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A maior cerimónia de entrega de prémios de cinema do mundo? Cof…cof…, por Ricardo Lopes

25.01.18 | Luís Garcia
 

 

A maior cerimónia de entrega de prémios de cinem

 

RICARDO MINI copy       

 

Este é um artigo dedicado aos anjolas que não aceitam que se discuta a seguinte afirmação: “Os Oscars são a maior cerimónia de entrega de prémios de cinema do mundo”. Não, com esta gente não se pode discutir tal. É que, com isto, nem sequer se está a negar que os Oscars são a cerimónia de entrega de prémios de cinema mais antiga do mundo. Não, não se está a colocar isto em causa. Também não se está a colocar em causa que é a cerimónia de entrega de prémios de cinema mais conhecido do mundo. Mas claro que a conversa nunca chega sequer a este ponto, porque é impossível para esta gente conceber a possibilidade (que seria apontada por quem, como eu, faz esta crítica, caso se chegasse a esse ponto na discussão) de que o que se está a criticar é o facto de a frase parafraseada muito facilmente transmite a ideia de que Os Oscars são a cerimónia de entrega de prémios de cinema que distingue os melhores filmes do mundo. Não, não são, e é precisamente este ponto que eu coloco em causa.

 

E, nem espero que este artigo seja longo, uma vez que com duas ou três tabelas e gráficos provo o meu ponto sem qualquer possibilidade de que seja rebatido por mera retórica.

 

Então, e como nem sequer é do meu interesse alongar-me neste artigo reportando-me à artificialidade que existe na escolha dos filmes nomeados (que poderia fazer sem problema), nem a quaisquer outros aspetos, como o facto de ser colocada uma muito forte ênfase em categorias meramente técnicas e a esmagadora maioria dos filmes que arrecadam as estatuetas mais cobiçadas e de maior destaque se distribuírem por uma muito limitada variedade de géneros, vou passar diretamente ao que interessa.

 

Criei, eu próprio uma tabela com o número de Oscars de Melhor Filme distribuídos por país. Atenção, advirto para o facto de eu ter aberto a página da Wikipedia de cada filme vencedor individualmente para confirmar (mesmo conhecendo praticamente todos) a nacionalidade.

 

A tabela que obtive foi a seguinte:

 

Oscar de Melhor Filme

EUA

74

Reino Unido

7

EUA/RU

4

RU/India

1

RU/China/Itália

1

EUA/Alemanha

1

França

1

Total

89

 

Logo aqui se repara em coisas muito engraçadas, e que me permitem expandir a minha argumentação.

 

Hum, então os EUA por si próprios, sem a ajuda de ninguém arrecadam 74 de 89 Oscars de Melhor Filme, numa cerimónia realizada…nos EUA! Boa!

 

Mas, claro que alguém pode sempre vir dizer, “Ah, mas isso não prova que os melhores filmes do mundo em 74 anos de cinema não tenham sido americanos!”. Pois não, mas isso eu vou precisar de mais uns pontinhos para desconstruir.

 

E, logo por esta tabela, se começa a reparar em contradições escandalosas. Então, se existe uma categoria para Melhor Filme Estrangeiro (ou Melhor Filme de Língua Estrangeira, antes que venham aí as carpideiras da língua meter-se com preciosismos merdosos), por que raio é que atribuíram um Oscar a um filme francês?

 

“Ai, mas então agora estás a virar o bico ao prego, e a dizer que só deviam ter premiado filmes americanos e britânicos?”. Não, meu menir ambulante! Estou a referir-me à incoerência, porque então para que é que têm uma categoria de Melhor Filme de Língua Estrangeira, e dão o Oscar de Melhor Filme a um…FILME DE LÍNGUA ESTRANGEIRA?! Ah, espera, por esta altura deve vir aí um iluminado do caraças dizer que o filme era mudo, e, portanto, não tinha língua. E eu respondo: vai-te cagar!

 

Mas, isto não fica por aqui. Então, se o problema do pessoal dos Oscars é a língua, onde é que estão os Oscars para filmes que, mesmo sendo de outros países, foram realizados em língua inglesa? Onde está a Austrália? Onde está a Nova Zelândia? Onde está a África do Sul? Hum? Não estão. Aliás, até mesmo o Reino Unido, desgraçadito, por si próprio só ganhou 7 Oscars de Melhor Filme. Outros 4 ganhou com a ajuda dos grandes benfeitores americanos. E, para além disso, ajudou a Índia, a China e a Itália a dividirem um Oscar de Melhor Filme.

 

“Ah, e então porque é que não pode acontecer que os EUA e o Reino Unido tenham ganho virtualmente todos os Oscars, se, afinal de contas, o Oscar de Melhor Filme é apenas para países de língua inglesa?”.

 

Mais uma vez, então porque é que a França ganhou um? Outra, mas a essa já lá vamos, não há hipótese de uma cerimónia que seja verdadeiramente cosmopolita e eclética tivesse uma distribuição deste tipo, tão tendenciosa, e quando comparar esta banhada com Cannes já vão ver, que pelos vistos só mesmo com bonecada é que lá chegam.

 

E, claro, e antes de seguir para o gráfico, e depois para Cannes, deixo apenas mais um argumento. Porque é que numa mesma cerimónia, que é apresentada como a melhor do mundo para este tipo de prémios, há um Oscar para Melhor Filme de Língua Estrangeira (ou Melhor Filme Estrangeiro), e um Oscar para Melhor Filme? Porque não um Oscar para Melhor Filme de Língua Inglesa, ou um Oscar para Melhor Filme Americano ou Britânico? Porque é que não é esse o nome? Não é, porque o Oscar de Melhor Filme é apresentado como sendo o prémio mais importante do mundo de cinema. Ponto. E, quem é que ganha sempre este prémio? Mais de 80% do tempo, americanos, menos de 10% do tempo britânicos, e 1% do tempo um país que não de língua inglesa sozinho. Boa! Portanto, onde é que está a dificuldade em perceber o argumento de que atribuem um prémio a um filme de língua estrangeira (que, já agora, apenas passou a existir em 1947, 19 anos depois de os Oscars terem começado, e acho que qualquer pessoa percebe porquê – dica: politicamente correto e circunstâncias política), e diferenciam esse prémio do melhor prémio de todos que é sempre atribuído a um filme americano ou britânico.

 

“Ai, mas não é sempre, como tu próprio demonstras aqui.”

 

Cale-se, seu labrego com capacidade lógica de um grão de arroz! É virtualmente sempre, ou é preciso utilizar a mesma linguagem que se usa com putos de 3 anos ou autistas de baixa capacidade intelectual?

 

Por isso, meus caros, não sou eu a querer ser politicamente correto, e também não sou eu a dizer que esta borrada é feita de forma consciente por quem cria e decide os prémios. Não! Sou eu a denunciar esta palhaçada, esta incoerência tremenda!

 

Mas, enfim, e como isto já vai com texto a mais para uma mente que não consegue processar argumentos tão simples, aqui fica o respetivo gráfico:

 

grafico1.jpg

  

Mais uma vez, sigam cada um dos meus argumentos com este gráfico à frente, e digam-me depois onde é que falta validade a algum deles.

 

Mas, agora, vamos passar ao Festival de Cannes que, apesar de ter começado 11 anos depois dos Oscars, e ter sido interrompido entre os anos de 1940 e 1945 (não sei, talvez porque os europeus andavam a ser dizimados por uma guerra mundial, que nunca chegou a território oficialmente americano, exceto no muito pequeno ataque que aconteceu em Pearl Harbor, e tinham mais que fazer do que andar preocupados com dar prémios a filmes), já atribuiu prémios máximos quase no mesmo número que os Oscars (86 para 89 dos Oscars). Mas, para o caso, nem é isso que interessa particularmente, exceto pelo facto de, por serem números tão próximos, se poder estabelecer uma comparação estatística sem problemas.

 

Portanto, temos, como o que é culturalmente aceite, os Oscars como a “maior cerimónia de entrega de prémios de cinema do mundo”. E já vimos a distribuição de nacionalidade dos filmes para o Oscar de Melhor Filme. Ah, já agora, não fiz o mesmo tratamento estatístico para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (ou Filme de Língua Estrangeira) porque não me pareceu relevante depois de ter desconstruído argumentativamente a palhaçada que é a dicotomia entre os dois prémios dos Oscars.

 

E, depois, temos a distribuição da Palme D’Or (ou do Grande Prix du Festival International du Film, como foi designado algumas vezes), que é esta:

 

Palma de Ouro

Grand Prix du Festival International du Film

 

EUA

18

URSS

2

Checoslováquia

1

Suíça

1

Suécia

3

México

2

Itália

12

Índia

1

Reino Unido

10

França

10

Dinamarca

4

Japão

4

Brasil

1

Argélia

1

Alemanha Ocidental

2

Polónia

1

Grécia

2

Turquia

2

Jugoslávia

1

China

1

Nova Zelândia

1

Sérvia e Montenegro

1

Irão

1

Bélgica

2

França/Polónia

1

Roménia

1

Áustria

2

Tailândia

1

França/Tunísia

1

Total

90

 

E que resulta no seguinte gráfico:

 

grafico2.jpg

 

Meus caros, após ter apresentado os argumentos baseados em dados estatísticos (não opiniões, mas ciência), é mesmo necessário extar a explicar no que me baseio para dizer que um festival como o de Cannes é bem mais cosmopolita, bem mais eclético, e que merecia muito mais do que os Oscars ser considerado “a maior cerimónia de entrega de prémios de cinema do mundo”? É que para isto nem preciso de considerar o facto de este festival durar mais de uma semana, e incluir a projeção de filmes dos quatro cantos do planeta, de todos os continentes e nomear filmes de uma enorme variedade de nacionalidades para TODAS AS CATEGORIAS.

 

Uma última estatística, relativa à Palme D’Or honorária:

 

Palma de Ouro Honorária

EUA

3

Portugal

1

Itália

1

França

2

 

Agora, comparem as tabelas e os gráficos. Vá, façam isso! Façam isso, e depois voltem com a cara de pau ligada ao máximo para me dizer que eu estou errado! Aliás, até o podem fazer, mas terão de ter estes dados em consideração e utilizá-los nos vossos argumentos. Boa sorte!

 

Ricardo Lopes

 

A ver sobre o tema: 

 

(veja aqui as fontes deste video) 

 

 
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