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À boleia da Macedónia à Bulgária, por Luís Garcia

06.02.17 | Luís Garcia
 

 

DOS BALCÃS AO CÁUCASO – EPISÓDIO 12  

À boleia da Macedónia à Bulgária

 

bw  VIAGENS  Luís Garcia        

Estou bem, aonde não estou, porque eu só quero ir, aonde eu não vou, porque eu só estou bem, aonde não estou, porque eu só quero ir, aonde eu não vou, porque eu só estou bem... aonde não estou. (Estou Além, António Variações)

 

18.06.2014

Acordar num jardim à beira de um precipício com vista para o lago Ohrid é o que se pode chamar de Campismo 5 Estrelas! E gratuito, pois claro. Para completar o cenário idílico, estreámos o nosso novo fogão no qual preparámos café turco para aquecer e despertar o corpo, enquanto sentados no muro observávamos a maravilha de paisagem do lago Ohrid e das montanhas macedónias e albanesas em volta.

 

De volta à cidade telefonámos a Ibrahim e combinámos um encontro na esperança que ele nos arranjasse uma boleia para a Turquia num camião de amigos seus turcos, tal como prometera tentar. Mas não, não deu em nada. Em contrapartida convidou-nos uma vez mais a almoçar no centro, onde demos com uma situação muito estranha: em plena praça central de uma das maiores cidades macedónias desfilavam em estilo militar uma multidão de escuteiros turcos da macedónia, com símbolos turcos por todo o lado, inclusive uma enorme bandeira turca! Que confusão este país! Ainda ontem tínhamos encontrado várias bandeiras albanesas espalhadas um pouco por todo lado!

 

 

 

Do centro fomos a pé até à saída norte da cidade, onde apanhámos uma boleia para Bitola. Em Bitola, sem sabermos, fomos largados na saída sul da cidade. Em poucos minutos apercebemo-nos do facto e concluímos que dali não arranjaríamos tão depressa boleia em direcção a nordeste (Bulgária). Porquê? Porque quem fosse de Bitola para a capital sairia pela estrada nordeste e não sul, e na saída do sul apenas passavam carros em direcção a Ohrid (de onde tínhamos vindo há pouco). Sem demoras recomeçámos a boleia na estrada ao lado, rumo ao centro da cidade, e um minuto depois passou um simpático senhor que ia para o centro mas que gentilmente nos levou até à saída nordeste (que nós pretendíamos), fazendo para tal uns quilómetros extra! Que altruísmo! Que simpatia! Pouco tempo depois apanhámos outra boleia para a grande cidade seguinte: Prilep.

 

Uns minutos antes de chegar a Prilep começou uma enorme tempestade. Quando saímos do carro a chuva já tinha parado, para voltar 2 minutos depois de forma ainda mais violenta. Corremos que nem loucos para fugir à chuva, de malas às costas, em direcção a um armazém industrial que, quando lá chegámos, descobrimos estar fechado com portões. Aguentámos um pouco encostados aos portões mas a tempestade que ia aumentando de intensidade obrigou-nos a saltar os portões e invadir propriedade privada. Agora estávamos abrigados da chuva, mas entalados num imundo armazém de serralharia. Esperámos imenso, no entanto a tempestade teimava em continuar. Concluímos que iríamos ficar por ali. O problema seria montar a tenda naquela imundice, ainda mais em propriedade industrial privada. Desesperados, escondemos-se atrás da entrada do escritório e acendemos o nosso fogão para fazer uma sopa. A água ainda não estava quente quanto de repente apareceu um sol intenso e a chuva e vento tinham cessado! Se fosse crente diria ter se tratado de um milagre. Descrente que sou, digo que “tivemos cá uma sorte”!

 

E claro, voltámos à estrada, chateados pelo imenso tempo perdido, seguros que já não alcançaríamos a Bulgária neste dia, pois começava a entardecer. Mas não, milagre!, um camião conduzido pelo amável Atanas, cidadão búlgaro, recolheu-nos e levou-nos numa viagem de mais de 200 km para a sua terra natal Sandanski, na Bulgária! “Que sorte”!!! Enquanto ouve luz olhámos maravilhados a cadeia montanhosa que constitui a fronteira natural entre a Bulgária e a Grécia ali mesmo ao lado. Já noite chegámos à fronteira onde tive que aturar a paralisia mental de uma guarda fronteiriço búlgaro. Um déjà vu esperado, afinal, não há visita à Bulgária sem apanhar com filmes de polícias búlgaros! O raio do guarda fronteiriço, imagine-se, lembrou-se de me colocar uma série de questões do género “de onde vens”, “para onde vais”, “que pretendes fazer no meu país”, etc!!! Ah, que imbecilidade, ainda ninguém explicou a este otário que a Bulgária faz parte da UE e que eu tenho o direito de entrar e ficar o tempo que me apetecer na Bulgária, fazendo o que me apetecer, sem prestar quaisquer explicações? Parecia que estava a entrar na Coreia do Norte ou no Turcomenistão, mas não, tecnicamente estava a sair de um país estrangeiro (Macedónia) e voltar ao meu território nacional da União Europeia. Enfim, respondi divertido a todas as perguntas, curioso por ver até onde iria a estupidez do jovem senhor! 

 

 

Por volta das 10h da noite estávamos por fim em Sandanski, onde trocámos de camião para um carro de 2 lugares numa garagem da zona industrial, e daí fomos até ao centro, Claire sentada ao lado do condutor, eu fechado dentro da caixa, hehe! No centro, demos-se ao luxo de cozinhar com o nosso novo fogão numas escadas de um jardim, onde jantámos. Para acabar em bem o dia, encontrámos um jardim limpíssimo, com relva, árvores para proteger a tenda da chuva e arbustos para tapar a tenda. Perfeito, podíamos assim dormir no centro do centro, em conforto e segurança, e sem que ninguém desse por nós!

 

Álbuns de fotografia

 

Luís Garcia, 05.02.2017, Chengdu, China

 

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Dos Balcãs ao Cáucaso

 

 

 
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