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Pensamentos Nómadas

Nomadic Thoughts - Pensées Nomades - Кочевые Мысли - الأفكار البدوية - 游牧理念

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Acreditar faz mal

15.02.16 | Luís Garcia
 

 

RICARDO MINI copy  SOCIEDADE Ciência RELIGIÃO

 

A crença, como eu a vejo, é o processo de esperar passivamente que algo aconteça com base no puro acaso ou na conjugação de fatores desconhecidos, uma vez que não se funda em quaisquer evidências ou indicadores.

 

É um processo verdadeiramente nocivo e destrutivo. Nocivo porque, promovendo a inação, o conformismo e a adaptação resignada às circunstâncias, facilmente prostra o crente numa situação arrastada de miserabilismo vital, até no caso de levar à afetação das necessidades biológicas básicas, como acontece com as pessoas pobres que se conformam com um paraíso lhes prometido pela religião. Destrutivo porque, no convencimento de que de algo incerto provirá invariavelmente o melhor desfecho de entre os considerados possíveis ou, não raras vezes, até um desfecho impossível. Tal como acontece com as pessoas a quem a restante humanidade condenou a uma vida miserável, pelo acidente que sofreram em nascer num determinado ponto geográfico e no seio de uma família irremediavelmente desfavorecida, ou com quem acredita na reversão mágica ou milagrosa da condição patológica terminal de um ente querido e sofre em demasia quando é golpeada friamente pela realidade.

 

Também por isso, os artistas são uma raça perigosa de seres humanos. São as fontes de onde brota o imaginário coletivo humano, preenchendo a mente humana de idealismos, de utopias, de oásis, de toda uma beleza podre porque construída da matérias de um idílico não vital e não real. É preciso matar as pessoas, a natureza a e existência material (a única verdadeira realidade) para lhes extirpar a beleza mortiça que deixam esculpida no mármore, para sempre frio. Na verdade, os versos são delírios de seres moribundos que se enclausuram na sua redoma de cristal artística, porque já não têm mais saúde para apreciar a beleza da vida. E, então, dedicam-se a desumanizar tudo o que os rodeia, sublimando-o em idealismos inóspitos.

 

A única forma de alguém evitar inteligentemente uma dor desnecessária é de integrar psicologicamente a sabedoria do sensacionismo – do único mecanismo que nos permite perceber verdadeiramente o belo vitalista, do devir -, e o respeito pelas forças e leis naturais para o qual a ciência nos educa.

 

A disposição mental científica transforma a incerteza num contínuo reformular de conhecimento acerca de determinado assunto ou acontecimento com base na coleta sistemática e rigorosa de novos dados e de resultados de experiências dirigidas com critério. Ensina-nos a menosprezar generalizações, aquilo que teimamos a fazer quando extrapolamos positiva ou negativamente de todos os casos com os quais tivemos contacto ao longo da nossa vida, mas que provavelmente são significativamente diferentes entre si. Ensina-nos a dar valor à falseabilidade das nossas hipóteses, descartando aquelas que não podem superar tal prova. E ensina-nos que o que achamos não tem qualquer valor, porque podemos sempre ser ignorantes o suficiente para nos enganarmos redondamente nas nossas previsões.

 

Ricardo Lopes

 

  

 
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