), a primeira decisão militar que tomou foi bombardear cidades turcas habitadas por curdos, sobretudo aquelas (basta fazer um cruzamento de dados para se aperceber de tal) nas quais o partido curdo tinha ganho mais votos nas últimas eleições legais que deixou o país num impasse. Houve uma outra eleição depois, na qual esses mesmos curdos foram impedidos de participar e da qual saiu vencedor (da enorme farsa eleitoral) o inevitável Erdogan!
- Com o golpe de estado concretizado e a população curda sendo massacrada dentro da Turquia, o exército turco lembrou-se de invadir o norte do Iraque com equipamento pesado e 1500 homens, por muito que o governo de Bagdad tenha insistido que tal se tratava (obviamente) de um acto de agressão turco. Algum jornalista fez esta reflexão nos media nacionais? Dúvido!
- Como há sempre alguém (turco no caso) que não gosta de ser cúmplice em crimes contra a humanidade perpetrados pelo exército e governo do seu país, os jornalistas do Çumhurriyet que filmaram a confiscação de armamento turco que se destinava ao ISIS na Síria, foram presos e são acusados de terrorismo e sabotagem contra o estado turco. Os fiscais turcos que realizaram e bem o seu trabalho nesse dia, também receberam as mesmas acusações. Ainda há pouco foi o jornal turco Zaman que se viu violado, ou seja, obrigado a trocar o seu presidente (do contra) por um amigo de Erdogan, acabando-se de vez com a linha editorial de oposição à barbárie do regime turco. Há apenas 2 dias, e apesar da proibição de noticiar verdades no novo Zaman, um jornalista do jornal Zaman foi preso por tentar dizer verdades inconvenientes na martirizada cidade curda de Gaziantep.
- Neste momento a Turquia conta com centenas de milhares de refugiados internos e milhares de mortos e desaparecidos, sobretudo devido aos cercos a cidades e regiões curdas inteiras às quais as autoridades turcas cortam o acesso a água, electricidade e comida durante semanas, e devido à guerra aberta contra as populações civis curdas e a sua organização de resistência (PKK) que NÃO começou coisa nenhuma! Ainda em 2014 viajei pela região e falei com muitos curdos do PKK e ninguém parecia saber que viria aí um conflito dentro na Turquia, nem tampouco ninguém parecia interessado em fome, guerra ou nomadismo forçado a caminho da Europa. Se agora se levantam e resistem, tal como já afirmei acima, é porque o regime turco lhes declarou guerra no fim de 2015 quando era suposto declarar guerra ao ISIS!
- Para não me estender muito sobre o terrorismo de estado turco (que seriam aos milhares de exemplos) sobre a sua população curda (e não só), indico-vos apenas 2 exemplos recentes: a destruição massiva de Nusaybin, uma cidade no sul do país, junto à fronteira com a Síria (veja vídeo 1 e vídeo 2). E apenas um exemplo mais, o acto de barbárie turca que descobri ontem e que me levou a escrever estes 2 artigos de "Desespero mediático: a destruição pelo exército turco da zona histórica de Sur, em Diyarbakir, onde se encontra(va) a multi-centenar igreja arménia católica de Surp Sarkis, património da UNESCO. A destruição é enorme e inexplicável, assim como inexplicável é o facto do governo turco prontamente ter confiscado (nacionalizado) 90% dos terrenos (e destroços) localizados dentro do perímetro classificado de histórico! Ah, viva a limpeza da história pré-Otomana!
- Agora comparem com Palmira! Aí, os exércitos nossos inimigos do "carniceiro" Assad e do "imperialista" Putin perderam vidas humanas para salvar ruínas património da humanidade. Em Diyarbakir o exército do nosso "aliado" Erdogan bombardeia um igreja arménia património da humanidade que nem sequer estava em ruínas! Comparações nos media? Qual quê? Os tugas que vêem TV nem fazem puta ideia de que igreja destruída estou para aqui a falar! Enfim, pelos vistos, para Erdogan, limpeza étnica como processo de criação de um estado túrquico etnicamente puro não chega, há que apagar também a história pré-Otomana da região. Depois digam-me que Hitler era mau e que Erdogan não! Diferenças, quem as consegue apontar?
E que conclusões tirar de todo este desespero? Que, apesar de indesmentível e difícil já de esconder, quer os nossos media quer os nossos governos tentam fingir que tudo o que aqui escrevi não faz parte do reino da realidade. Pelo contrário! Os governos da União Europeia aceitaram a chantagem mafiosa turca e entregaram 6 mil milhões de euros a Erdogan para que este receba de volta milhares de refugiados sírios estacionados na Europa, violando de forma escandalosa leis e convenções internacionais, enquanto Davutoglu (primeiro-ministro turco) e Erdogan vão avisando que a parada de extorsão poderá subir até 20 mil milhões de euros dos impostos dos cidadãos europeus.
União Europeia e o terrorismo de estado turco
Quanto aos jornalistas europeus (e portugueses), esquecem-se de informar um monte de cenas chatérrimas, e não ousam uma única conclusão no reino do real. Ouso eu, com toda a humildade de quem aceita poder estar 100% equivocado: ao pagarmos extorsões (nós europeus) à máfia do regime turco em troca destes receberem de volta a nossa parcela de refugiados estamos:
- a alimentar economicamente um estado que bombardeia as suas minorias, que compra petróleo ao ISIS, que vende armas ao ISIS e que neste momento ocupa territórios dos estados soberanos do Iraque e da Síria, que é como quem diz, pagamos para que se produza mais refugiados que irão acabar na Europa.
- ao fecharmos os olhos aos crimes perpetrados pelo regime turco contra as suas minorias neste macabro compromisso, vemo-nos na absurda situação de assistir à produção de mais 25 milhões de potenciais refugiados que quererão, aposto eu, fugir para a União Europeia.
- como se tudo isto não bastasse, agora que a Turquia é declaradamente um estado terrorista, exportador de terror e maior produtor mundial de refugiados dentro e fora das suas fronteiras, imagine-se, agora mesmo e não há 10 anos quando a Turquia era um país calmo e lhe foi recusada inúmeras vezes acordos de livre circulação com a UE, agora mesmo, insisto, a UE ofereceu à Turquia a livre circulação de cidadãos turcos na UE! Hehehehe, que ganda moca, não? Ora, em troca de receber de volta uns milhares de refugiados, damos-lhe milhares de milhões de euros a pronto pagamento e receberemos daqui a pouco 25 milhões de refugiados! Bela negociata a destes políticos europeus europicidas da piça! Bravo, de tirar o chapéu! Ahahahahah! E Erdogan todo contente, pois enquanto destrói as cidades e a história curda e arménia da Turquia, e mata milhares de membros dessas minorias, vai ultimando com os seus parceiros europeus a abertura da porta por onde 25 milhões de curdos e arménios perseguidos passarão sem problemas burocráticos graças aos seus passaportes turcos, e com o argumento (válido) de fugirem do genocídio! Bravo Europa bravo!
Mas claro, voltando à realidade mediática (e acabei de dar uma olhada na RTP online), metade das notícias da secção mundo dos media tugas são... ainda!... sobre os atentados em Bruxelas!
Por tudo isto e pelo muito mais que ficou por dizer, desesperadamente afirmo que, no dia em que media nacionais forem alvos de atentados terroristas perpetrados directa ou indirectamente pelas organizações que estes mesmos media idolatram, eu por certo não lamentarei as mortes dos seus prostituídos jornalistas e, quiçá, até baterei palmas, tal como fez a psicopata Clinton em reacção ao assassínio em directo de Gaddafi!
Luís Garcia, 28.03.2016, Lampang, Tailândia
Clique aqui para ler Desespero mediático 1
Fontes:
- Jihadists train in Turkey to attack West
- Turkish president threatens to send millions of Syrian refugees to EU
- François Hollande a remis (très discrètement) la Légion d'honneur au prince héritier saoudien
- Valls sur l'Arabie Saoudite: "Est-il indécent de se battre pour notre économie, nos emplois?"
- Cumhuriyet publishes video for weaponry in lorries affiliated to Turkish intelligence
- Turkish authorities arrest Zaman Al Wasl reporter in Gaziantep
- Turkey Seizes Newspaper, Zaman, as Press Crackdown Continues
- Breaking: Images Show Extent of Damage to Diyarbakir’s Armenian Catholic Church
- Breaking: Images Show Extent of Damage to Diyarbakir’s Armenian Catholic Church
- Clinton on Qaddafi: "We came, we saw, he died" - CBS News
- Farage - Turkey and ISIS are Blackmailing the EU