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Pensamentos Nómadas

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De Istambul a Doğubeyazıt em 3 dias - II, por Luís Garcia

15.03.17 | Luís Garcia
 

 

DOS BALCÃS AO CÁUCASO – EPISÓDIO 17  

De Istambul a Doğubeyazıt em 3 dias - II

 

bw  Luís Garcia VIAGENS 

Estou bem, aonde não estou, porque eu só quero ir, aonde eu não vou, porque eu só estou bem, aonde não estou, porque eu só quero ir, aonde eu não vou, porque eu só estou bem... aonde não estou. (Estou Além, António Variações)

 

24.06.2014

De manhã começámos por um pequeno-almoço principesco, no jardim da casa de Mustafa Göztok (que nos acolhera na noite anterior), na companhia da sua mulher, da sua filha e duas amigas dela, um amigo seu e uma vizinha. Não tivemos mãos a medir para provar todas as maravilhosas iguarias que nos dispuseram, queijo e doces caseiros, legumes do jardim, pão caseiro, café, chá… ah, foi maravilhoso! E as conversas muito interessantes, pese embora a nossa urgência de partir pois ainda faltava-nos fazer quase todo o caminho de 1500 km e já íamos no segundo de viagem. Ainda assim, não partimos logo de seguida, fomos antes gentilmente “obrigados” a fazer um passeio guiado com Mustafa Göztok (presidente da junta de freguesia de Çaibükü) e companhia pela aldeia, com a obrigatória paragem para chás e cafés no bar da aldeia, durante o qual nos divertimos a disparatar e tirar fotos uns dos outros! Eram já 11 horas da manhã quando voltámos a casa de Mustafa para pegar nas malas, fazer a foto de grupo para mais tarde recordar e, finalmente, partir!

 

pequeno-almoço em Çaibükü 

A 1ª boleia do dia foi do próprio Mustafa que nos levou até Düzce, a tal cidade 10 km à frente onde jantámos no dia anterior com O Ditador num restaurante de estação de serviço. A boleia começou mesmo muito bem: quando vi um camião “engraçado” apontei para ele com o dedo e disse à Claire “É neste que vamos”! E fomos mesmo, segundos depois de começar a boleia já tínhamos encontrado transporte. O problema foi que o muito amável condutor tinha ainda umas entregas a fazer na zona antes de ir para Bolu (na nossa rota), facto que desconhecíamos e que fomos descobrindo pouco a pouco. Na primeira entrega esperámos tranquilos; na segunda tinha tantos frigoríficos para descarregar à mão que decidi ajudá-lo, até porque o pessoal da loja não estava muito animado para trabalhar. Pelo menos eram simpáticos, ofereceram nos água e convidaram-nos a visitar a loja à qual se destinavam os frigoríficos. Na terceira entrega, feita de um camião para o outro, dada a sonolência, má vontade para trabalhar e manifesta falta de inteligência do pessoal do outro camião, tomei conta das operações e organizei a transferência dos frigoríficos de forma a optimizar o espaço e despachar o trabalho! Afinal ainda havia uns 1300 km (teóricos) para fazer… Entre a 2ª e 3ª descargas bebemos uns chás, oferecidos pelo camionista. Acabadas todas as entregas almoçámos um super banquete, super em quantidade e qualidade, uma vez mais oferecido pelo camionista. Eram 13h quando por fim se pusemos a caminho de Bolu! Acredite quem estiver a ler que são estas as grandes memórias de viagem, ainda hoje consigo me lembrar em detalhe o aspecto da comida, e facilmente me vem à ideia o sorriso e a bondade infinitos do camionista que nos ofereceu esse banquete!

 

2ª descarga
2ª descarga

 

Em Bolu levámos 1 minuto para apanhar uma boleia de um azeri que nos avançou 10km. Aí apanhámos a 1ª grande boleia do dia, 290km até Kirikkale, a bordo de um camião transportando combustível!!! A viagem foi lentíssima, deu para editar fotos no portátil e até dormir na cama por detrás dos assentos. Além do mais o camião avariou uma vez, e também parámos (claro) para beber chá numa estação de serviço! Para nosso desespero era quase noite quando nos deixou num parque de camiões nos arredores de Kirikkale. Aí apanhámos logo de seguida uma outra boleia, mas não foi longe, apenas para Kirikkale, e ainda por cima fizeram o erro de nos deixar dentro da cidade (em frente a estação de autocarros). Corremos feitos loucos até uma entrada da estrada principal enquanto assistíamos desolados ao por-do-sol. De novo uma boleia instantânea, mas absurda: perguntei se ia para leste e o condutor disse que sim; poucos metros à frente apanhou a entrada para oeste. Pedi-lhe para parar o carro pois estávamos a ir no sentido errado. O condutor parou mas já longe do cruzamento onde eu poderia seguir para leste e pediu-me o mapa! Explicou-nos que ia para Istambul e queria ver no mapa qual a cidade que queríamos ir! Ah, mas Istambul fica a oeste de Kirikkale, não este, portanto não havia nada para mostrar, de modos que o mandei avançar e por-nos rapidamente na estrada onde estávamos a fazer boleia. O condutor calou-se e andou 2 quilómetros até a um local onde podia fazer inversão de marcha. Aleluia! Mas não, o raio do homem voltou a entrar em Kirikkale, em direcção à maldita estação de autocarros! Mandei para logo de seguida, na esperança de não ficar muito longe a pé da entrada da via rápida que nos interessava (e da qual acabáramos de sai estupidamente). Não fez caso, continuou a avançar. comecei a gritar e a ameaçar que lhe batia se não parasse. Por fim parou, já quase em cima da porcaria da estação de autocarros!!! Ahhhh, rrrrrr, que insistência com a estação de autocarros. Entretanto o céu ficara um pouco escuro, e nós estávamos exactamente no mesmo sítio onde a boleia anterior nos deixara! Mais uma corrida para a entrada da via rápida, desta vez já sem esperanças de apanhar boleia. Decidimos ficar à boleia mais uns 10 minutos, tempo de ficar noite escura.

 

10 minutos depois veio o mega-milagre do dia (ou melhor da noite)! Um camião com dois condutores parou. Iam fazer 650km durante a noite, sem parar, conduzindo por turnos, até à cidade de Trabzon, na costa norte (Mar Negro). Trabzon não estava bem na nossa rota centro-leste, mas era bem melhor avançar até Trabzon durante a noite e ficarmos a 575km (teóricos) de Doğubayazıt (destino final), que montarmos ali a tenda e no dia seguinte termos ainda 1075 km para fazer. E assim fomos, 4 pessoas num camião com 2 assentos e uma cama. Foi um grande filme para arranjar espaço e para dormir, mas lá nos entendemos, partilhando comida, trocando ideias num turco básico, entretendo-nos uns aos outros para ajudar a passar melhor a noite. Às 9h da manhã estávamos em Trabzon! Zombies, sonolentos… mas que  alegria de estar a menos de 600 km do destino planeado para os próximos tempos!

 

Álbuns de fotografia

Luís Garcia, 15.03.2017, Chengdu, China

 

Se quiser ler mais estórias desta viajem clique em:

Dos Balcãs ao Cáucaso

 

 

 
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