De Podgorica a Cetinje, por Luís Garcia
DOS BALCÃS AO CÁUCASO – EPISÓDIO 1
Estou bem, aonde não estou, porque eu só quero ir, aonde eu não vou, porque eu só estou bem, aonde não estou, porque eu só quero ir, aonde eu não vou, porque eu só estou bem... aonde não estou. (Estou Além, António Variações)
05.06.2014, Montenegro - Numa mistura de palavras de alemão, francês, inglês e russo, conseguimos nos entender com a primeira boleia da viagem do aeroporto até Podgorica. O senhor ia`para a missa, mas teve a gentileza de nos largar num local estratégico, mesmo em frente à estrada em linha recta que apontava para o centro da cidade. No centro começámos por comprar um mapa dos Balcãs. Depois de dizermos que vínhamos de Portugal, a empregada da livraria desfez-se em sorrisos e ajudou-nos imenso, contente pela raridade de encontrar alguém de um pequeno país. Era natural de Nikšić, cidade que nos garantiu ser das mais lindas do país, terra que em princípio estaria incluída na nossa rota rumo ao norte de Montenegro.
Depois de andarmos aleatoriamente às voltas por Podgorica, fomos à procura da saída da cidade em direcção ao próximo destino, Cetinje, ex-capital do antigo reino do Montenegro. Íamos desfalecendo de calor, sono e cansaço no percurso, mas fomos recompensados por uma curta espera de 10 minutos até um carro parar. De Cetinje queríamos ir para Budva e por isso recomeçámos a boleia. Não correu nada bem. Durante quase 3 horas vimos carros parar e partir com outras pessoas que faziam boleia ao nosso lado. Muitos partiam, mas mais, muitos mais se juntavam na fila da boleia! E o pior, os carros nem sempre pegavam na pessoa em primeiro lugar da fila de espera para a boleia, por vezes pegavam o último da fila (último a chegar), ou do meio, ou então alguém chegava fazendo batota, metendo-se no início da fila (e partia 5 minutos depois)! Ah, decidimos desistir e ir montar a tenda o mais breve possível num dos três parques da cidade de Cetinje! Estávamos exaustos! Mas não, não acabou assim o dia.
Encantados pela beleza pitoresca da cidade, atrevemo-nos a vaguear pelas suas acolhedoras ruas, acabando por passar por acaso em frente de um restaurante com esplanada da qual um jovem enorme e musculado nos sorria candidamente. Respondi com um “olá” e a conversa começou, inevitavelmente, entre mim, Claire, o “armário sorridente” chamado Ivan e os seus 2 amigos. Ivan era o dono do café, que tinha internet, de modos que aproveitámos para ver uns googlemaps, carregar baterias de máquinas e beber um café turco (que ao final foi oferta da casa). Entre conversas de viagem, países e música (Ivan e os seus amigos têm uma banda chamada Double Needle Project), o tempo foi passando e eram quase 7 da tarde quando vimos aparecer a grande velocidade uma enorme tempestade. Apreçámo-nos a chegar a um parque mas, a 50 metros deste, começou a chover bolas de granizo do tamanho de berlindes. Escondemo-nos debaixo de umas escadas de uma casa mas não adiantou muito, ficámos com a roupa e malas muitíssimo molhadas. Mudámos de planos e tentámos encontrar na estação um autocarro para Buvda, na costa montenegrina, de forma a fugir à tempestade. Depois de um dia a ver passar dezenas de autocarros enquanto pedíamos boleia, fomos esperar em vão por um autocarro, não havia mais, era demasiado tarde. Entretanto, neste compasso de espera, o céu ficara limpo sobre Cetinje e por isso refizemos uma vez mais o plano. Fomos dormir num parque lindo e acolhedor, embora com o chão gelado, no qual estréamos a nossa nova tenda...
Álbum de fotografias do DIA 1
Luís Garcia, 25.10.2016, Chengdu, China