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À boleia da Bulgária à Turquia, por Luís Garcia

24.02.17 | Luís Garcia
 

 

DOS BALCÃS AO CÁUCASO – EPISÓDIO 14  

À boleia da Bulgária à Turquia

 

bw  VIAGENS  Luís Garcia        

Estou bem, aonde não estou, porque eu só quero ir, aonde eu não vou, porque eu só estou bem, aonde não estou, porque eu só quero ir, aonde eu não vou, porque eu só estou bem... aonde não estou. (Estou Além, António Variações)

 

20.06.2014

A manhã começou mal, com alguém a bater na tenda às 6h da manhã. Era um velho cigano, de bengala, pedindo tabaco. Mandámo-lo embora e tentámos em vão adormecer de novo. O sol já brilhava (e muito) e o tráfego intenso de carros e camiões na estrada ali mesmo ao lado era ensurdecedor. Para continuar em onda negativa, fomos descobrir que nós e a tenda estávamos enterrados em lama. Limpar a tenda e a nós próprios numa poça de água, andando entretanto para trás e para a frente encima de mais lama… ahhh, que filme, o que costuma levar 5 minutos levou 1 hora!

 

Antes de recomeçar a boleia voltámos à mesma estação de serviço do dia anterior, para espanto dos mesmos 2 funcionários que lá estavam há 10 horas atrás. Sem quaisquer problemas pegámos em toalhas, gel de duche, escova de dentes e fomos para as casas-de-banho nos limpar um pouco. Afinal, os dias passam e banho nada!

 

Depois de pseudo-banhos e pequeno-almoço (salvé ó mini-fogão!) começámos a boleia ali mesmo, ao lado da estação. Fomos levados pouco tempo depois por um turco da Bulgária e uma búlgara, ambos advogados atrasados para um encontro com clientes na Grécia, uma empresa de transporte de mercadorias acusada de fazer entrar emigrantes ilegais dentro do espaço Schengen. Apesar do enorme atraso e dos constantes telefonemas do patrão, insistiram em nos levar à fronteira turco-búlgara, conduzindo a uma velocidade louca por entre uma infinidade de camiões de mercadorias deslocando-se sobre uma estrada completamente destruída. Com esse vai-e-vem até à fronteira fizeram 30 km extra e perderam imenso tempo precioso. O melhor foi no fim, quando ao despedirem-se, estes 2 jovens advogados com uma boa carreira e bem-sucedidos na vida nos disseram. “ah, como vos invejamos tanto, quem no dera poder fazer o mesmo que vós”! E podem, melhor e mais que nós, respondemos eu e Claire…

 

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Eu, Claire e a advogada búlgara que nos deu boleia até à fronteira búlgaro-turca

 

Na fronteira, em Kapikule, a burocracia do costume, com a vantagem de estar a entrar na Turquia, um país onde mesmo nos postos fronteiriços podemos rir, conversar e tirar fotos com os guardas de serviço. Toda a gente quis nos vir dar as boas-vindas, inclusive saindo dos gabinetes para nos vir cumprimentar! Que excelente recepção!

 

Atravessada a fronteira, foi o “choque esperado”, pois não sendo a nossa primeira visita à Turquia, a mudança radical de cores, cheiros, formas, caras, costumes… prende de facto a atenção do forasteiro acabado de chegar. Além do mais sentimos o agradável contraste de passar de uma Bulgária encardida de uma sujidade urbana pós-industrial, para uma Turquia limpa, cheia de jardins e flores, cheirando bem a Médio-Oriente (ainda que Kapikule se encontre bem dentro do continente europeu)!

 

De Kapikule fomos à boleia até à entrada de Edirne, onde apanhámos outra boleia de imediato para a saída da cidade rumo a Istambul. Daí apanhámos boleia de um velhinho muito simpático que nos levou ate Çorlu, onde nos pagou 2 chás a cada e ofereceu uma garrafa de água grande e fresca. Pelo que percebemos o seu filho é piloto de aviação na SunExpress, de modos que tem a enorme sorte de viajar de graça frequentemente um pouco por todo lado na Europa e Médio-Oriente! Insistiu imenso para virmos com ele até Antalya, onde nos daria casa e comida e nos apresentaria a família, mas não, tínhamos outros planos, uma rota bem distinta e amigos à espera em Istambul “ali mesmo ao lado”.

 

Em Çorlu, quando saímos do camião do velhinho em plena auto-estrada, demos com outro camião ao lado e com o condutor de fora a falar ao telemóvel. Fomos falar com ele e voilá, boleia para Istambul! Uma vez mais fomos encontrar uma adorável pessoa que fez tudo o que pode por nós, necessário ou extra-ordinário:

  • Para começar arranjou-nos contactos de amigos em Antalya, uma cidade muito turística no sul, onde ele julga que poderíamos facilmente arranjar trabalho muito bem pago (dado que falamos inglês, francês e espanhol). 
  • Depois convidou-nos e insistiu para que viéssemos com ele a Adana, a sua terra natal que conhecemos bem de outras viagens e onde temos também amigos. Apesar da amável insistência recusámos, guardando os contactos para uma eventual visita a acontecer mais tarde;
  • Para nossa enorme surpresa, ficámos a saber que viajou imenso pela Ásia Central (em trabalho) e que conhece imensos sítios a visitar em países da nossa lista de países a visitar como o Cazaquistão, Usbequistão ou Tajiquistão. 
  • Parou numa estação de combustível para nos comprar sumos;
  • Nos subúrbios longínquos de Istambul, levou-nos a beber café no parque de camiões onde iria passar o resto do dia. Em seguida foi esperar connosco na paragem onde apanhámos um autocarro directo para o centro da cidade (perto da casa dos nossos amigos), bilhetes pagos por ele, como é óbvio! Afinal, estamos na Turquia!

 

Um grande dia, sem dúvida!

 

Álbuns de fotografia

Luís Garcia, 24.02.2017, Chengdu, China

 

Se quiser ler mais estórias desta viajem clique em:

Dos Balcãs ao Cáucaso

 

 

 
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